terça-feira, 27 de janeiro de 2015

 

Candidatura ao CNE (Manifesto apoio à indicação de Paulino Cardoso)

Prezadas (os)colegas, boa tarde.
Através deste e-mail me manifesto a favor da indicação do nome do Professor Paulino de Jesus Francisco Cardoso para o preenchimento da vaga de membro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, vaga esta de indicação do Movimento Social Negro e que está vacante com a nomeação da Profa. Nilma Lino Gomes para o cargo de Ministra da SEPPIR.
A conhecida militância do Prof. Paulino no Movimento Negro de Santa Catarina e de São Paulo e a sua qualificada trajetória acadêmica, estreitamente vinculada aos estudos e pesquisas sobre populações negras e suas formas de organização na luta histórica contra o racismo, incontestavelmente, o credenciam e legitimam sua candidatura à composição de um fórum como o CNE cuja importância das atividades normativas e regulatórias no âmbito da educação brasileira, exige de seus membros, preparo, formação, conhecimento, experiência e capacidade de articulação nacional.
Nascido em Florianópolis, Paulino iniciou sua militância em 1983, no Grupo de União e Consciência Negra. Em 1985, juntamente com Dora Bertúlio, Jeruse Romão, Lino Peres, Márcio de Souza, Ivan Costa Lima, entre outros, fundou o Núcleo de Estudos Negros de Santa Catarina. Dois anos depois, com Ivanir dos Santos, Ele Semog, Amauri Mendes Pereira, Sueli Shan, entre outros, participou da organização do I Encontro de Negros da Região Sul Sudeste. Transferido para São Paulo, na Pontifícia Universidade Católica contribuiu na criação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, o NEAFRO. Neste Núcleo uma boa parte da nossa geração fez uma opção importante, fazer da academia nosso campo de militância, exercitando a produção acadêmica e a reflexão teórica como uma das mais importantes armas no desenvolvimento da luta antiirracista. Talvez, um dos frutos mais importantes desse período tenha sido  trazer a África para os nossos estudos acerca das experiências das populações negras no Brasil contando com o apoio de professores como Kabengele Munanga, Josildeth Consorte e Fábio Leite.  Com os colegas Lucilene Reginaldo, Carla Nascimento, Dagoberto Fonseca, Acácio dos Santos, Alvaro Pires, para citar apenas alguns, construímos o Seminário Superar a Denúncia: O Desafio do Movimento Negro, no qual participaram personalidades como Lelia Gonzales, Dulce Pereira, Hamilton Cardoso, Otávio Ianni e Julio Cesar Tavares.
Em 1994, o Prof. Paulino passou no concurso para a disciplina Teoria da História na Universidade do Estado de Santa Catarina. Um ano depois com Neli Góes Ribeiro, criou o Grupo de Trabalho Educação e Desigualdades Raciais, que formulou e implementou o Curso de Especialização em Educação, Relações Raciais e Multiculturalismo. No Curso de História  foi um dos responsáveis pela criação da disciplina História da África como disciplina obrigatória.
Por essa época, durante a realização do Seminário Internacional Multiculturalismo e Políticas de Ação Afirmativa no Brasil (1996), organizado por Dulce Pereira, então, presidente da Fundação Cultural Palmares, participou da formulação da articulação nacional de núcleo de estudos afro-brasileiros. Iniciativa que, com apoio de Carlos Moura, na presidência da FCP, e do saudoso Ubiratan Araujo, na Direção do Centro de Estudos Afro- Orientais, possibilitou a realização do primeiro Encontro de Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (2000). Neste Encontro foi elaborada uma minuta de acordo entre FCP e CNPq para o fortalecimento institucional dos NEABS. Participou com Lidia Cunha e Henrique Cunha Jr. da organização do I Congresso Brasileira de Pesquisadores Negros, da fundação da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (2000) e do Consórcio Nacional de Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros – CONNEABS.
Da parceria entre a ABPN, na presidência de Nilma Lino Gomes, do Consórcio de NEABS, da SECAD/MEC representada por Eliane Cavalheiro e Valter Silvério, da SESu/MEC através de Déborah Silva Santos e de Ivair dos Santos na Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça foram criados o Programa Brasil Afro-Atitude que garantiu, através do Ministério da Saúde, bolsas de permanência para estudantes universitários cotistas e o Programa UNIAFRO- Ações Afirmativas para Populações Negras nas Universidades Públicas, responsável pela fortalecimento e expansão dos Neabs. Dessa mesma parceria também foi institucionalizado o Comitê Técnico Nacional de Diversidade para Assuntos Relacionados à Educação dos Afro-Brasileiros – CADARA/MEC.
