terça-feira, 30 de dezembro de 2014

 

A vitória dos mineiros na indicação da Ministra da Secretaria de Políticas Públicas para a Igualdade Racial



Ivair Augusto dos Santos
A indicação da Professora Dra. Nilma Lino Gomes é uma vitória ao trabalho e competência política dos mineiros e dos negros que ocupam cargo no Ministério da Educação. A equipe do Ministério da Educação realizou um trabalho político silencioso e competente. Com as bênçãos do Ministro da Casa Civil. A Professora Nilma vai deixar a Reitoria da Unilab, após anunciar a criação de um Hospital na região e da criação do curso de Medicina, sem sombra de dúvida um sinal de competência política.
A escolha de Nilma para um Ministério com a presença de aliados políticos de peso capazes de conter o ímpeto conservador do Congresso e o ano difícil na economia é uma vitória. Os movimentos sociais não influenciaram na escolha dos Ministros, embora trabalhassem na sua maioria pela permanência de Dilma no comando do Governo.
O desempenho dos candidatos negros nas eleições para deputados federais apresentou um declínio em diversos estados como São Paulo, com a não eleição da deputada Janete Pietá e o cantor Netinho; no Rio de Janeiro, Edson Santos, que havia ocupado o cargo de Ministro da SEPPIR; na Bahia o deputado Luiz Alberto, que tem sua origem no movimento negro.
Com uma representação tão reduzida no Congresso fica difícil imaginar que os negros tenham capacidade de influenciar na escolha dos Ministros. A sociedade também não se incomoda se há ou não ministros negros no Governo. Setores da sociedade, localizados na população negra, esperam que haja o reconhecimento de que mais negros possam vir a ocupar cargos no primeiro escalão. Dilma tem sido pragmática, quer governar com controle do Congresso, mas os negros não têm deputados suficientes para se fazerem ouvir nessa composição.
A indicação da Professora de Minas Gerais, Nilma Melo, mostra que o Governador de Minas Gerais deve ter sido ouvido, e a sua saída da Reitoria da Unilab abre um lugar para nomeação para o Ministro da Educação no seu Estado do Ceará.
Mas, ao olhar para os Ministros indicados para o 2º mandato da Presidenta Dilma, vislumbra-se um cenário difícil para as políticas voltadas para a população negra. Um Ministério conservador, um Congresso não menos conservador. Podemos esperar um cenário de dificuldades e de recuos nas políticas para os quilombolas e para o avanço dos programas de ações afirmativas. Desejar boa sorte a Nilma será pouco. Há que se fazer muita política na Esplanada e no Congresso.

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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

 

Liberidade de expressão?? J. Carlos de Assis: O ponto onde convergem Venina e o MH17 derrubado na Ucrânia


Carta Maior


Sabe-se agora, com certeza, que o MH17 foi derrubado por forças de Kiev. Sabe-se agora que Venina, antes de ser denunciante, foi ela própria denunciada.


J. Carlos de Assis*
Roman Boed / Flickr
Há uma coisa em comum entre a denúncia norte-americana de que o voo MH17 da Malásia foi derrubado por insurgentes ucranianos ligados a Moscou e a denúncia de Venina de que a presidente da Petrobras, Graça Foster, não deu ouvidos a suas denúncias de irregularidades na empresa: nos dois casos, a uma campanha maciça da imprensa para validar as denúncias sucedeu, em poucos dias, o mais estrondoso silêncio. No caso de Venina, só falam agora no assunto os que a ridicularizam, com razão. No caso do MH17, o silêncio é total.
 
Esses dois casos ilustram muito bem o papel que a “liberdade” de imprensa vem exercendo em nosso tempo. É um instrumento sobretudo de manipulação da opinião pública. Os manipuladores contam com a falta de espírito crítico da sociedade, o que, por sua vez, justifica-se exatamente pela ausência de noticiário imparcial sobre acontecimentos com valor político e estratégico. Sabe-se agora, com certeza, que o MH17 foi derrubado por forças de Kiev. Sabe-se agora que Venina, antes de ser denunciante, foi ela própria denunciada.
 
A ausência recente na imprensa ocidental de notícias sobre o monstruoso ataque ao MH17, um avião civil derrubado provavelmente por um míssil ou por um caça de Kiev sobre o Leste da Ucrânia, é a maior evidência do esgotamento da estratégia de exaustão de uma versão destinada a cobrir os fatos reais com uma máscara favorável. Eu costumava ouvir de um grande manipulador da imprensa brasileira a observação de que “o importante é a versão, não o fato”. Assim, para “plantar uma versão”, era necessário divulgá-la antes dos fatos.
 
Putin atribuiu formalmente a Kiev a responsabilidade pelo crime numa reunião com personalidades estrangeiras na Rússia, mas a imprensa ocidental praticamente o ignorou. Uma vez estabelecida a versão é extremamente difícil retificá-la. Mesmo porque, no caso do MH17, estão envolvidos aspectos técnicos de difícil aferição por internautas. Os internautas, que são hoje a consciência crítica da grande mídia, não tem como penetrar em alguns de seus segredos, exceto numa situação em que interfere o gênio de um Wikileaks.
 
O desmascaramento de Venina tem sido uma operação relativamente mais fácil. Os internautas se lançaram a investigações próprias, independentes dos grandes jornais e tevês, para descobrir que a moça estava sendo processada pela Petrobras por incompetência ou má fé no acompanhamento de contratos na construção de Abreu e Lima; que tinha feito contratos sem licitação com o então marido ou namorado, algo que nem o jornal Valor, nem a TV Globo cuidaram de revelar em suas bombásticas entrevistas na versão original.
 
Sim, houve uma denúncia de Venina fundamentada. Relacionava-se com contratos superfaturados na área de comunicação, mas em 2008. A denúncia gerou uma comissão de inquérito da qual resultou a comprovação do superfaturamento e a demissão do responsável. Na interpretação de um jornalista da Globo, isso lhe dava credibilidade para fazer as outras denúncias. Mas quais denúncias? Tudo o que ela disse no Valor, e repetido na Globo, eram ilações vagas, inclusive a alegação de que exortara Graça Foster das irregularidades.
 
