domingo, 31 de março de 2013

 

Expansão Universitária, Democracia e Promoção de Igualdade.VII ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA UFPI


Por: Paulino de Jesus Francisco Cardoso [1]


“Enquanto os leões não tiverem os seus próprios historiadores, as histórias de caça continuarão glorificando o caçador”.
Provérbio Africano

Resumo

 No presente texto, escrito para ser lido, reflito sobre a expansão do ensino superior e sua relação com uma plataforma democrática em nosso país. Nele, a resistência acadêmica emerge vinculada a um compromisso da Universidade com a desigualdade estrutural que marca nossa história desde o seu nascimento. Sustento que as instituições de ensino superior foram fundamentais na manutenção das hierarquias coloniais no pós-abolição. As políticas de promoção de igualdade, combinada com a democratização via expansão do número de vagas em instituições públicas e privadas, e ao crescimento dos NEABS, configuram um assalto a um dos bastiões da supremacia branca. Reformar a universidade, traze-la para próximo das classes trabalhadores e demais grupos sociais vulneráveis, significa romper com os projetos institucionais hegemônicos e engaja-la na vivência Republicana.

Palavras-chave: Universidade, Democracia, Igualdade, Pós-Abolição.


Bom dia a todas e todos. Gostaria primeiramente e cumprimentar a mesa e parabenizar todos aqueles que trocaram o jogo do Corinthians Paulista no Mundial Fifa Interclubes, no Japão, por essa conversa sobre o ensino superior e causa democrática. Necessito agradecer, igualmente, as professoras Ana Beatriz Gomes, que me indicou, e Neide Cavalcante Guedes, coordenadora do evento que gentilmente proporcionou minha vinda a Teresina .
De fato, acadêmicos de minha geração, tem a difícil missão de ser atores e interpretes da experiência africana nas Américas. Movidos quase sempre pelas dinâmicas da vida de todo o dia, nestes quase trinta anos de academia e ativismo, raros foram os momentos de uma reflexão produzida de forma tranqüila. A urgência nos governa, sendo do que muito do que pensamos encontram-se perdidos, dispersos nos textos dos nossos orientandos e se condensam aqui e ali em poucos trabalhos produzidos, contando quase sempre com a imensa e generosa paciência dos pares.
 Felizmente, não podemos submeter nossos temas de discussão ao olhar de uma academia desinteressada.
 Nossos textos são frutos da ação, são instrumentos de intervenção. Por essa razão, desenvolvidos no movimento de ação-reflexão-ação, para os antigos, ou experientes, o velho método do ver-julgar-agir da teologia da libertação.[2] Ou para os mais velhinhos ainda, o fim da filosofia decretado por Marx em A ideologia alemã.[3]
Tais palavras não foram pensadas para agradar, afinal, como dizia Edward Said, o principal compromisso de um intelectual é com a verdade[4]. Esta mais para um Grito de Alerta na canção de Gonzaguinha, tão bem interpretada por Maria Bethânia (1979).
É inegável que desde 2003, a partir do governo do presidente Luis Ignácio Lula da Silva, o ensino superior brasileiro foi profundamente sacudido. O primeiro foco de confronto deu-se a partir da necessidade de expandir o número de vagas. O Programa Universidade para Todos (PROUNI), instituído pela Lei nº 11.096, em 13 de janeiro de 2005, nasceu com o objetivo de ampliar a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. Segundo informações publicadas no site do Ministério da Educação, as IES privadas e comunitárias que aderem ao Programa, recebem como contrapartida, isenção de alguns tributos. Desde sua criação em 2004 até 2012, cerca de um milhão estudantes foram beneficiados. Destes, 67% com bolsas integrais.[5] Vale lembrar, que uma reestruturação do Programa de Financiamento Estudantil (FIES), possibilitou a celebração de 01 milhão de contratos em 2012.
O segundo foco de confronto foi o REUNE (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), ação do Ministério da Educação voltada para ampliação e permanência da educação superior. A ideia do Governo Federal: “retomar o crescimento do ensino superior público, criando condições para que as universidades federais promovam a expansão física, acadêmica e pedagógica da rede federal de educação superior.”. De acordo com o MEC, as ações do programa contemplam o aumento de vagas nos cursos de graduação, a ampliação da oferta de cursos noturnos, a promoção de inovações pedagógicas e o combate à evasão. Instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007. Espera-se pular de 140 campi em 2002 para 514 campi de Institutos Federais (IFs) em 2014. Em relação as universidades, o Governo Federal queria sair dos 140 campi, criados entre 1808 e 2002, para 321 unidades. Espera-se oferecer 850.000 vagas em todo país em 2014.[6]
O terceiro foco de tensão foi a regulamentação por parte do Ministério da Educação (MEC), em tempo recorde, da Lei Federal 12.711/2012. A famosa Lei de cotas, aprovada pelo Congresso Nacional, no mesmo ano, e que instituiu a obrigatoriedade da reserva de vagas para estudantes de escolas públicas, negros e indígenas, nos vestibulares das instituições federais de ensino. O decreto Nº 7.824, de 11 de outubro de , obrigou a totalidade das instituições a iniciar a implementação ainda em 2012.
O decreto detalha as regras e o cronograma de implementação do novo sistema de distribuição de vagas no sistema federal de ensino superior. As universidades e institutos federais terão quatro anos para implantar progressivamente o percentual de reserva de vagas estabelecido pela lei, mesmo as que já adotam algum tipo de sistema afirmativo na seleção de estudantes.