Em Santa Catarina, participou da criação do Conselho Estadual das Populações Afrodescendentes (CEPA), do Núcleo de Educação Afrodescendente da Secretaria de Estado da Educação, do Fórum Estadual de Diversidade Etnico-Racial na Educação, bem como dos programas municipais para diversidade étnica na educação dos municípios catarinenses tais como Florianópolis, Criciúma, Itajaí e São José.
Na UDESC, o Prof. Paulino foi Diretor de Pesquisa e Extensão da FAED/UDESC, Secretário Executivo da Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão-FIEPE, Coordenador do Mestrado em Educação e Cultura e do  Núcleo de Estudos Afro- Brasileiros. Coroando sua trajetória na administração universitária, o Prof. Paulino foi Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Comunidade. Nesta função contribuiu para aprovação e implantação do Programa de Ações Afirmativas e do Programa de Assistência Estudantil. Empenhou-se na ampliação do número de bolsas de extensão  e duplicou  os recursos disponíveis para projetos culturais e de extensão  universitária.
O conhecimento e a experiência que o Prof. Paulino adicionou à sua formação ocupando a função de presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros – ABPN, nesses últimos anos, bem como os diversos e notórios avanços organizativos, materiais e políticos que todos nós, ligados ou não à educação, pudemos acompanhar durante a gestão do Prof. Paulino à frente da nossa Associação funcionará, seguramente, como uma garantia de que o Prof. Paulino continuará nos representando, a exemplo dos antecessores, com as mesmas -ou com maiores- possibilidades políticas de fazer avançar cada vez mais a nossa luta pelo reconhecimento e institucionalização das nossas demandas específicas no que diz respeito à promoção da igualdade étnico-racial no campo da educação nacional, não só nos limites da educação básica, mas também, no âmbito do ensino superior, seja na graduação ou na pós-graduação.
Como ex-conselheiro da Câmara de Educação Básica do CNE posso afirmar com a absoluta segurança que a estreita e dialógica proximidade com o Movimento Negro, a capacidade de articulação política e institucional, a vantagem de estar à frente da condução da -salvo engano improvável-, maior organização acadêmica negra brasileira na atualidade, contando com suportes humanos -sobretudo, jurídicos- e suportes materiais necessários, são fatores indispensáveis, não os únicos, evidentemente, para uma boa atuação como conselheiro do CNE em qualquer uma das suas Câmaras. Afirmo isso com convicção e certeza, pois hoje, já transformada a experiência de participação no CNE em reflexão, posso avaliar que, ao lado dos acertos, as imensas dificuldades e obstáculos que encontrei naquele Conselho se deveram exatamente por eu não ter encontrado, naquela ocasião, as condições satisfatórias que aponto acima.
Não bastasse todos os fatores  favoráveis à indicação do Prof. Paulino para conselheiro do CNE dois, particularmente devem ser destacados. De um lado, a legitimidade da representação, ancorada em uma trajetória intelectual, profissional e pessoal de dedicação ao atendimento das demandas educacionais do povo negro à frente do NEAB da UDESC, um dos mais ativos do país, na organização das 5edições do Seminário Nacional Educação, Relações Raciais e Multiculturalismo e nas 3 edições do Seminário Internacional Áfricas, na organização do VII CBPN e na atuação como professor e orientador no Programa de Pós-Graduação em História da UDESC. De outro lado, a possibilidade de, através da representação no CNE, potencializar a merecida posição da ABPN como interlocutora legítima e altamente qualificada, em todas as instâncias e fóruns públicos de construção, implementação, controle e avaliação de políticas públicas para a educação, no Brasil.
Finalizo reiterando o endosso à candidatura do Prof. Paulino por concebê-la, acima de qualquer coisa, como uma candidatura incomparavelmente estratégica. Neste momento da nossa trajetória coletiva de luta pela promoção da igualdade étnico-racial, somente representações com essa robustez e abrangência de credenciais serão capazes de ampliar as possibilidades de angariarmos, com relativa rapidez e eficiência, forças suficientes para nos posicionarmos com vigor e eficácia em uma conjuntura que vem se mostrando, flagrantemente, desfavorável às nossas demandas, o que, aliás, historicamente, não tem sido nenhuma novidade.
Abraços.
Wilson Roberto de Mattos
Prof. Adjunto de História da Universidade do Estado da Bahia/UNEB.
Assessor para Assuntos Acadêmicos – Gabinete da Reitoria/UNEB.
Diretor da Editora da Universidade do Estado da Bahia – EDUNEB.
Doutor em História Social – PUC/SP.
Pós-Doutorando em História Comparada – UFRJ.
Diretor de Relações Institucional – ABPN.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

