segunda-feira, 6 de julho de 2015

 

Hélio Santos - O preço do sucesso para os negros!!!



Do blog Brasil de Carne e Osso
http://brasildecarneeosso.com/2015/07/04/o-preco-do-sucesso-para-os-negros/

O episódio lamentável do esdrúxulo caso de racismo cometido contra Maria Julia Coutinho – a Maju – deve ser visto em sua exata dimensão. O destaque de negras e negros incomodam. A comunicadora Maria Julia tornou-se uma febre televisiva. Conquistou um estupendo sucesso numa área cinzenta dos noticiários – com o perdão do sentido duplo da palavra – em que a mesmice é a marca, que é a da informação do tempo. A criatividade, carisma e beleza de Maju fizeram com que O Jornal Nacional – principal programa da Rede Globo – passasse a ter como atração a comunicadora que fala da previsão do tempo!
Foto divulgação/ TV Globo: Maju Coutinho
Foto divulgação/ TV Globo: Maju Coutinho
Para quem conhece Maria Júlia desde a adolescência como eu o seu sucesso seria questão de tempo. Este ataque poderia ser letal caso ela não fosse filha de quem é. Seus pais, amigos meus de longa data, são educadores e ativistas. São daqueles ativistas sóbrios e firmes em suas posições, mas proativos e muito focados na educação, como professores que são. Portanto, ela soube desde sempre, com os pais que tem, dos meandros do racismo brasileiro. Vai tirar de letra essa estupidez, pois tem autoestima positiva e pleno conhecimento da causa dos ataques sofridos: seu sucesso espetacular! Menos mal. Sua carreira que é sucesso desde a TV Cultura vai continuar em ascensão.
Comentaram comigo a respeito dos ataques e, confesso a vocês, não me dei ao trabalho de lê-los. Me horrorizam as frustrações de pessoas adoecidas. Não se trata de fuga, mas sim de um tipo de compreensão que há muito tempo tenho sobre o funcionamento da discriminação racial aqui em nosso injusto país.
Portanto, estou tranquilo quanto à Maria Julia – filha de um casal de amigos queridos. Entretanto, vou aproveitar para analisar este episódio – que não é um fato isolado – em “sua exata dimensão”.
De início, gostaria de fazer uma advertência aos meus leitores: esse tipo de agressão contra negros de sucesso deverá aumentar. Em meados dos anos 1990, quando coordenava um Grupo de Trabalho encarregado de colocar na agenda pública as políticas afirmativas para negros, dentre os diversos debates sobre os impactos estratégicos positivos que o Brasil teria com aquelas políticas – fato hoje comprovado por diversos estudos –, especulávamos sobre o fato de que ainda teríamos no futuro uma onda de racismo explícito. Sim; porque racismo à brasileira sempre se teve: todos negam serem racistas e todos conhecem diversas pessoas racistas! Uma verdadeira “obra prima” da hipocrisia nacional. Aquela especulação se convalida a cada vez mais.
Todavia, o que especulamos há cerca de 18 anos atrás naquele Grupo de Trabalho precursor foi sobre os efeitos das políticas afirmativas num país racista, em virtude da emergência de negros em destaque: diretores de grandes corporações, juízes, políticos, profissionais liberais, reitores, cientistas e profissionais do mundo da comunicação, dentre outros.
Vivemos num país em que a filha de um governador negro foi agredida e empurrada por um casal para fora do elevador social de um prédio de luxo. O fato se deu em Vitória, capital do Espírito Santo, em 1993. Para os agressores “uma empregadinha” não podia estar ali. Aliás, a ideia de elevador social e de serviço é um escândalo “apartheista” que resiste bravamente aqui em pleno século 21.
Foto divulgação: Benedita da Silva
Foto divulgação: Benedita da Silva
A ex-governadora e ex-favelada, hoje deputada federal, Benedita da Silva, pagou o seu preço (muito caro) quando governou o Rio de Janeiro. Celso Pitta, quando prefeito da maior cidade da América do Sul, foi tratado por entrevistadores de TV como marginal fosse. Joaquim Barbosa, que nunca foi conservador, pelo contrário, ao ser considerado como o brasileiro mais influente, apontado como provável presidente da república, pediu aposentadoria, quando dispunha de um bom tempo para se manter no STF – local onde todo jurista sonha estar e permanecer… Quando presidente da Suprema Corte sofreu agressões explícitas; inclusive em solenidades públicas, como na Câmara dos Deputados.
Foto divulgação: Joaquim Barbosa
Foto divulgação: Joaquim Barbosa
Negros e negras que se destacam, em qualquer contexto, correm riscos no Brasil. Nossos erros e eventuais falhas contam contra nós negros – sim. Mas contam menos do que o nosso sucesso. Este último costuma ocasionar mais danos para nós do que os primeiros. Por isso, os ataques à nossa Maju não representaram para mim algo inusitado. Lamentável – sempre –; mas previsível para quem se dedica a decifrar o “brasil de carne e osso”.
Não sou uma Cassandra que crê que tudo vai piorar sempre. Acredito num futuro em que medidas como as previstas pela Lei 10639/2003 possam fazer com que a diversidade étnico-racial brasileira seja utilizada como um trunfo; um valor estratégico invejado por outras nações.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

 

VAMOS POR FOGO À CASA GRANDE!