As instituições federais que ofertam vagas de ensino técnico de nível médio deverão reservar em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de nível médio, por curso e turno, no mínimo 50% cinquenta por cento de suas vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino fundamental em escolas públicas. .[7]
Entre erros e acertos de uma política de grande alcance e amplitude, o que nos chama atenção é a grande resistência política e ideológica a essas medidas, oriunda dos setores que se fazem expressar pelos meios de comunica de massas. Mas, também, encontra guarida em um importante grupo no interior das  universidades e demais instituições públicas de ensino superior.
Não pretendo inferniza-los com os argumentos de todo tipo apresentado sobre estas medidas. Entretanto, me encanta teses de Yvone Maggie e Peter Fry, fundamentalmente por serem pesquisadores que construíram suas carreiras acadêmicas estudando a temática das desigualdades raciais e culturais presentes na realidade brasileira. Gosto, particularmente de um pequeno artigo de 2005, de lavra de Dr.a Maggie, denominado “Mario de Andrade ainda vive? O ideário modernista entre nós”, publicado em junho de 2005, na Revista Brasileira de Ciências Sociais.[8] Nele a autora afirma que adoção de políticas de ação afirmativa, ao quebrar com o continuo/complementariedade da cor, ameaça transformar o Brasil em uma nação bicolor, implodindo com o mito fundador da nacionalidade brasileira.
Não deixa de ser irônico que dois outros estudos de acadêmicas brancas paulistas, Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites no século XIX (1987)[9] e O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930 (1993)[10], que posteriormente se posicionaram contrárias as políticas de ação afirmativa para negros[11] , foram fundamentais para esclarecer o papel da raça e do racismo, e do racionalismo científico no processo de abolição da escravatura, na formulação, por meio da importação das teorias raciais do século XIX, do racismo como instrumento que permitiu a manutenção das hierarquias sociais herdadas do nosso passado colonial e escravocrata, mesmo após a Abolição da escravatura. Como diria Manolo Florentino, outro que se posicionou contrário a adoção de políticas de ação afirmativa, a desigualdade no Brasil é estruturante da nossa sociedade, que diante do medo as elites sempre apoiam projetos conservadores. [12]
Pode parecer paradoxal, parodiando Célia Maria Marinho de Azevedo (2004), que os principais arautos de uma historiografia renovada, que construíram suas carreiras estudando as populações de origem africana se posicionem, independente de todos os estudos acadêmicos que deram densidade teórica a denúncia do Movimento Negro da existência do racismo e de como ele afetava, obstaculizava sua vivencia cidadã e sua qualidade de vida.
Colocando o dedo na ferida, um antropólogo branco, Jose Jorge de Carvalho, autor juntamente com Rita Segatto, da proposta de Cotas da Universidade de Brasília, em texto datado de 2005, em  debate com colegas do próprio Departamento de antropologia  da UNB, (se não com a corporação abrigada na Associação Brasileira de Antropologia) se pergunta se esta resistência não está associada a realidade de que, à época, 98% dos professores universitários das IFES eram brancos, e reveladora da pouca disposição dos acadêmicos brancos de dividir espaços de distribuição de prestigio, riqueza e poder?[13]
Em texto anterior, o autor mais incisivamente concluiu pela a existência de um racismo acadêmico, (na raiz de uma má vontade antropológica, segundo Ana Valente?)[14] Um sistema de poder no âmbito da academia que exclui pessoas negras e indígenas dos espaços universitários[15]. Nestes termos, a própria política de ações afirmativas focadas no acesso de estudantes negros e indígenas constitui-se em um paliativo ao projeto de igualdade, pois não nos permite focar no problema central: a quase total ausência de negros e indígenas nos quadro docentes de nossas universidades que só será resolvida com a adoção de cotas nos concursos públicos para professores e no acesso a pós-graduação. [16]
O racismo acadêmico também se expressa na ausência de intelectuais de origem africana nos currículos universitários. Silêncio sobre Manoel Querino, Guerreiro Ramos, Clovis Moura, Edson Cardoso, que embora com uma imensa produção acadêmica sobre afro-brasileiros e nossas desigualdades raciais, estão fora da literatura canônica. Ângela Figueiredo e Rámon Grosfoguel, ao tratar do tema, entendem que apenas alguns pesquisadores brancos são reconhecidos como autoridades acadêmicas, responsáveis pela configuração do campo disciplinas denominado estudos das relações raciais. Pesquisadores que formularam a temática das desigualdades raciais nos termos de um problema negro.[17]
Neste sentido, tive o prazer de prefaciar recentemente um livro, oriundo da tese de doutorado de Amauri Mendes Pereira intitulado  Para além do racismo e anti-racismo: a produção de uma cultura da consciência negra na sociedade brasileira (2006), na qual o autor afirma  o ocultamento do protagonismo do Movimento Negro na constituição deste campo de estudos, com as honrosas exceções de pessoas como  Florestan Fernandes e Carlos Hasembalg, que dialogaram com intelectuais negros de seu tempo.[18]
Na contramão desta história, militantes do Movimento Negro dos anos 1970/1980, nos últimos trinta anos ingressaram na universidade, realizaram suas graduações, mestrados, doutorados, tornaram-se professores. Lá defrontaram-se com sua eterna companheira: a desigualdade. Como já informei em outro evento, no enfrentamento do nosso “teto de vidro”, os novos docentes descobriram que o racismo na Universidade se manifesta de forma insidiosa, muitas vezes fugidia, mas com resultados bem concretos: a parca de possibilidade de crescimento e desenvolvimento pessoal e coletivo.