 

Queremos Henrique Cunha Jr - Reitor da UNILAB

Queridos amigos e amigas, pesquisadores e militantes do campo antirracista,
Nos próximos dias o Ministro da Educação Cid Gomes terá a tarefa de indicar o Reitor da UNILAB, em substituição á Prof. Nilma Lino Gomes, hoje, Ministra da SEPPIR, depois de um brilhante trabalho na Universidade.

Criada por iniciativa do presidente Luis Inácio Lula da Silva, para contribuir na integração do Brasil com a lusofonia, em especial, os paíes africanos de língua oficial portuguesa, a UNILAB, embora jovem constituí uma realidade que vem aproximando países com histórias tão intercruzadas e a contribuir para a projeção do Brasil, enquanto país relevante na geopolítica mundial.

Por iniciativa da Comissão Técnica Nacional de Diversidade para Assuntos Relacionados á Educação dos Afro-Brasileiros do Ministério da Educação (CADARA/MEC), reinvindicou-se a indicação de um pesquisador ou pesquisadora e professor negro para a reitoria da instituição, então vago com a saída de Paulo Speller, para a reitoria da instituição. No que fomos atendidos, graças, inegavelmente ao trabalho de Macaé Evaristo , então titular da Secretaria de alfabetização, Educação Continuada, Diversidade e Inclusão (SECADI/MEC) e de  Thiago Thobias, na época assessor do Ministro Aloysio Mercadante. Nilma Lino Gomes demonstrou que além de grande professora, pesquisadora, e militante, poderia ser ótima administradora.

A indicação da Professora permitiu re-orientar a instituição, de modo a valorizar os vínculos entre a África e a Diáspora Africana no Brasil, atraindo pesquisadores negros relevantes como Mathilde Ribeiro, Edson Borges e Acácio Sidnei dos Santos. No último Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros em  Belém do Pará (2014), assinamos com a  reitora Nilma Gomes um acordo de cooperação entre a UNILAB e ABPN,de modo a fortalecer estes laços . Este é um legado pelo qual devemos lutar e , no meu entendimento, o Prof. Henrique Cunha Jr, está mais do que preparado para dar continuidade a este trabalho.

O Professor Cunha, estudou Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1979) e Engenharia Elétrica na Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo (1975). Realizou mestrado em Engenharia Elétrica (1980) e Mestrado em Historia - Universitè de Nancy I (1981) e doutoramento em Engenharia Elétrica pelo Instituto Politécnico de Loraine (1983). Realizou especialização em economia no Escola de Arte e Metiers de Nancy (1983). Prestou concurso de professor efetivo na USP em 1990. Apresentou tese de Livre Docência na EESC - USP em 1993. Prestou concurso com tese de Professor Titular na Universidade Federal do Ceará em 1994. Atualmente é Professor Titular da Universidade Federal do Ceará. Esta formação multidisciplinar lhe habilita a desenvolver pesquisas na área de Engenharia Elétrica,  em máquinas elétricas, sistemas de controle, automação industrial, tração elétrica e ensino de engenharia elétrica, desenvolver atividades acadêmicas na pós-graduação e pesquisa em Educação Brasileira, FACED-UFC, nos seguintes temas Africanidades, Afrodescendência, Espaço Urbano, Relações Étnicas e História e Cultura Africana e Afrodescendentes.

Vale informar , ainda, que o Professor Cunha Jr, é herdeiro da luta antirracista desenvolvidas por militantes negros em São Paulo, desde a primeira metade do século XX. Organizou o I Encontro de Pesquisadores Negros  de São Paulo (1989), I Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros, Recife, (2000), fundador e primeiro presidente da Associção Brasileira de Pesqusadores Negros (2000/2004). Henrique Cunha Jr  traz em seu corpo e vestes as marcas das lutas do povo negro pela sua emancipação, autonomia epistemológica, nascida do diálogo entre a ciência ocidental e a nossa ancestralidade africana.