Se a Lava Jato seguir o curso retilíneo que vem seguindo até aqui, não se admirem se Venina vier a ser condenada por irregularidades na Abreu e Lima, das quais há indícios fortes no relatório da comissão de inquérito da própria Petrobras sobre o assunto, já entregue ao Ministério Público. Ela disse insistentemente que ia “até o fim”.  Estamos aguardando que fim é esse. O fato é que até mesmo os jornalões e a Globo perceberam que deram um tiro na água. Daí seu significativo silêncio. Não é nada diferente do silêncio da imprensa ocidental sobre o avião derrubado no Leste da Ucrânia. E esse é o preço que a gente tem que pagar pelo valor supremo da liberdade de imprensa, agora felizmente vigiado pelos internautas.


*Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

 

Um outro olhar sobre as perdas da Petrobrás. O efeito da queda do preço do petróleo na Rússia, por Olga Shedrova


Enviado por Almeida publicado no GGN
Será a arma do preço do petróleo realmente eficaz contra a Rússia?
Por Olga Shedrova
Do Resistir.info
Os EUA estão empenhados em actividades um tanto dúbias quando tentam prejudicar a economia da Rússia através da queda dos preços mundiais do petróleo. 
Os Estados Unidos assumiram o comando como o maior produtor mundial, juntamente com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e a Rússia. A nova tecnologia do fracking é mais dispendiosa do que a extracção pelos métodos convencionais e não é lucrativa com preços a deslizarem para menos de 60-70 dólares por barril. A queda dos preços do petróleo deita abaixo o valor companhias por acções. Em três meses os preços das acções de companhias conhecidas como veículos condutores da "revolução energética" deslizaram em média 40%. As líderes, tais como Apache Corp (APA), ConocoPhillips (COP), EnerJex Resources Inc. (ENRJ), Marathon Oil (MRO), Continental (CLR), Noble Energy (NBL), Southwestern Energy (SWN), Anadarko (APC), Pioneer Natural Resources (PXD) tiveram os preços das suas acções afundados em 30-50% em comparação com o máximo alcançado em meados de 2014. O processo continua. A dinâmica dos preços das acções assemelha-se a bolhas esvaziadas. No mês de Novembro o mergulho dos preços do petróleo provocou uma queda de quase 40% nas permissões de novos furos emitidas nos Estados Unidos, em relação ao mês de Outubro. A retirada foi uma "resposta muito rápida" aos preços do petróleo bruto nos EUA, disse Allen Gilmer, responsável executivo chefe da Drilling Info Inc. . A perfuração offshore também está a ser afectada. A Transocean, a proprietária da maior frota de plataformas de perfuração em águas profundas, recentemente assumiu um prejuízo de US$2,76 mil milhões devido a um excesso de plataformas. A política de Washington destinada a deitar abaixo os preços do petróleo pode afectar negativamente a economia dos EUA tornando o processo uma tendência irreversível. A queda limita o acesso de companhias de energia estado-unidenses aos mercados de capitais. 
Desde o princípio de 2010 os produtores de energia levantaram US$550 mil milhões em novos títulos e empréstimos quando o Federal Reserve mantinha os custos de contracção de empréstimos próximos do zero, segundo o Deutsche Bank AG. Com os preços do petróleo mergulharem os investidores estão a questionar a capacidade de alguns emissores de títulos lixo para cumprirem suas obrigações de dívida. Há um círculo vicioso. A lucratividade mais baixa reduz a capitalização da companhia fazendo-a vender activos para evitar a bancarrota. Isto provoca novas perdas de activos com a comercialização de acções a afundar-se e, a seguir, o resultado é o fracasso no reembolso de empréstimos pois o valor dos activos fica reduzido. As perspectivas da Agência Internacional de Energia (IEA) e da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para 2015 prevêem a mais baixa procura de petróleo dos últimos 12 anos. A notícia remete as acções para um mergulho a pique levando à erosão de US$1 milhão de milhões (trillion) em capitalização de mercado nos mercados globais em uma semana. 
Um surto de falências em companhias de energia realmente preocupa peritos da Wall Street. Isto podia ter efeitos através de todo o sistema financeiro e dar um golpe contundente nos bancos. "Não há dúvida de que para companhias de energia com perfis de dívida mais arriscados o mercado de dívida de alto rendimento (high-yield) "está basicamente encerrado nesta etapa e há sinais de que novas aflições poderiam atingir este sector", diz o estratega senior em rendimentos fixados do U.S. Bank Wealth Management, Dan Heckman. Ele acrescenta: "Estamos a chegar a um ponto que se está a tornar muito preocupante". Sua opinião é compartilhada por Jacques Sapir, responsável do Centre d'Etudes des Modes d'Industrialization (CEMI-EHESS), o qual afirmou à Europe 1 que "A queda dos preços do petróleo poderia ter graves consequências para a extracção do gás de shale, de líquidos de shales carbonáceos e das chamadas areias betuminosas. Hoje a produção já não é mais lucrativa. Os produtores receberam grandes empréstimos de bancos americanos. A situação cria condições para o colapso do sector bancário dos EUA.
Em consequência, o colapso atingirá fundos de pensões, investidores privados e os haveres em títulos lixo da banca – investimentos de risco que têm potencial para proporcionar alto rendimento – provocando um efeito dilacerante por todo o sistema financeiro e tornando inevitável a repetição da crise de 2008-2009. 
Segundo The Prudent Bear, "Bancarrotas no sector da energia – muitas das quais resultarão em capacidade de produção a ser retirada do mercado – e a subsequente terciarização da capacidade manufactureira intensiva em energia provavelmente causarão danos que pesam muito mais do que qualquer benefício do acréscimo de consumo. A destruição de capital através da bancarrota reduz a riqueza da sociedade, a qual reduz o montante de capital disponível para cada trabalhador. Isto por sua vez reduzirá os padrões de vida a longo prazo dos próprios trabalhadores (e na verdade a sua capacidade para consumir). O consumo adicional , grande parte do qual será gasto em importações, não traz benefício que seja sequer aproximado do mesmo nível de importância". A produção de energia shale criou novos postos de trabalho. Estados petrolíferos acrescentaram 1,36 milhões de empregos desde Dezembro de 2007 ao passo que estados não-shale perderam 424 mil empregos". 