Foi por estas razões que organizamos sob coordenação de Lídia  Cunha e Henrique Cunha, em 2000, nas dependências da Universidade Federal de Pernambuco o I Congresso de Pesquisadores Negros.
Nesta mesma conjuntura, pesquisadores e pesquisadoras envolveram-se na organização de espaços acadêmicos voltados para o desenvolvimentos de atividades de ensino, pesquisa e sobretudo extensão universitária.
O primeiro encontro ocorreu em 1996, em paralelo ao Seminário Multiculturalismo e políticas de ação Afirmativa no Brasil, organizado por Dulce Pereira, então presidente da Fundação Cultural Palmares. Em 2001, por solicitação de Carlos Moura, então presidente da FCP, tendo por cicerone o saudoso historiador baiano, Ubiratan de Castro Araujo, diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia.
Neste mesmo ano, com apoio de Jeruse Romão na Secretaria de Ensino Médio e Educação Tecnológica do MEC e Ubiratan Araújo, agora presidente da FCP, organizou-se o II Encontro de Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, em Brasília, na qual , entre outras, tomou-se a decisão de ampliar a participação dos NEABs na estratégia de implementação de políticas educacionais para os afro-brasileiros.
Iniciativa que, na gestão de Eliane Cavalleiro, à frente da Coordenadoria Geral de Diversidade  da Secretaria de Alfabetização, Educação do Campo e Diversidade (SECAD), levou a constituição da Comitê Técnico de Diversidade para Assuntos Relacionados a Educação dos Afro-Brasileiros – CADARA.
Nesta mesma época, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva havia sido indicada para representar os afros no Conselho Nacional de Educação e, como um dos atos mais importantes de seu mandato, escreveu em parceria com Chiquinha Novaltino, representante no CNE das populações indígenas, o parecer CNE 04/2003 que criou as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e Ensino de Cultura e História Afro-Brasileira e Africana, que tornado resolução em 2004, regulamentou as modificações à LDB, provocadas pela Lei Federal 10.639/03.
Por conta disto, no primeiro semestre de 2004, sob coordenação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal de São Carlos, se organizou uma reunião de trabalho financiada por diferentes agências federais. A organização não-governamental Ação Educativa e mais a UNESCO, creio, voltada para pensar estratégias de monitoramento e avaliação da Lei Federal 10.639/03 e das Diretrizes. Neste encontro indicou-se a necessidade de articulação de um Consórcio de NEABS. Idéia que concretizamos no III Congresso de Pesquisadores Negros do Maranhão.
 De lá para cá o salto de qualidade foi impressionante. Na ata de fundação participaram  cinco NEABS e onze grupos correlatos. Com apoio de Andréa Lisboa, Eliane Cavalleiro e Valter Silvério  (SECAD-MEC), Déborah Silva Santos (SESu/MEC), Ivair dos Santos (SEDH), entre outros, se organizou pelo menos dois editais importantes: o Brasil Afro-Atitude do Ministério da Saúde e Programa UNIAFRO no Ministério da Educação, que combinados com o Programa Políticas da Cor da UERJ/Fundação Ford, foram fundamentais para criar as condições de fortalecimentos dos NEABS como instrumento de capilarização de políticas públicas e espaços acadêmicos de produção de conhecimento (pesquisa ensino e extensão), focado no combate às desigualdades raciais. O resultado foi um aumento exponencial de núcleos que passaram para mais de100 organizações vinculadas a 86 instituições de ensino superior.
As vozes da resistência a expansão universitária e a democratização do acesso à educação superior, expressam a tomada de consciência por parte das elites brasileiras que um bastião da supremacia branca está sob ataque. Novos personagem entraram em cena, possuem força política considerável e relativa capacidade de articulação.
Não se trata de ignorância, de um outro desinformado, mas a percepção de que a crescente capacidade de mobilização por parte das forças progressistas e seus aliados na gestão das políticas públicas educacionais nos governos Lula e Dilma Roussef, apresentam uma agenda de enfrentamento das desigualdades sociais históricas presentes em nosso pais.
Os pobres de Cristo, aqueles que tem fome e sede de justiça, como dizia Dom Helder Câmara, não querem apenas comer três vezes por dia, ter sua casa própria, viajar de avião, fazer turismo, ter crédito barato para adquirir bens duráveis. Eles percebem que o poder, os círculos de convivência que permitem a distribuição de prestígio e poder encontram-se no ensino superior, na vivência universitária.
Tem razão a Dr.a Maggie a temer o fim da herança modernista, e consequentemente, do retorno da experiência e da política como lócus decisão da vida comunitária. Em definitivo, até o momento índios, negros e outros grupos sociais vulneráveis dão/davam nomes pomposos a laboratórios, mas na maior parte do tempo não passam/passavam de objetos de curiosidade acadêmica, tornam-se eles mesmos pesquisadores a inventar uma nova epistemologia, não apenas capaz de apreender suas experiências, mas de propor outras visões de mundo, desbancando a cultura ocidental, a branquitude, do pedestal onde ela se colocou, ser um referencial absoluto capaz de julgar outras culturas.[19]
 Desse modo, a resistência acadêmica, o racismo acadêmico, expressam um compromisso ainda hegemônico no interior de nossas universidades, com a desigualdade estrutural que marca nossa história desde sua origem. A expansão do ensino superior, articula-se com as políticas de promoção de igualdade e busca, acima de tudo romper com os projetos institucionais hegemônicos e engaja-la na vivência Republicana.