Para nós pesquisadores e pesquisadoras e militantes antirracistas, Henrique Cunha representa o melhor que há entre nós, e que, igualmente, merece a oportunidade de demonstrar sua excelência e competência em  outros campos da vida universitária.

Por tudo isto, gostaríamos de ver Henrique Cunha Jr reitor da UNILAB. 



quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

 

Luis Nassif: Atentado à liberdade de opinião nos blogs


Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Não vou discutir sentença judicial através do Blog. Digo isso a propósito da condenação que me foi imposta pela justiça do Rio de Janeiro em ação movida pelo jornalista Ali Kamel, das Organizações Globo.

Mas é evidente que a série de ações de grupos de mídia contra jornalistas blogueiros são não apenas um atentado à liberdade de expressão, como um profundo fator de desequilíbrio em um dos pilares da democracia brasileira: o mercado de opinião.


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Em uma democracia, um dos pressupostos básicos são os freios e contrapesos – o sistema de equilíbrio que impede o exercício do poder absoluto.

Quando, a partir de 2005, os grupos de mídia resolveram atuar em forma de cartel no mercado de opinião, acabaram criando um poder quase absoluto de construir ou destruir reputações.

Não se trata de um poder trivial. No mercado de opinião movem-se todos os agentes sociais, políticos e econômicos. É nele que se constroem ou destroem-se reputações. E é também o palco para embates corporativos, para grandes disputas empresariais. Todos são afetados positiva ou negativamente por ele, juízes, ministros, políticos, celebridades, médicos, líderes populares.
E os grupos de mídia reinam de forma absoluta nele.

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Ora, grupos de mídia são empresas com interesses próprios, nem sempre transparentes. E com prerrogativas constitucionais de atuação garantidas pelos princípios da liberdade de imprensa – frequentemente confundido com garantias constitucionais, como liberdade de expressão e direito à informação.

Na maioria das vezes esses interesses se escondem por trás de reportagens enviesadas, de escândalos fabricados, de fatos banais transformados em grandes escândalos, quase todos imperceptíveis a quem não seja do meio jornalístico.

Em um ambiente competitivo, espera-se que funcionem mecanismos de auto regulação. Quando os grupos montaram a cartelização, esse controle deixou de existir. E o resultado foram abusos de toda espécie. Basta conferir “O Caso de Veja” onde descrevo vários episódios da revista.

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Nos últimos anos o único contraponto existente foi o da blogosfera e das redes sociais, mesmo com todos os abusos de um sistema difuso e não controlável.

Foi a blogosfera que primeiro acudiu em defesa da juíza Márcia Cunha, alvo de um crime de imprensa, uma tentativa de assassinato de reputação, do ex-Ministro do STJ Edson Vidigal, ambos os assassinatos a serviço dos interesses do banqueiro Daniel Dantas.

Se não fosse a Blogosfera, a Abril teria esmagado um concorrente no mercado de cursos apostilados; a Globo e a Editora Santillana (que controla o jornal El Pais) teriam liquidado com editoras nacionais independentes, que concorriam em áreas de seu interesse (http://tinyurl.com/n6h97rd).

Dessa falta de limites não escaparam presidentes de Tribunais de Justiça, Ministros do Supremo, como Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. E levaram o então presidente do TRF3,Newton de Lucca, a pregar um “habeas mídia, justamente para evitar o poder absurdo e as interferências das notícias plantadas.

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O conforto trazido pela cartelização levou grupos de mídia a se associarem até a organizações criminosas, como foi o caso da revista Veja com Carlinhos Cachoeira.

Antes, sem o contraponto das redes sociais, a maioria dos grandes grupos de mídia logrou acordos espúrios com governos de plantão, que os livraram de condenações fiscais, renegociaram débitos com bancos públicos em condições vantajosas, blindaram grandes anunciantes, esconderam mazelas de aliados.

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Mesmo com exageros de uma luta radicalizada, foi a ascensão da blogosfera e das redes sociais que permitiu o contraponto, o freio necessário para impor limites às ações abusivas dos grupos de mídia.

A possibilidade de contrapontos ampliou o direito do público à informação, à liberdade de expressão, permitiu ao leitor confrontar opiniões, bater informações para chegar às suas próprias conclusões.

