A SOCIEDADE QUE INFANTILIZA MULHERES E SEXUALIZA MENINAS
Este artigo
de Lisa Wade é um pouco antigo, mas chamou a minha atenção. Então eu
pedi pra incansável Elis traduzi-lo, e ela, mais uma vez, aceitou (super
obrigada, Elis!). Ver Lola
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Editorial de moda da Vogue Brasil trouxe meninas de 9 anos em poses sexy |
De vez em quando, a
mídia se interessa pela sexualização de menininhas e, quando acontece,
eu recebo telefonemas de um ou dois repórteres. Nenhum deles resolveu
ainda falar sobre o tema que eu considero realmente interessante. Eles
querem falar sobre crianças modelos, menininhas em concursos de beleza e os anos de transição da adolescência das estrelas prodígio da Disney, mas eu sempre quero acrescentar o tema da infantilização de mulheres adultas.
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Adulta fantasiada de Alice |
A sexualização de
meninas e a infantilização de mulheres são dois lados da mesma moeda.
São duas maneiras de achar que devemos considerar a juventude, a
inexperiência e a inocência características sexy nas mulheres, mas não
nos homens. Isso reforça a diferença de poder e status entre homens e
mulheres, em que vulnerabilidade, fraqueza e dependência e seus opostos
são traços de gênero: desejáveis em um sexo, mas não no outro.
Agora, graças a @BonneZ, eu sei que há uma conexão interessante entre isso e Mickey Mouse.
O rato original, observou
Stephen Jay Gould, era uma figura meio grosseira. Mas, conforme evoluiu
até se tornar o “gracioso e inofensivo anfitrião de um reino mágico”,
sua aparência se tornou cada vez mais infantil. As seis imagens abaixo
demonstram a evolução de Mickey com o passar do tempo:
Traços infantis, Gould argumenta, inspiram a necessidade de cuidar:
“Quando vemos um
ser vivo com traços semelhantes aos de um bebê”, ele escreve, “surge
automaticamente um sentimento de ternura que nos desarma.” Allison Guy observa que é possível notar uma tendência semelhante em recentes reformulações
de brinquedos -– olhos e cabeças maiores, membros mais roliços --, e a
tendência é ainda mais notável em brinquedos para crianças pequenas e
meninas, não para meninos:
Guy interpreta essa
tendência como o “resultado de um imperativo cultural de que mulheres
incorporem tanto a beleza quanto a graciosidade.”
Sendo assim,
mulheres vestem roupas “graciosas” com estampas coloridas associadas a
crianças, usam saias de pregas e camisetas baby look. Elas usam
delineador para dar a ilusão de olhos maiores como os de crianças, base
para esconder as marcas do envelhecimento no rosto e blush para
reproduzir a coloração avermelhada da juventude. Esses imperativos são
aprendidos desde cedo.

Talvez esses traços infantis sejam mais reconfortantes em mulheres que são, de fato, as menos vulneráveis;
eu diria que aceitamos melhor mulheres poderosas que exibem traços de
uma beleza infantil. Quando não o fazem, elas frequentemente são vistas
como ameaçadoras ou antipáticas.
Então, sim, a
sexualização de meninas é interessante -– e certamente não é bom para as
meninas e provavelmente contribui para o interesse sexual de homens
mais velhos por mulheres jovens -– mas não se trata apenas de sexualizar
as crianças muito cedo. Trata-se também de infantilizar mulheres
adultas como uma forma de lembrar às mulheres qual é sua posição social
prescrita com relação aos homens.
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