Ilha de Santa Catarina, novembro de 2011.
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[1] Possui graduação em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (1988), mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1993) e doutorado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). Atualmente é consultor - Casa das Áfricas, membro da Comissão Técnica Nacional para Educação dos Afro-Brasileiros do Ministério da Educação, membro do Conselho Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR/SEPPIR) e professor associado da Universidade do Estado de Santa Catarina. Coordena o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UDESC. É presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).Tem experiência na área de História, com ênfase em História e Populações de Origem Africana no Brasil , atuando principalmente nos seguintes temas: negros, educação, história, populações de origem africana e multiculturalismo.
[2] Saudação aos colegas das CEB’s e do Grupo de União e Consciência Negra (GRUCON). Ver:
SADER, Eder. Quando os novos personagens entraram em cena experiências e lutas dos trabalhadores da grande São Paulo 1970-1980. São Paulo: Paz e Terra, 1988.
[3] Sobre o lugar de Marx na Modernidade Ocidental, consultar: ARENDT, Hannah A condição humana. Rio de Janeiro: Forense, 1995, 7ª. Ed; BERMAN, Marshal. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
[4] Edward Said nasceu em Jerusalém em 1935 e viveu na carne o drama dos povo palestino, sendo até a sua morte uma das mais importantes vozes no Ocidente sobre a causa palestina e o Mundo  Islâmico. Adoro SAID, Edward W.Cultura e Política. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002.
[6] www.reuni.mec.gov.br . Acessado em 29.03.2013. (revisão)
[8] MAGGIE, Yvone. Mario de Andrade ainda vive? O ideário modernista entre nós. Revista Brasileira de Ciências Sociais.V,20, n.58. jun de 2005.pp 05-25
[9] AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites no século XIX. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
[10] SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças:  cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
[11] Ver AZEVEDO, Celia. Anti-racismo e seus paradoxos: reflexões sobre cota racial, raça e racismo. São Paulo: Annablume, 2004.
[12] FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo. O Arcaísmo como Projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma sociedade colonial tardia: Rio de Janeiro, c. 1790 - c. 1840 – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001
[13] CARVALHO, José Jorge de. Uso e abusos da Antropologia num contexto de tensão racial: o caso das Cotas da UNB. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, Ano11, nº23. Jan-jun de 2005. pp.237-246
[14] VALENTE, Ana F A “má vontade antropológica” e as cotas para negros nas universidades (ou usos e abusos da antropologia na pesquisa educacional II: quando os antropólogos desaprendem. InterMeios. Revista do Program de Pós-Graduação em Educação. Campo Grande, MS. V.12, N.24. pp. 84-103. Jul-dez de 2006.
[15] Como afirma o autor nos textos citados, sua posição e engajamento na defesa da necessidade de políticas de ação afirmativa foi em muito influenciada pela experiência de envolver-se com um caso de racismo sofrido por um orientando, Arisvaldo Lima Alves. Ver: http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI3895664-EI8266,00-Episodio+de+aluno+motivou+criacao+do+sistema+de+cotas+na+UnB.html . Acessado em 31.03.2013 (revisão).