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A tentativa de generalizar, tratando todos os críticos como “chapa branca”, é manobra ilusionista, para não explicitar a razão do verdadeiro incômodo: os limites impostos às jogadas comerciais, às guerras empresariais, aos assassinatos de reputação.

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) criou um grupo de trabalho para impedir ações judiciais danosas contra grupos de mídia; o mesmo fez a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), cujo atual presidente foi vítima de ataques vis de jornais.

Seria importante que se abrisse o debate sobre os atentados à liberdade de expressão e ao direito à informação por parte dessa massa de ações judiciais impondo montantes elevados nas condenações.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

 

O Movimento Negro e o Governo Dilma: atualizando informações

Montado o primeiro escalão do Governo Federal chegamos a conclusão que diferente dos nossos sonhos, a Presidenta Dilma Roussef construiu uma administração com base exclusivamente no seu próprio calculo político, ouvindo vozes que desconhecemos, mas que procurou trazer para si pessoas com grande capacidade de negociação, representação, capaz de fazer frente a um Congresso muito conservador e a uma Mídia Nativa, como diria Mino Carta, que vê em Dilma Rousseff a representante da malta e ponto final.

Nós esperávamos depois de todo o empenho para que a candidata de um amplo arco de alianças comandada pelo Partido dos Trabalhadores, vencesse as eleições, que nós Movimentos Sociais e a militância invertebrada fossem de algum modo ouvidos e tivéssemos um Governo com a nossa cara.

A realidade nos mostrou que Dilma escolheu a institucionalidade, nela reina quem tem voto. Por isso, precisamos evitar a antropofagia típica de qualquer governo e focar na nossa agenda política.

Neste sentido , é preciso deixar claro, que nossas irmãs e irmãos que lá estão a enfrentar o árduo trabalho de desmontagem do racismo institucional e de construção de políticas públicas de igualdade racial, que eles são nossos aliados, mas não representam o Movimento Social. O Movimento Negro representa  a si mesmo!!!

Como em todo Governo democrático, iremos participar dos espaços de controle social que nós conquistamos com membros que nós escolhemos e com a agenda que nós devemos construir com os diferentes parceiros e parceiras institucionais presentes nos diferentes nívesis e esferas de Governo. Portanto, a palavra de ordem é organização. Só como Movimento Negro organizado, capaz de construir consensos e se representar como ator coletivo é que teremos sucesso em nossas agendas.

À luta companheiros!!!!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

 

¿Somos Negras o Afrodescendientes? por Cristiane Mare Da Silva


¿Somos Negras o Afrodescendientes? Al final, nosotras que somos investigadoras, modistas, educadoras, escritoras, madres, etc tenemos que contestar día a día a esta pregunta. 
Negra, Mulata, Negroide, todos sustantivos utilizados para calificar racialmente pueblos de origen africano, palabras desarrolladas por los europeos. No deja de ser irónico, el occidente que ha construido la idea de individuos, al pensar y clasificar a los africanos y otros pueblos no europeos, los han visto como una raza. Por lo tanto, los occidentales y los blancos solamente fueron racializados, cuando esta noción les confirió legitimidad como súper-hombres, pues ellos se miran como la suprema expresión de lo que hay de humano en la tierra, los otros, son cruces o perteneciente a una raza cualquiera y por eso mismo, pudieron ser expropiados, asesinados, esclavizados y adjetivados biológicamente como animales.
Cristiane Mare Da Silva