Concentrados em ferir a Rússia, os americanos deixam de ver o que está a acontecer no seu próprio quintal. 
Em 9 de Novembro, o Guardian escreveu : "John Kerry, o secretário de Estado dos EUA, alegadamente fechou um negócio com o rei Abdullah no mês de Setembro pelo qual os sauditas venderiam petróleo bruto abaixo do preço prevalecente no mercado. Isso ajudaria a explicar porque o preço tem estado a cair no momento em que, dada a tempestade no Iraque e na Síria provocada pelo Estado Islâmico, ele normalmente teria estado em ascensão". O conluio destina-se a enfraquecer a Rússia e golpear o Irão. A Arábia Saudita precisa que o preço esteja acima dos US$90 por barril para equilibrar suas contas. Mas um bocado de sofrimento é aceitável. Os sauditas estão a apostar em que poderão viver com um preço baixo por mais tempo do que os russos e os iranianos podem e que, portanto, a operação será por um período relativamente limitado. Mas até aqui isso não afectou a política externa nem da Rússia nem do Irã.
Tudo indica que os estados do Golfo Pérsico parecem sofrer mais. O custo de produção da Arábia Saudita é o mais baixo, mas as coisas são muito piores para os seus parceiros. A previsão da OPEP de 21 de Dezembro diz que a situação no mercado petrolífero está em vias de dar uma viragem e fazer os preços do "ouro negro" subirem outra vez. Evidentemente as declarações feitas por produtores de petróleo estão cheias de exasperação. 
A Arábia Saudita, o principal exportador mundial de petróleo, disse em 21 de Dezembro que não cortaria a produção para apoiar mercados petrolíferos mesmo se nações fora da OPEP assim o fizessem, num dos mais fortes sinais de que planeia enfrentar a maior depressão de mercado em muitos anos. Ao falar numa conferência de energia em Abu Dhabi, o ministro saudita do Petróleo, Ali al-Naimi, culpou uma falta de coordenação dos produtores fora da OPEP – bem como os especuladores e informação enganosa – pela depressão. Disse ele: "A Arábia Saudita, com os demais países da OPEP, tentou restaurar o equilíbrio no mercado, mas a falta de cooperação dos países fora da OPEP bem como os especuladores e a propagação de informação incorrecta, levou à queda de preços". O ministro do Petróleo dos Emirados Árabes Unidos, Suhail Mohamed Faraj Al Mazrouei disse o mesmo mais directamente declarando que uma das maiores razões que levaram à deterioração nos preços é a irresponsável produção de petróleo de alguns organismos não membros, alguns dos quais são novos no mercado de petróleo. Evidentemente ele refere-se aos Estados Unidos, responsáveis pela promoção de ofertas de shale oil nos últimos anos. 
Há razões para acreditar que apesar de apoiar abertamente os Estados Unidos a Arábia Saudita joga o seu próprio jogo destinado a esmagar os competidores, incluindo a América, do mercado. Há algum tempo Riad costumava dizer que membros da OPEP não cortariam produção mesmo se o preço mergulhasse para os US$40 por barril. Com os preços a afundarem os produtores tradicionais de petróleo têm suficientes reservas para aguentarem isso através de um período de frugalidade ao passo que à indústria do shale dos EUA será aplicada uma bofetada mortal para que nunca mais se recupere. 
As tendências económicas negativas já são visíveis nos EUA ao passo que a Rússia nem mesmo começou a tomar contra-medidas no momento em que grassa a guerra económica contra ela desencadeada. Há um vasto leque de opções abertas à Rússia. Ao ficarem fascinados pelas flutuações da divisa russa, os Estados Unidos não prestam atenção a coisas como a queda de preços nas suas bolsas de valores ou a política ambígua dos seus aliados. 
Aqui não se pode senão concordar com as avaliações de Marin Katusa , da Chief Energy Investment Strategist, que diz: "É verdade que sanções poderiam tornar mais difícil para firmas russas terem acesso a know-how ocidental e, em última análise, afectar a produção petrolífera russa. Mas isso só se elas se arrastarem durante anos – o que é duvidoso, dado o preço que a UE já está a pagar. Um corte global na oferta de petróleo – e ainda mais forte no crescimento global – provavelmente reequilibrará o mercado petrolífero nesse ínterim". Os compradores de petróleo russo podem pagar em ouro, eles não precisam das notas verde. Não é preciso explicar o que está reservado ao dólar americano caso o façam. Os produtores russos de petróleo obtêm dólares pelas suas exportações e pagam impostos em rublos. Isto significa que nenhuma queda abrupta de receitas fiscais está iminente na Rússia. A Federação Russa pode também comutar para a utilização de rublos nos acertos do comércio de petróleo para depreciar o US dólar e promover a procura global da sua divisa nacional. 

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Muito bom!!!! Paulo Moreira Leite A piada do bolivarianismo patronal


Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:via Blog do Mirohttp://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/12/a-piada-do-bolivarianismo-patronal.html?spref=tw

A demissão de João Paulo Cunha, editor de cultura do jornal Estado de Minas, publicação de maior circulação naquele estado, ajuda a colocar um traço de realismo ao debate sobre liberdade de imprensa no Brasil.

É uma piada pronta, que ajuda a lembrar que vivemos um regime que deveria ser definido como bolivarianismo patronal.

Todos lembram de uma noite recente em São Paulo, quando jornalistas subiram ao palco de uma cerimônia de premiação para dizer em tom dramático: “não ao controle social da mídia.” É disso que estamos falando.

Embora estejamos falando de um direito constitucional, na vida real da imensa maioria de jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV do país o exercício da liberdade de expressão vive limitado por uma prerrogativa de classe.