[16] CARVALHO, José Jorge de. As ações afirmativas como instrumento de combate ao racismo acadêmico e seus impactos nas ciências humanas e sociais.Teoria e Pesquisa.Nº42/43, junho-julho de 2003.
[17] FIGUEIREDO, Ângela e GROSFOGUEL, Ramon. Por que não Guerreiro Ramos? Novos desafios a serem enfrentados pelas universidades públicas brasileiras. Ciência e Cultura. Vº59, n]2. São Paulo, abril-jun de 2007
[18]  PEREIRA, Amauri Mendes Para além do racismo e do anti-racismo: a produção de uma Cultura de Consciência Negra na sociedade brasileira. Rio de Janeiro, 2006. Tese de Doutorado em Ciências Sociais, UERJ.
[19] CARDOSO, Paulino de Jesus Francisco Cardoso. Os desafios da pesquisa engajada. I Seminário Internacional da ABPN. Rio de Janeiro, 2010. mimeo

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domingo, 17 de março de 2013

 

Nova classe média é bobagem sociológica

A suposta criação de uma nova classe média - anunciada pelo ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e por Dilma Rousseff (PT), é uma 'bobagem sociológica', já que o que houve foi a ampliação da classe trabalhadora. É o que afirma a filósofa Marilena Chauí. 
Por Renato Dias
Ela analisa os descaminhos da democracia no Brasil, ataca o STF, diz que mídia manipula informação, controla a internet e frisa que Renan Calheiros é regra
A filósofa Marilena Chauí participou, participou, na última quarta-feira, 13, em Goiânia, da edição do Café com Ideias. O fórum é uma promoção do Centro Cultural Oscar Niemeyer, do Governo de Goiás. O evento é organizado pelo jornalista e professor Lisandro Nogueira.
Professora titular do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), Marilena Chauí informa que existem duas classes no capitalismo [Burguesia e proletariado/classe trabalhadora]. Para ela, a classe média não teria função econômica, mas ideológica. “Como correia de transmissão das ideologias das classes dominantes. Até “intelectuais pertencem, hoje, à classe trabalhadora,” dispara. “Técnica e ciência viraram forças produtivas,” analisa.
PERPLEXIDADE
A antiga classe média está apavorada, porque pela escolaridade ela não se distingue, provoca. “Pela profissão, menos ainda,”atira. Ela está perplexa com a entrada da classe trabalhadora na sociedade de consumo, insiste. “Qualquer um pode andar de avião. Não tem mais distinção nenhuma,”ironiza. Cáustica, a ex-secretária de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo (1989-1992), sob a gestão de Luiza Erundina, define a classe média como “conservadora e autoritária.”
A professora denuncia os grandes conglomerados de comunicação. A mídia monopoliza a informação, avalia. “A discordância é vista (pela mídia) como discordância e atraso, portando perigosa,” explica. Segundo ela, há 10 anos, a mídia era um oligopólio. Hoje, quase atinge a dimensão de um monopólio,” informa. “Monopólio, mão única, ideologia da competência, interesses obscenos. A manipulação é contínua. É uma coisa nauseante”, discursa, em um tom de indignação.
Marilena Chauí afirma que a internet pode ser um fator de democratização do acesso à informação, mas também de controle. Ela aponta a suposta vigilância e controle dos equipamentos informáticos, com hegemonia dos Estados Unidos e do Japão.
NEOLIBERALISMO
Ligada ao PT, ela ataca o neoliberalismo. “O encolhimento do espaço público e o alargamento dos espaços privados.” Em uma crítica velada aos oito anos de gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso (SP), ela relata que o ‘remédio neoliberal’ seria um engodo.“Como mostram as crises da União Europeia e dos Estados Unidos,” explica. Especialista em Spinosa, a professora diagnostica a desmontagem do sistema produtivo da Europa.“A Europa é um parque jurássico e pode não conseguir se recuperar.”
A democracia é frágil no capitalismo contemporâneo, aponta. Ela exorciza o que define como ideologia da competência técnico-científica.“Um produto da divisão entre as classes sociais, sedimentada pelos meios de comunicação social e que invade a representação política,”teoriza. A filósofa diz que são imensos os obstáculos à democracia no capitalismo.“ A democracia não se confina a um setor social apenas,” fuzila. O cerne da democracia é a criação de direitos e ser aberta aos conflitos, acredita.
Marilena Chauí condena ainda o mito da não violência brasileira. A imagem de um povo alegre, sensual, cordial seria invertida.“ O mito é também uma forma de ação, cuja função é assegurar à sociedade a sua autoconservação. Ele encobre, substitui a realidade,”analisa. Para ela, com a hegemonia da cultura do mito a violência se restringiria à delinquência e à criminalidade, o que legitimaria a ação do Estado, via-repressão, aos pobres, às supostas classes perigosas.
“As desigualdades salariais entre homens e mulheres, brancos e negros, brancos e índios, e a exploração do trabalho infantil e de idosos são considerados normais,”discursa.“É no fiozinho da vida cotidiana que você vê o grau de violência da sociedade brasileira:você sabe com quem está falando?” analisa. A ex-secretária de Cultura do município de São Paulo afirma que a sociedade brasileira é autoritária.“O Supremo [STF] é a expressão máxima do autoritarismo,” provoca. “Nós precisamos de quase 30 anos para criar a Comissão Nacional da Verdade,”desabafa. A CV surgiu em 2012. Ela cita como exemplo diferente a instituição da Comissão da Verdade da África do Sul,logo após o fim do Apartheid, regime de segregação social e racial. Ela culpa o sistema político do Brasil, que teria sido criado pelo general Golbery do Couto e Silva, bruxo da ditadura civil e militar (1964-1985).“Ninguém mexeu na estrutura política [deixada pelo regime militar],” pondera.
RENAN CALHEIROS
Crítica, Marilena Chauí avalia que o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), [que abençoou os governos de Fernando Collor de Mello (1990-1992), Fernando Henrique Cardoso (1995- 1998 e 1999-2002), Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006 e 2007-2010) e Dilma Rousseff (2011-2013] faria parte da ordem natural das coisas no Brasil.“A sua figura, não é a exceção, mas a regra,” dispara. É uma coisa esquizofrênica, metralha. “Mas uma reforma política ampla poderia nos libertar.”
QUEM É MARILENA CHAUÍ
Personagem do Café com Ideias, Marilena Chauí é professora titular de Filosofia Política e de História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Nascida no município de Pidorama, Estado de São Paulo, no ano de 1941, ela é filha do jornalista Nicolau Chauí e da professora Laura de Souza Chauí.
Marilena Chauí é da esquerda democrática e membro-fundador do Partido dos Trabalhadores (PT).
Ela possui graduação, mestrado e doutorado em Filosofia. A filósofa é autora de livros como O que é Ideologia, Coleção Primeiros Passos, Editora Brasiliense, Convite à Filosofia; A Nervura do Real: Espinosa e a Questão da Liberdade. Mais: Simulacro e Poder - Uma Análise da Mídia (1996), Editora Fundação Perseu Abramo. Ela faz ainda a apresentação de A Invenção Democrática - Os limites da dominação totalitária (2011), Coleção Invenções Democráticas (Autêntica).
A professora de Filosofia da USP  Marilena Chauí exerceu ainda o cargo de secretária de Cultura da Prefeitura de São Paulo na administração da prefeita Luiza Erundina, à época no PT. É eleitora de Lula & Dilma e crítica da mídia. 
Fonte: Diário da Manhã