La pregunta que debemos hacernos es si necesitamos seguir presos a los marcos intelectuales del siglo XIX. Si es correcto imaginar la solidaridad entre africanos y sus descendientes como algo natural y fruto de una atribución de rasgos y valores morales a determinados grupos raciales. Uno no nace negro, pero es educado violentamente para serlo. Nuestros mayores conflictos ocurren cuando decidimos que no queremos ser y existir en los términos del opresor. No deseamos ponernos las gafas cargadas de estereotipos que nos oprimen y llevan nuestras poblaciones muchas veces a la muerte o a la locura.
Comprendemos, cuando líderes como Marcus Garvey, W.E.B Du Bois o Kwame Nkruma se han apropiado de la raza para construir un discurso capaz de enfrentar el racismo y el   colonialismo, y esos discursos fueron construídos a través de las herramientas conceptuales disponibles en su tiempo, y contaron con una gran capacidad de movilización.
Sin embargo, en este siglo, los pueblos del sur del mundo no necesitamos de los mismos instrumentos pues ya hemos aprendido que traen dentro de sí la reificación de nuestra propia opresión. Por esta razón, muchas personas de la diáspora africana, han elegido llamarse afrodescendientes, pueblos que viven una pluralidad de modos y maneras de ser y estar en el mundo, llevan en común nuestro origen africano y rastros culturales.
Cristiane Mare Da Silva
Aunque parezca simplemente un juego de palabras para algunos, o la negación para otros, lo que estamos proponiendo al final, es el cambio de una de las más terribles invenciones de la modernidad, la idea que ha naturalizado el concepto de raza, la creencia que algunos grupos de seres humanos no son identificados por su producción cultural o social, si no por su color de piel. Queremos que nuestra vida y muerte no sean definidos por nuestro nacimiento.
Como tienen la costumbre de afirmar los historiadores estamos en uno de esos  momentos de la historia de la humanidad en que uno mira al pasado en diálogo con su presente, y lucha por las herencias que quiere dejar para el futuro. En nuestro caso un entrelazamiento de lo cual todos, afros y no afros deben comprometerse. Ahora Afroféminas trae en su rol la oportunidad de dejar para el mundo experiencias afros mucho mejores de las que hemos vivido y el profundo deseo de reinventarse.
Autora: Cristiane Mare Da Silva (Brasil)

Mestranda da Puc/SP, Especialista em língua e literatura castelhana, Pesquisadora associada do Cecafro Puc-SP, Pesquisadora associada do núcleo de estudos Afro-Brasileiros Udesc, Secretária de Mulheres da Unegro de Santa Catarina


Más sobre Cristiane:



quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

 

Gabriela Soares:Que pague quem tem culpa, não quem tem cor


Por: Gabriela Soares*
Na história do nosso país não nos é de forma alguma novidade a presença e constante manifestação dos preconceitos e opressões. Tais males estão enraizados em quaisquer que sejam as esferas e instituições sociais. Não surpreende, por exemplo, que nossa justiça julgue com dois pesos e duas medidas os indivíduos, principalmente por sua cor e classe social.
Há pouco menos de 10 dias temos visto um novo exemplo dessa situação. No dia 25 de dezembro de 2014, a turista italiana Gaia Molinari, de 29 anos, foi encontrada morta em Jijoca de Jericoacoara, a 287 Km de Fortaleza (CE). Seu corpo estava em uma trilha afastada, local que carros não conseguiam ter acesso. Desde então a Delegacia de Proteção ao Turista começou uma verdadeira caça em busca de indícios que levassem a alguma resposta sobre quem cometeu o crime. Durante o período inicial da investigação chegaram até a pesquisadora carioca Mirian França, que acompanhava a vítima na viagem. Mirian França de Mello tem 31 anos, é doutoranda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, negra e de origem bastante humilde. De inicio seu depoimento foi tomado como o mais importante, tendo em vista que ela tinha acompanhado os últimos dias de Gaia. O que acontece a seguir?
Com a justificativa de que, ao ser reinquirida, Mirian havia sido contraditória, a polícia cearense decretou prisão preventiva da jovem por 30 dias, a partir do dia 29 de dezembro. Desde então a jovem tem sido impedida de manter qualquer tipo de comunicação com a família e, ao que tudo indica, somente agora a Defensoria Pública começa a se movimentar em sua defesa.
No laudo pericial conta que Gaia teria sido estrangulada, mas que teria resistido, devido aos inúmeros ferimentos e marcas de luta corporal que o corpo dela apresentava. As marcas apontaram também que para sua morte foi necessária muita força física. Em um de seus depoimentos, Mirian apontou indícios que levaram a um homem que também foi tido como suspeito. O mesmo, também italiano como a vítima, foi ouvido e liberado, mesmo a polícia tendo assumido que agora trabalha com a hipótese de um assassinato cometido por duas pessoas, sendo uma delas um homem e a outra sendo “a carioca”,  forma como Mirian tem sido citada, uma vez que para a polícia e para a mídia ela tem sido já considerada quase como culpada, pela forma como aparece nas notícias.
mirian-franca
Página criada no Facebook pede liberdade condicional para Mirian e justiça para Gaia e já conta com mais de 4 mil apoiadores.
A Associação de Pós-Graduandos da UFRJ lançou uma nota exigindo o posicionamento da Universidade no sentindo de cobrar uma condução correta e que respeite os direitos de Mirian França enquanto cidadã. Seus amigos e familiares também tem se mobilizado em redes sociais, buscando fortalecer uma teia de solidariedade e anseio por justiça, tanto para Mirian quanto para Gaia.
Há em todo esse emaranhado de confusões, questões que gritam por nossas reflexões.
Não se trata aqui de declararmos inocência ou culpa de Mirian França. O que trazemos a tona é a necessidade mais que urgente de combatermos o racismo dentro de todos os espaços e em todas as suas múltiplas formas. A prisão da jovem estudante está mais para cárcere privado seguido de convencimento de uma culpa (que ainda não se tem nenhum indício concreto de que seja dela), do que para prisão preventiva mesmo. É no mínimo indignante que a Justiça haja de forma incoerente e anticonstitucional nesse caso se justificando com “sigilo judicial”.
Outra questão que nos salta aos olhos é: se Gaia foi assassinada por um homem, que não tinha intenção de roubá-la, podemos estar diante de um caso de feminicídio, devido à brutalidade com que a mesma foi morta. Sendo assim, estamos diante de quantos crimes contra mulheres? Qual o tamanho do oportunismo midiático e o que ele pode provocar? Se trabalharmos com a inocência de Mirian, temos duas mulheres vitimadas e, até o presente momento, nenhum culpado. Se trabalharmos com a ideia de que Mirian é culpada, ela pagará por dois crimes: a morte de Gaia e pelo crime que aparentamos cometer sendo negras e negros no Brasil.
É de suma importância que acompanhemos de perto esse e todos os outros tantos casos que são envoltos de incertezas e injustiças. Que a conta seja paga por quem tem culpa e não por quem tem cor.
* Gabriela Soares é graduanda em Serviço Social e militante da Marcha Mundial das Mulheres do Ceará.