Pode ser exercida pelos donos da empresa, seus familiares e uma pequena elite de profissionais autorizados. E só.

Aos demais jornalistas está reservada a função de apurar o que pedem e escrever o que mandam, num regime de cima para baixo que não é exagero comparar com hierarquia militar.

A linguagem panfletária, editorializada, reflete a falta de debate interno. A edição seletiva, dirigida para ressaltar um ponto de vista pré-definido, expressa a mesma situação.

Profissional diferenciado, há 18 anos no Estado de Minas, João Paulo pediu demissão ao ser informado pela direção da publicação que não estava mais autorizado a escrever sobre assuntos políticos.

A decisão foi tomada depois da publicação de um artigo no qual o autor ousava fazer uma observação em tom crítico ao senador e ex-candidato presidencial Aécio Neves. Convém atentar para dois detalhes. O artigo foi publicado em 12 de dezembro de 2014, ou seja, um mês e meio depois que Aécio já tinha sido derrotado por Dilma Rousseff, quando os votos já haviam sido contados e o resultado da eleição já fora anunciado. Seria impossível, portanto, imaginar que João Paulo tivesses a intenção de usar as páginas do Estado de Minas para pedir votos para a adversária de Aécio nas páginas de um jornal que defende a candidatura presidencial do senador mineiro desde 2010, quando ele sequer concorria ao Planalto.

Outro aspecto é que não se trata de um artigo que julgasse Aécio Neves como um político bom ou ruim. Fazia uma crítica a sua postura depois da derrota, quando Aécio e o PSDB partiram para a ignorância: tentaram impugnar as urnas e estimularam protestos que pediam golpe de Estado. Num texto denso, refletido, verdadeira glória da imprensa brasileira de nossos dias, onde é raro ler-se um material de qualidade equivalente, João Paulo comparou Aécio a Bentinho, o personagem de Machado de Assis que não consegue compreender o que acontece no mundo – nem com a mulher Capitu, suspeita de adultério.

Vamos ler um trecho do artigo, chamado Sindrome de Capitu:

“Bentinho não sofre só pela traição mas porque não entende que o mundo mudou. Não pode aceitar que a sociedade republicana deixou para trás as amarras elitistas do Segundo Reinado e da escravidão. (…) Tudo o que ele não compreende o ameaça.”

Outro parágrafo:

“O Brasil tem uma recorrente síndrome de Capitu: tudo que a elite não tolera se torna, por meio de um discurso marcado pela força jurídica e da tradição, algo que deve ser rejeitado. Eternos maridos traídos. A tendência de empurrar a política para os tribunais é uma consequência desse descaminho. Assim, tudo que de alguma forma aponta para a mudança e ampliação de direitos é considerado ilegítimo e, em alguns momentos, quase uma afronta que precisa ser questionada e combatida. Foi assim com a visibilidade dada aos novos consumidores populares (que foram criminalizados em rolezinhos ou objeto de ironia em aeroportos), com as cotas raciais para a universidade, com a chegada de médicos estrangeiros para ocupar postos que os brasileiros, psicanaliticamente, denegaram.”

A leitura desses parágrafos – o texto integral pode ser encontrado na internet – mostra uma produção intelectual sofisticada, a altura das complexidades de um país como o Brasil em 2014. Não estamos falando de um panfleto. O tom é profissional, de quem sabe seus limites e conhece as fronteiras de quem faz a dissidência num ambiente geral hostil.

O vigor intelectual contrasta com uma certa timidez política, até.

E aí chegamos ao verdadeiro bolivarianismo de nossas terras. Qual a liberdade que ameaça nossos Bentinhos? Qual seu temor?

Ao falar de uma elite de “eternos maridos traídos”, João Paulo toca no ponto central de nossa democracia, regime que pode ser aceito, preservado e até celebrado – enquanto o povo não ousa ultrapassar determinados limites e fronteiras. Quando isso acontece, considera-se traição – e isso é imperdoável.

Esse é o drama da liberdade de expressão e da democratização dos meios de comunicação. A luta contra a censura foi benvinda enquanto auxiliou os donos de jornal a livrar-se das botas e tanques de um regime que haviam ajudado a colocar de pé.

Foi uma causa justa correta, vamos ter clareza.

Quando se procura ampliar o espaço para que o conjunto da sociedade possa se manifestar, num movimento que apenas fortalece a democracia, e é coerente com as mudanças sociais que ocorreram-no país na última década, a reação é falar em bolivarianismo, sem receio de produzir uma fraude. Quem censura? Quem cala o outro lado? Quem oprime?

Até dá para entender. Só não dá para aceitar.

“Síndrome de Capitu” é um trabalho de gabarito, que não se lê todos os dias, que coloca a política em outro plano, da discussão cultural. Ajuda a pensar o país – e é isso que se proibiu.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

 