domingo, 10 de março de 2013

 

Estudante coagido em ônibus da UFRJ



De: Coletivo de Estudantes Negros da UERJ <denegrir_uerj@yahoo.com.br>

Enviadas: Quinta-feira, 28 de Fevereiro de 2013 16:10
Assunto: Estudante Negro da UFRJ é coagido a sair de ônibus universitário


Na terça-feira dia (26/02) , às 22h, voltando do IFCS onde assistia a aula, o estudante  de Filosofia negro, Aparecido de Jesus Silva, foi coagido pelo motorista do ônibus universitário para que se retirasse do mesmo.
Aparecido relata que  pegou o ônibus de número 160, placa KXW 4619, para o alojamento no terminal Rodoviário da Cidade Universitária. Ao entrar pela traseira do ônibus (que é gratuito) e sentar ao fundo, o estudante teria visto o condutor gesticular com as mãos e perguntar “Você vai para onde?” . “[o motorista] Parecia nervoso com minha presença”, informou.
Após parar em um ponto na cidade universitária, o condutor então teria aberto a porta dos fundos e  reclamado: “Não vai descer não”? Aparecido esclarece que apesar de haverem outros estudantes indo em direção ao alojamento, ele foi o único abordado.
A situação se agravou quando chegaram à Prefeitura Universitária. De acordo com os relatos o condutor teria aberto a porta do ônibus e dito: “você vai para onde? Desce do ônibus!”. Surpreso, Aparecido perguntou se era com ele “ É com você mesmo!! estou indo para o alojamento e você não vai ficar andando de graça. Desce do ônibus!”, teria gritado o motorista. Não satisfeito com a coação moral, percebendo o caráter racista da mesma, o estudante respondeu que o condutor deveria continuar a viagem pois era a função dele. Foi então que o motorista o teria ameaçado: “Você não vai descer não? Quando chegar no ponto final você vai se arrepender”, repetiu por diversas vezes.
Não se deixando abalar, de acordo com o seu próprio relato, teria respondido:  “Qual é o seu problema? Porque você não perguntou nada para as outras pessoas? Você é racista. Posso chamar a PM e prender você agora. Onde está a placa com o seu nome”.
Aparecido informa ainda que durante esse percurso final da viagem o motorista teria ironizado o fato de que pretendia anotar o número do ônibus. “Ele me ameaçou. Quero saber como vai ficar minha segurança aqui na Universidade (UFRJ) que estudo.” reclamou.
Procurada por nossa equipe de reportagem, a assessoria de imprensa da UFRJ informou que já recebeu a reclamação na ouvidoria e buscará as informações pertinentes para realizar as medidas cabíveis ao caso.
Atualização 1: A Assessoria de Imprensa da UFRJ informou que os ônibus universitários são gratuitos para todos que circularem pelo Campus, sendo estudantes ou não, e que o serviço é  terceirizado.