Do Portal Áfricas:http://www.portalafricas.com.br/v1/vamos-por-fogo-a-casa-grande/




Queridos, queridas colegas, amigos , companheiras e camaradas,

Ao longo dos últimos anos tenho visto as pesssoas negras reagir ao conteúdo de um anúncio publicitário, de um programa humorístico,  da frase de um jogador, de ginasta ou técnico de futebol. Reclamamos de nossa ausência na magistratura, nos cargo de docência das universidades públicas, da nossa subrepresentação nos cargos de primeiro escalão, em especial, no Governo Federal que, como sabemos foi eleito majoritariamente com o voto negros. E issó é bom!!

Entretanto, penso que precisamos deixar de reagir as representações que os brancos tem de nós e discutir o que realmente importa: o poder.

Duante os últimos trinta anos acreditamos no caminho propostos pelos canais democráticos, organizamos a sociedade cívil, campanhas de esclarecimento, luta institucional em diferentes esferas, participamos dos mais diferentes partidos políticos, conseguimos assim enfrentar o mito da democracia racial brasileira. Obrigamos os poderes legislativo , executivo e judiciárioa reconhecer a existência do racismo e a elaborar políticas de promoção de igualdade racial.

Assim, açãos universialistas, combinadas com recorte racial de de gênero, como bolsa família, PROUNE, FIES, PRONATEC, Minha Casa, Minha Vida, Ciência Sem Fronteiras, Luz para Todos, valorização do salário mínimo, entre outros, pareceu nos alavancar para a classe média e a vivência cidadã.

Entretanto, para mosso desespero, nunca nos encarceraram tanto, nunca nos mataram tanto. Certamente, dados das agências de saúde devem indicar o brutal impacto do sofrimento psíquico associado ao racismo na degradação de nossa saúde mental.Por último, avalanche conservadora e fascista, capitaneada pelo fundamentalismo cristão ameaça destruir tudo o que cosntruimos de liberdades nas últimas décadas. 

Em minha opinião, nós chegamos ao limite daquilo que os descendentes de colonos europeus, autodenominados brancos, estão dispostos a negociar. Sejam eles de esquerda ou de direita, sejam conservadores ou progressistas, eles controlam os mecanismos de legitimação democrática e grande parte de nós, de nossas organizações do movimento social, foram reduzidos a ONGs que vivem de migalhas do Estado ou da filantropia.

Precisamos voltar ao básico ancorados nas lutas por libertação de povos oprimidos em todo mundo. Necesitamos focar nossa ação na educação política da nossa população para o enfrentamento do colonialismo. Afinal, o racismo é somente isso,  a face contemporânea do colonialismo. Aqueles que detém os privilégios da distribuição de status, prestígio e poder, não cometeram suicídio político por terem sido esclarecidos da natureza racista de suas ações.

Neste sentido, acredito ser estratégico tornar o caso Miriam França referência para ação do movimento negro. Nós temos que ser capazes de defender nossa gente contra as injustiças cotidianas causadas pelos colonos. Centenas, milhares de pessoas negras precisam dizer , em primeiro lugar, aos nossos irmãos e irmãs oprimidos/as que não estão sózinhos/as. Racistas de toda ordem devem ser lembrados que seus atos terão consequências, na medida em que a violência necessita de nosso silêncio cumplice para se perpetuar.

Aqueles que ocupam espaços de poder e não se acham vinculados a nós, nos veem como um problema para os governos, não passam de novos administradores coloniais, novos feitores da eterna Casa Grande.O exercício da ação governamental não pode servir apenas as nossas redes de poder, as nossas afinidades eletivas, mas deve ser instrumento de fortalecimento das organizações do campo antirracista.

Entendo como absolutamente fundamental que o movimento organize uma plenária para uma definição de agenda política para a década dos Afrodescendentes, como fazem os nicaraguense s, colombianos, espanhóis, entre outros. Nesse sentido, devemos todos apoiar de forma agressiva a Marcha das Mulheres Negras porque a mobilização que ocorre em todo país tem revelado milhares de lideranças locais que podem renovar o movimento negro. 

Precisamos de um fórum para eliminar controvérsias e pactuar agendas baseadas em nossas próprias experiências. Precisamos preparar nossa gente para as batalhas que virão, para arrancar dos brancos e seus capatazes nosso direitos de sonhar como homens e mulheres livres.

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