Dennis de Oliveira :Reitora da Unilab é a nova minitra da SEPPIR

Reitora da Unilab é a nova ministra da Seppir

Por Dennis de Oliveiradezembro 24, 2014 12:23
Reitora da Unilab é a nova ministra da Seppir
Professora Nilma Lino é especialista na área de educação e relacões étnico-raciais
Professora Nilma Lino é especialista na área de educação e relacões étnico-raciais
A presidenta eleita Dilma Roussef indicou a professora Nilma Lino Gomes, reitora da Unilab, para ser a nova ministra da Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Nilma Lino é pedagoga formada pela UFMG, doutora em antropologia pela USP com tese orientada pelo prof. Kabengele Munanga e autora de diversos trabalhos e obras sobre educação e relações étnico-raciais. Foi a primeira mulher negra a ser reitora de uma universidade federal, a Unilab. Ela não é filiada a nenhum partido político.
Antes da sua indicação, circulavam vários nomes mais ligados aos partidos da base: o vereador Netinho de Paula (PC do B/SP), a ex-deputada Janette Pietá (PT/SP), Gog Rep Nacional (liderança do movimento hip-hop) e mesmo a permanência da atual ministra Luiza Bairros. Os nomes circulavam a partir dos militantes de movimentos negros ligados a PT e PC do B.
A boa análise do colega Renato Rovai sobre o novo ministério de Dilma Roussef (clique aqui para ler) ajuda a entender o porquê desta indicação. O movimento negro ligado a estes partidos não foi bem nestas eleições. No campo do PC do B, apesar da vitória de Orlando Silva em São Paulo, cuja votação transcende a base do movimento anti-racista pois também foi apoiado pelo setor da juventude e movimento estudantil (Orlando foi presidente da UNE), além dele ser um dirigente do partido; houve a derrota da candidatura de Netinho de Paula e uma queda expressiva na votação da deputada estadual Leci Brandão (teve uma redução de 15 mil votos entre 2010 e 2014). Na Bahia, uma das maiores lideranças negras do partido, Olivia Santana, também não foi eleita e foi indicada para a Secretaria Estadual da Mulher. No campo do PT, também houve derrotas. Janete Pietá não foi eleita, assim como Luiz Alberto, na Bahia.
Como Dilma está montando o seu ministério pensando na governabilidade e isso passa pela força no Congresso Nacional, entende-se o porquê de ter preterido as indicações dos grupos internos dos partidos da base que mais estão presentes no movimento negro. Optou então por um nome que tem um simbolismo (a primeira mulher negra reitora de uma universidade federal), não vinculada aos partidos e aos movimentos sociais negros tradicionais e uma intelectual com um curriculo de qualidade. A partir disto, a nova ministra pode agir como uma mediadora das demandas que virão destes grupos, principalmente a partir da CNPIR (Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial), cuja composição foi montada com base nestas forças políticas e empossado em dezembro.
Já de há algum tempo que a SEPPIR, assim como outros espaços institucionais específicos do trato da questão racial, tem se transformado em um lugar de negociações de projetos pontuais das organizações. O que tem acontecido é que os ocupantes dos cargos privilegiam o diálogo com as organizações do seu campo e preterem outras. E nestes diálogos estão incluídos o financiamento de projetos das organizações. Por esta razão, debates de ordem macros que poderiam fluir a partir das conferências temáticas são colocados em segundo plano, inclusive os Planos Nacionais, Estaduais e Municipais de combate ao racismo sequer são monitorados pelos conselhos, quando estes existem.
A nova ministra tem um curriculo ligado à educação. Isto pode ser um indicador de que as políticas de igualdade racial privilegiarão este campo (o que, na opinião deste humilde blogueiro, pode ser uma limitação). Ou que o seu perfil acadêmico pode sinalizar para uma preferência de diálogo com as organizações negras das universidades (Neab’s, ABPN, etc), o que também será algo limitado. Mas também que a sua indicação de intelectual e com experiência na gestão de uma instituição pública pode apontar para uma mediadora da diversidade que é o movimento negro. Enfim, o tempo dirá.

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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

 

Boaventura Souza Santos: Terceira Guerra Mundial?

Nono site Carta Maior
Tudo leva a crer que está em preparação a terceira guerra mundial, se entendermos por “mundial” uma guerra que tem o seu teatro principal de operações na Europa e se repercute em diferentes partes do mundo. É uma guerra provocada unilateralmente pelos EUA com a cumplicidade ativa da Europa. O seu alvo principal é a Rússia e, indiretamente, a China. O pretexto é a Ucrânia. Num raro momento de consenso entre os dois partidos, o Congresso dos EUA aprovou no passado dia 4 de dezembro a Resolução 758 que autoriza o Presidente a adotar medidas mais agressivas de sanções e de isolamento da Rússia, a fornecer armas e outras ajudas ao governo da Ucrânia e a fortalecer a presença militar dos EUA nos países vizinhos da Rússia. A escalada da provocação à Rússia tem vários componentes que, no conjunto, constituem a segunda guerra fria. Nesta, ao contrário da primeira, a Europa é um participante ativo, ainda que subordinado aos EUA, e assume-se agora a possibilidade de guerra total e, portanto, de guerra nuclear. Várias agências de segurança fazem planos já para o Day After de um confronto nuclear.

Os componentes da provocação ocidental são três: sanções para debilitar a Rússia; instalação de um governo satélite em Kiev; guerra de propaganda. As sanções são conhecidas, sendo a mais insidiosa a redução do preço do petróleo, que afeta de modo decisivo as exportações de petróleo da Rússia, uma das mais importantes fontes de financiamento do país. O orçamento da Rússia para o próximo ano  foi elaborado com base no preço do petróleo à razão de 100 dólares por barril. A redução do preço combinada com as outras sanções e a desvalorização do rublo agravarão perigosamente o déficit orçamental. Esta redução trará o benefício adicional de criar sérias dificuldades a outros países considerados hostis (Venezuela, Irã e Equador). A redução é possível graças ao pacto celebrado entre os EUA e a Arábia Saudita, nos termos do qual os EUA protegem a família real (odiada na região) em troca da manutenção da economia dos petrodólares (transações mundiais de petróleo denominadas em dólares), sem os quais o dólar colapsa enquanto reserva internacional e, com ele, a economia dos EUA, o país com a maior e mais obviamente impagável dívida do mundo.
 
O segundo componente é o controle total do governo da Ucrânia de modo a transformar este país num estado satélite. O respeitado jornalista Robert Parry (que denunciou o escândalo do Irã-contra) informa que a nova ministra das finanças da Ucrânia, Natalie Jaresko, é uma ex-funcionária do Departamento de Estado, cidadã dos EUA, que obteve cidadania ucraniana dias antes de assumir o cargo. Foi até agora presidente de várias empresas financiadas pelo governo norte-americano e criadas para atuar na Ucrânia. Agora compreende-se melhor a explosão, em fevereiro passado, da secretária de estado norte-americana para os assuntos europeus, Victoria Nulland: “Fuck the EU”. O que ela quis dizer foi: “Raios! A Ucrânia é nossa. Pagamos para isso”.
 