PS: Gente vamos abarrotar o email do Reitor da UFRJ e encaminhar emails de solidariedade ao jovem estudante!! Paulino

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domingo, 3 de março de 2013

 

Blog do Miro: Os desafios da comunicação em rede


Por Dênis de Moraes, no blog da Boitempo:

A comunicação alternativa e contra-hegemônica em rede refere-se a um processo participativo na rede mundial de computadores que envolve indivíduos e grupos afinados com uma visão politizadora do jornalismo, a partir do reconhecimento do campo informativo como uma arena marcada por disputas de sentidos pela hegemonia política e cultural. O fato de a internet não estar submetida a centros controladores e crivos midiáticos proporciona uma margem acentuada de liberdade de expressão, além de favorecer a convergência em torno de ideias, valores e mobilizações por afinidades eletivas.

O ecossistema virtual, descentralizado e interativo, torna possíveis práticas comunicacionais que questionam formas de dominação impostas pelas classes e instituições hegemônicas, sustentadas ideologicamente pela mídia corporativa. Sob tal prisma, a comunicação é alternativa porque se estrutura para o trabalho político-ideológico, contrapropõe conteúdos críticos e tem métodos colaborativos de gestão e formas não mercantis de financiamento.

Essa concepção põe em relevo a necessidade de se imprimir à produção jornalística uma direção antagônica à dos grupos midiáticos. O que significa assumir a opção preferencial pela difusão de informações e análises que contemplem temas de interesse coletivo e comunitário, numa perspectiva favorável à expressão de anseios geralmente subestimados ou interditados nas pautas e coberturas de veículos tradicionais.

Quatro características distinguem a comunicação alternativa em rede: a) compromisso com a universalização dos direitos humanos; b) não se impõem óticas interpretativas únicas na apreciação dos fatos e acontecimentos, rompendo com a cadeia de subordinação aos crivos ideológicos e idiossincrasias das corporações midiáticas; c) a dinâmica virtual estimula trocas e interações; d) seguem-se os princípios inclusivos da publicação aberta (leitores podem adicionar comentários, textos e fotos) e do copyleft (permissão para reproduzir informações, desde que citada a fonte e sem fins lucrativos, evitando as barreiras impostas pela propriedade intelectual).

Uma variedade imprevista de modos de criação e veiculação manifesta-se através da teia multimídia, permitindo transmissões autônomas de conteúdos em diferentes formatos e linguagens. Incluem-se aí projetos, experiências e veículos ligados a movimentos sociais, populares e comunitários, organizações políticas e grupos militantes que se dispõem ao enfrentamento do sistema capitalista e à construção de modelos de desenvolvimento inclusivos e socializantes. Portanto, não há caminhos únicos, e sim percursos a serem explorados conforme peculiaridades socioculturais, habilidades técnicas, especializações, focos variáveis e correlações de forças específicas. Para isso, os meios alternativos utilizam-se de redes sociais, blogs, listas de discussão e correio eletrônico para disseminação de ideias, convocatórias de eventos e campanhas, interações e permutas de dados, imagens e arquivos sonoros. Tudo isso facilitado por conexões infoeletrônicas e tecnologias móveis que desfazem barreiras geográficas e instituem formas mais ágeis de contato, entrosamento e articulação.

Tais projetos comunicacionais não se esgotam no plano informativo em sentido estrito e estabelecem vínculos com o ativismo contra-hegemônico, visto que esse tipo de elaboração informativa tem afinidades programáticas e entrecruzamentos com o conjunto mais amplo dos organismos reivindicantes da sociedade civil. Trata-se de transcender o âmbito comunicacional para associar-se a projetos de transformação da sociedade, o que só se revelará viável se os protagonistas envolvidos – os veículos e seus jornalistas e colaboradores – adotarem padrões informativos capazes de traduzir coerentemente os pressupostos editoriais.