O terceiro componente é a guerra de propaganda. Os grandes media e seus jornalistas estão a ser pressionados para difundirem tudo o que legitime a provocação ocidental e ocultarem tudo o que a questione. Os mesmos jornalistas que, depois dos briefings nas embaixadas dos EUA e em Washington, encheram as páginas dos seus jornais com a mentira das armas de destruição massiva de Saddam Hussein, estão agora a enchê-las com a mentira da agressão da Rússia contra a Ucrânia. Peço aos leitores que imaginem o escândalo mediático que ocorreria se se soubesse que o Presidente da Síria acabara de nomear um ministro iraniano a quem dias antes concedera a nacionalidade síria. Ou que comparem o modo como foram noticiados e analisados os protestos em Kiev em fevereiro passado e os protestos em Hong Kong das últimas semanas. Ou ainda que avaliem o relevo dado à declaração de Henri Kissinger de que é uma temeridade estar a provocar a Rússia. Outro grande jornalista, John Pilger, dizia recentemente que, se os jornalistas tivessem resistido à guerra de propaganda, talvez se tivesse evitado a guerra do Iraque em que morreram até ao fim da semana passada 1.455.590 iraquianos e 4801 soldados norte-americanos. Quantos ucranianos morrerão na guerra que está a ser preparada? E quantos não-ucranianos?

Estamos em democracia quando 67% dos norte-americanos são contra a entrega de armas à Ucrânia e 98% dos seus representantes votam a favor? Estamos em democracia na Europa quando países da UE membros da NATO podem estar a ser conduzidos, à revelia dos cidadãos, a travar uma guerra contra a Rússia em benefício dos EUA, ou quando o parlamento europeu segue nas suas rotinas de conforto enquanto a Europa está a ser preparada para ser o próximo teatro de guerra, e a Ucrânia, a próxima Líbia?

As razões da insanidade 

 Para entender o que se está a passar é preciso ter em conta dois fatos: o declínio dos EUA enquanto país hegemônico; o negócio altamente lucrativo da guerra. O declínio do poder econômico-financeiro é cada vez mais evidente. Depois do 11 de Setembro de 2001, a CIA financiou um projeto chamado “projeto profecia” destinado a prever possíveis novos ataques aos EUA a partir de movimentos financeiros estranhos e de grande envergadura. Sob diferentes formas, esse projeto tem continuado, e um dos seus participantes prevê o próximo crash do sistema financeiro com base nos seguintes sinais: a Rússia e a China, os maiores credores dos EUA, têm vindo a vender os títulos do tesouro e em troca têm vindo a adquirir enormes quantidades de ouro; estranhamente, este títulos têm vindo a ser comprados em grandes quantidades por misteriosos investidores belgas e muito acima da capacidade deste pequeno país (especula-se se o próprio banco de reserva federal não estará envolvido nesta operação); aqueles dois países estão cada vez mais a usar as suas moedas e não os petrodólares nas transações de petróleo (todos se recordam que Saddam e Kadafi  procuraram usar o euro e o preço que pagaram pela ousadia); finalmente, o FMI (o cavalo de Troia) prepara-se para que o dólar deixe de ser nos próximos anos a moeda de reserva e seja substituída por uma moeda global, os SDR (special drawing rights).
 
Para os autores do projeto profecia, tudo isto indica que um ataque aos EUA está próximo e que para este se defender tem de manter os petrodólares a todo o custo, assegurando o acesso privilegiado ao petróleo e ao gás, tem de conter a China e tem de debilitar a Rússia, idealmente provocando a sua desintegração, tipo Jugoslávia. Curiosamente, os “especialistas” que veêm na venda da dívida uma atitude hostil por parte de potências agressoras são os mesmos que aconselham os investidores norte-americanos a procederem da mesma maneira, isto é, a desfazerem-se dos títulos, a comprar moedas de ouro e a investirem em bens sem os quais os humanos não podem viver: terra, água, alimentos, recursos naturais, energia.

Transformar os sinais óbvios de declínio em previsões de agressão visa justificar a guerra como defesa. Ora a guerra é altamente lucrativa devido à superioridade dos EUA na condução da guerra, no fornecimento de equipamentos e nos trabalhos de reconstrução. E a verdade é que, como escreveu Howard Zinn, os EUA têm estado permanentemente em guerra desde a sua fundação. Acresce que, ao contrário da Europa, a guerra nunca será travada em solo norte-americano, salvo, claro, o caso de guerra nuclear. Em 14 de Outubro de 2014, o New York Times divulgava o relatório da CIA sobre o fornecimento clandestino e ilegal de armas e financiamento de guerras nos últimos 67 anos em muitos países, entre eles, Cuba, Angola e Nicarágua. Esta notícia serviu para que Noam Chomsky dissesse em “The Laura Flanders Show” que aquele documento só podia ter o seguinte título: “Yes, we declare ourselves to be the world´s leading terrorist state. We are proud of it” (“Sim, declaramos que somos o maior estado terrorista do mundo e temos orgulho nisso”).

Um país em declínio tende a tornar-se caótico e errático na sua política internacional. Immanuel Wallerstein refere que os EUA se transformaram num canhão descontrolado (a loose canon), um poder cujas ações são imprevisíveis, incontroláveis e perigosas para ele próprio e para os outros. A consequência mais dramática é que esta irracionalidade se repercute e intensifica na política dos seus aliados. Ao deixar-se envolver na nova guerra fria, a Europa, não só atua contra os seus interesses económicos, como perde a relativa autonomia que tinha construído no plano internacional depois de 1945. A Europa tem todo o interesse em continuar a intensificar as suas relações comerciais com a Rússia e em contar com esta como fornecedora de petróleo e gás. As sanções contra a Rússia podem a vir a afetar mais a Europa que a Rússia. Ao alinhar-se com o militarismo da OTAN onde os EUA têm total preponderância, a Europa põe a economia europeia ao serviço da política geoestratégica dos EUA, torna-se energeticamente mais dependente dos EUA e dos seus estados satélites, perde a oportunidade de se expandir com a entrada da Turquia na União Europeia. E o mais grave é que esta irracionalidade não é o mero resultado de um erro da avaliação dos interesses dos europeus. É muito provavelmente um ato de sabotagem por parte das elites neoconservadoras europeias no sentido de tornar a Europa mais dependente dos EUA, tanto no plano energético e económico, como no plano militar.
 