Nessa vertente, as ações comunicacionais contra-hegemônicas atuam como ferramentas para a comunicação no campo popular, sem deixar de lado a militância social, ficando implícito que jornalistas e/ou comunicadores devem estar alinhados com forças sociais empenhadas nas batalhas pela democratização da palavra e da informação. A ampla variedade de iniciativas de comunicação alternativa em rede expressa a heterogeneidade de movimentos, organismos, grupos e coletivos provenientes de diferentes lugares e contextos, com singulares acumulações de experiências e leques de propósitos. Mas os participantes compõem, com ritmos e ênfases peculiares, o mesmo campo: o da oposição ao domínio dos conglomerados midiáticos e à mercantilização da vida e da informação. Repõem, ainda que com raio de abrangência muito inferior à dos meios massivos, a circulação social de conteúdos críticos, com o intuito de fecundar contrassentidos e reinterpretações de fatos e acontecimentos.

A despeito de tais potencialidades, cabe problematizar algumas questões. O aprofundamento da comunicação contra-hegemônica em rede vai depender de plataformas tecnológicas mais evoluídas, de maior compartilhamento de ações convergentes e de sustentabilidade econômica. São pilares de sustentação para que se possa diversificar e intensificar a distribuição e o intercâmbio de conteúdos em múltiplos e simultâneos pontos da rede.

Admitamos ser relativamente reduzida a ressonância da comunicação alternativa em rede no conjunto da sociedade. Seria o caso, desde logo, de perguntar: como concorrer com as infernais máquinas de produção simbólica que se fundamentam na alarmante concentração monopólica da mídia? De modo geral, a penetração dos meios contra-hegemônicos que vicejam na internet é expressiva em setores mais organizados, formadores de opinião e segmentos politizados. Prováveis motivos: inadequação de linguagens ou de formatos, discursos excessivamente ideológicos, baixa penetração da internet em zonas populacionais carentes, etc. Daí ser necessário debater, definir e tentar executar políticas de comunicação eletrônica mais eficientes e incisivas, com o aproveitamento de todos os meios e metodologias de divulgação disponíveis, como, por exemplo, boletins eletrônicos, eventos que atraiam a atenção de novas audiências, estratégias ousadas para redes sociais e maior integração das experiências dispersas ou concomitantes em plataformas comuns de difusão.

Outro obstáculo a superar é a infoexclusão de populações de baixa renda. O universo de usuários, por mais que venha aumentando exponencialmente, não corresponde à totalidade social, que é contraditória e desigual. Há grave assimetria entre o crescimento das fontes tecnológicas de informação e a capacidade de inclusão da base da sociedade nos novos cenários. A universalização dos acessos depende de políticas públicas que expandam os usos sociais, culturais, educativos e políticos das tecnologias; do desenvolvimento de infra-estruturas de rede em banda larga; de investimentos e fomentos públicos permanentes; do barateamento de custos teleinformáticos; de formação educacional condizente, entre outros quesitos.

Por fim, mesmo considerando promissor o alargamento dos espaços para a disseminação de informações veraz e plurais, em bases não mercantilizadas, seria uma ilusão crer que a internet possa suplantar o poderio midiático. É uma variante a mais na intrincada batalha das ideias na arena da comunicação. Sabemos que a rede não escapa de ambiguidades e ambivalências. Basta verificar os contrastes entre o ativismo anticapitalista, a explosão de blogs e páginas em redes sociais e a obsessão por ganhos dos mercados financeiros on line e do comércio eletrônico.

É importante realçar ainda que a valorização da comunicação alternativa em rede não significa, em absoluto, substituir o mundo vivido pela realidade virtual. Imaginar o contrário seria aceitar ou convalidar impulsos voluntaristas que subestimam mediações sociais e mecanismos consagrados de representação política. As mobilizações presenciais seguem sendo insubstituíveis, porém podem ser reforçadas pelas ferramentas virtuais, como parte da longa luta por direitos sociais, políticos e culturais da cidadania.

Notas:

[1] Este texto baseia-se em reflexões que desenvolvo no meu livro Mídia, poder e contrapoder, a ser lançado brevemente pela Boitempo Editorial.

[2] A versão eletrônica (ebook) de O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos, de Dênis de Moraes, já está disponível por metade do preço do impresso na Gato Sabido e na Livraria da Travessa!

* Dênis de Moraes é professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da UFF e pesquisador do CNPq e da FAPERJ. Autor de mais de 20 livros publicados no Brasil, na Espanha, na Argentina e em Cuba, entre os quais Vozes abertas da América Latina (2011), La cruzada de los medios en América Latina (2011), Mutaciones de lo visible: comunicación y procesos culturales en la era digital (2010), A batalha da mídia (2009). Em abril próximo, a Boitempo publicará seu novo livro, Mídia, poder e contrapoder: da concentração monopólica à democratização da informação, em parceria com Ignacio Ramonet e Pascual Serrano.

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