Por isso, o aprofundamento do envolvimento na OTAN e o tratado de livre comércio entre a UE e os EUA (parceria transatlântica de investimento e comércio) são os dois lados da mesma moeda.  

Pode argumentar-se que a nova guerra fria, tal como a anterior, não conduzirá a um enfrentamento total. Mas não esqueçamos que a primeira guerra mundial foi considerada, quando começou, uma escaramuça que não duraria mais de uns meses. Durou quatro anos e custou entre 9 e 15 milhões de mortos.
Tudo leva a crer que está em preparação a terceira guerra mundial, se entendermos por “mundial” uma guerra que tem o seu teatro principal de operações na Europa e se repercute em diferentes partes do mundo. É uma guerra provocada unilateralmente pelos EUA com a cumplicidade ativa da Europa. O seu alvo principal é a Rússia e, indiretamente, a China. O pretexto é a Ucrânia. Num raro momento de consenso entre os dois partidos, o Congresso dos EUA aprovou no passado dia 4 de dezembro a Resolução 758 que autoriza o Presidente a adotar medidas mais agressivas de sanções e de isolamento da Rússia, a fornecer armas e outras ajudas ao governo da Ucrânia e a fortalecer a presença militar dos EUA nos países vizinhos da Rússia. A escalada da provocação à Rússia tem vários componentes que, no conjunto, constituem a segunda guerra fria. Nesta, ao contrário da primeira, a Europa é um participante ativo, ainda que subordinado aos EUA, e assume-se agora a possibilidade de guerra total e, portanto, de guerra nuclear. Várias agências de segurança fazem planos já para o Day After de um confronto nuclear.

Os componentes da provocação ocidental são três: sanções para debilitar a Rússia; instalação de um governo satélite em Kiev; guerra de propaganda. As sanções são conhecidas, sendo a mais insidiosa a redução do preço do petróleo, que afeta de modo decisivo as exportações de petróleo da Rússia, uma das mais importantes fontes de financiamento do país. O orçamento da Rússia para o próximo ano  foi elaborado com base no preço do petróleo à razão de 100 dólares por barril. A redução do preço combinada com as outras sanções e a desvalorização do rublo agravarão perigosamente o déficit orçamental. Esta redução trará o benefício adicional de criar sérias dificuldades a outros países considerados hostis (Venezuela, Irã e Equador). A redução é possível graças ao pacto celebrado entre os EUA e a Arábia Saudita, nos termos do qual os EUA protegem a família real (odiada na região) em troca da manutenção da economia dos petrodólares (transações mundiais de petróleo denominadas em dólares), sem os quais o dólar colapsa enquanto reserva internacional e, com ele, a economia dos EUA, o país com a maior e mais obviamente impagável dívida do mundo.
 
O segundo componente é o controle total do governo da Ucrânia de modo a transformar este país num estado satélite. O respeitado jornalista Robert Parry (que denunciou o escândalo do Irã-contra) informa que a nova ministra das finanças da Ucrânia, Natalie Jaresko, é uma ex-funcionária do Departamento de Estado, cidadã dos EUA, que obteve cidadania ucraniana dias antes de assumir o cargo. Foi até agora presidente de várias empresas financiadas pelo governo norte-americano e criadas para atuar na Ucrânia. Agora compreende-se melhor a explosão, em fevereiro passado, da secretária de estado norte-americana para os assuntos europeus, Victoria Nulland: “Fuck the EU”. O que ela quis dizer foi: “Raios! A Ucrânia é nossa. Pagamos para isso”.
 
O terceiro componente é a guerra de propaganda. Os grandes media e seus jornalistas estão a ser pressionados para difundirem tudo o que legitime a provocação ocidental e ocultarem tudo o que a questione. Os mesmos jornalistas que, depois dos briefings nas embaixadas dos EUA e em Washington, encheram as páginas dos seus jornais com a mentira das armas de destruição massiva de Saddam Hussein, estão agora a enchê-las com a mentira da agressão da Rússia contra a Ucrânia. Peço aos leitores que imaginem o escândalo mediático que ocorreria se se soubesse que o Presidente da Síria acabara de nomear um ministro iraniano a quem dias antes concedera a nacionalidade síria. Ou que comparem o modo como foram noticiados e analisados os protestos em Kiev em fevereiro passado e os protestos em Hong Kong das últimas semanas. Ou ainda que avaliem o relevo dado à declaração de Henri Kissinger de que é uma temeridade estar a provocar a Rússia. Outro grande jornalista, John Pilger, dizia recentemente que, se os jornalistas tivessem resistido à guerra de propaganda, talvez se tivesse evitado a guerra do Iraque em que morreram até ao fim da semana passada 1.455.590 iraquianos e 4801 soldados norte-americanos. Quantos ucranianos morrerão na guerra que está a ser preparada? E quantos não-ucranianos?

Estamos em democracia quando 67% dos norte-americanos são contra a entrega de armas à Ucrânia e 98% dos seus representantes votam a favor? Estamos em democracia na Europa quando países da UE membros da NATO podem estar a ser conduzidos, à revelia dos cidadãos, a travar uma guerra contra a Rússia em benefício dos EUA, ou quando o parlamento europeu segue nas suas rotinas de conforto enquanto a Europa está a ser preparada para ser o próximo teatro de guerra, e a Ucrânia, a próxima Líbia?

As razões da insanidade 

 Para entender o que se está a passar é preciso ter em conta dois fatos: o declínio dos EUA enquanto país hegemônico; o negócio altamente lucrativo da guerra. O declínio do poder econômico-financeiro é cada vez mais evidente. Depois do 11 de Setembro de 2001, a CIA financiou um projeto chamado “projeto profecia” destinado a prever possíveis novos ataques aos EUA a partir de movimentos financeiros estranhos e de grande envergadura. Sob diferentes formas, esse projeto tem continuado, e um dos seus participantes prevê o próximo crash do sistema financeiro com base nos seguintes sinais: a Rússia e a China, os maiores credores dos EUA, têm vindo a vender os títulos do tesouro e em troca têm vindo a adquirir enormes quantidades de ouro; estranhamente, este títulos têm vindo a ser comprados em grandes quantidades por misteriosos investidores belgas e muito acima da capacidade deste pequeno país (especula-se se o próprio banco de reserva federal não estará envolvido nesta operação); aqueles dois países estão cada vez mais a usar as suas moedas e não os petrodólares nas transações de petróleo (todos se recordam que Saddam e Kadafi  procuraram usar o euro e o preço que pagaram pela ousadia); finalmente, o FMI (o cavalo de Troia) prepara-se para que o dólar deixe de ser nos próximos anos a moeda de reserva e seja substituída por uma moeda global, os SDR (special drawing rights).
 
Para os autores do projeto profecia, tudo isto indica que um ataque aos EUA está próximo e que para este se defender tem de manter os petrodólares a todo o custo, assegurando o acesso privilegiado ao petróleo e ao gás, tem de conter a China e tem de debilitar a Rússia, idealmente provocando a sua desintegração, tipo Jugoslávia. Curiosamente, os “especialistas” que veêm na venda da dívida uma atitude hostil por parte de potências agressoras são os mesmos que aconselham os investidores norte-americanos a procederem da mesma maneira, isto é, a desfazerem-se dos títulos, a comprar moedas de ouro e a investirem em bens sem os quais os humanos não podem viver: terra, água, alimentos, recursos naturais, energia.

Transformar os sinais óbvios de declínio em previsões de agressão visa justificar a guerra como defesa. Ora a guerra é altamente lucrativa devido à superioridade dos EUA na condução da guerra, no fornecimento de equipamentos e nos trabalhos de reconstrução. E a verdade é que, como escreveu Howard Zinn, os EUA têm estado permanentemente em guerra desde a sua fundação. Acresce que, ao contrário da Europa, a guerra nunca será travada em solo norte-americano, salvo, claro, o caso de guerra nuclear. Em 14 de Outubro de 2014, o New York Times divulgava o relatório da CIA sobre o fornecimento clandestino e ilegal de armas e financiamento de guerras nos últimos 67 anos em muitos países, entre eles, Cuba, Angola e Nicarágua. Esta notícia serviu para que Noam Chomsky dissesse em “The Laura Flanders Show” que aquele documento só podia ter o seguinte título: “Yes, we declare ourselves to be the world´s leading terrorist state. We are proud of it” (“Sim, declaramos que somos o maior estado terrorista do mundo e temos orgulho nisso”).

Um país em declínio tende a tornar-se caótico e errático na sua política internacional. Immanuel Wallerstein refere que os EUA se transformaram num canhão descontrolado (a loose canon), um poder cujas ações são imprevisíveis, incontroláveis e perigosas para ele próprio e para os outros. A consequência mais dramática é que esta irracionalidade se repercute e intensifica na política dos seus aliados. Ao deixar-se envolver na nova guerra fria, a Europa, não só atua contra os seus interesses económicos, como perde a relativa autonomia que tinha construído no plano internacional depois de 1945. A Europa tem todo o interesse em continuar a intensificar as suas relações comerciais com a Rússia e em contar com esta como fornecedora de petróleo e gás. As sanções contra a Rússia podem a vir a afetar mais a Europa que a Rússia. Ao alinhar-se com o militarismo da OTAN onde os EUA têm total preponderância, a Europa põe a economia europeia ao serviço da política geoestratégica dos EUA, torna-se energeticamente mais dependente dos EUA e dos seus estados satélites, perde a oportunidade de se expandir com a entrada da Turquia na União Europeia. E o mais grave é que esta irracionalidade não é o mero resultado de um erro da avaliação dos interesses dos europeus. É muito provavelmente um ato de sabotagem por parte das elites neoconservadoras europeias no sentido de tornar a Europa mais dependente dos EUA, tanto no plano energético e económico, como no plano militar.
 
Por isso, o aprofundamento do envolvimento na OTAN e o tratado de livre comércio entre a UE e os EUA (parceria transatlântica de investimento e comércio) são os dois lados da mesma moeda.  

Pode argumentar-se que a nova guerra fria, tal como a anterior, não conduzirá a um enfrentamento total. Mas não esqueçamos que a primeira guerra mundial foi considerada, quando começou, uma escaramuça que não duraria mais de uns meses. Durou quatro anos e custou entre 9 e 15 milhões de mortos.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

 

Cristiane Mare . Um poema impactante: A la marcha!!!!!


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A LA MARCHA.

Cuando matan a un negrito,
Es a nuestro hijo, a quien lo matan
nos avisan todos los días,
Por la tele, en la rádio, en las calles
Buen Negrito  
es negrito bajo la tierra

Sus voces
Todavía, las puedo escuchar
Nos gritan  mamá,
Socorro mamá
Nos llaman Mamá 

Maldita dolor, 
Que  se congela en el pecho 
y nos destruye el alma
Ustedes nos volvieron
Madres sin Hijos

Ya  no llegarán
a la casa, 
Se quedarán por el camino,
Tirados a la mar
Una vez más 

Este ajedrez 
es un juego  peligroso
Ojalá la policía no los identifiquen,
No los griten  negro!
Manos arriba

Podría ser yo, podría ser vos 
Más una madre, 
huérfana de sus hijos
son Erics, Antonios y Helenos
Condenados a la muerte
Han nacido negros,
Hijos negros, es lo que son

Ojo ! Pa la policía
 buen negrito 
es negrito bajo la tierra
Calláte, 
Ya no  puedo soportar

A la marcha mujeres,
Nuevos gritos no van a tardar!
A la marcha, 
otros hijos no nos van a quitar

A la marcha hermanas,
Resistencia, 
Nuestros hijos nos llaman.

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