 

Lola: GENTILI E SEU MODO MASCU DE STAND UP BULLYING


Ontem Gentili publicou um tuíte com a foto de uma ativista que eu não conhecia, a Bruna, estudante da Unesp. 
Ela é lésbica, e, no ano passado, na UFSCar, depois de um trote machista e lesbofóbico, houve uma intervenção com cartazes. Essa da foto era contra a fetichização das relações lésbicas (aquele negócio: as mulheres não são lésbicas para excitarem os homens héteros; aliás, elas não estão nem aí com o desejo dos homens héteros nem, inclusive, com o julgamento dos homens sobre o corpo delas). 
No final do ano vários grupos machistas expuseram Bruna em suas páginas. Ela recebeu mais de cem mensagens com todo tipo de ofensas. 
Também descobriram seu número do celular e passaram a ligar pra ela. Esta é a metade de um comentário que um rapaz deixou na página de Bruna. Perceba como ele gasta várias linhas para chamá-la de feia e gorda, mas o que o incomoda mesmo é que ela seja feminista:

Gentili decidiu jogar mais lenha na fogueira, tuitando a imagem (obviamente sem permissão de Bruna) para seus 8 milhões de seguidores. É o tipo de "humor" tão conhecido quanto raso: vamos chamar de gorda uma moça gorda (que está dizendo justamente que não dá a mínima pra vocês). Como eles se sentem insultados com o desprezo que uma moça gorda e feminista tem da opinião deles!
Roger e Gentili
sabiam que era
montagem
Pelo jeito aquela postagem deu início a uma sessão "Vamos xingar feministas", e um reaça qualquer tuitou uma montagem que fizeram de uma foto minha pro Gentili. Não sei quem fez ou quando foi feita a primeira montagem. A primeira vez que eu vi foi em outubro ou novembro no twitter de um mascu chamado Macho Alpha. A foto verdadeira é esta, com um cartaz escrito por mim, que diz "Resolução de meio de ano? Revolução". A linda e querida Virgínia pediu pra que tirassem a foto na Marcha das Vadias de Recife, em maio de 2013.

Um dos lunáticos mais obcecados por mim, o mascuchris (fiz BO contra ele no penúltimo dia do ano), que durante mais de um ano dedicou 500 posts pra me caluniar, no início de dezembro usou a imagem falsa para fazer mais um post me atacando. Isso porque ele acha que sempre foi cortês comigo. Pois é, usar imagens alteradas é cortesia de mascu!

Voltando ao Gentili, um reaça mandou a imagem falsa pra ele, e, em seguida, afirmou tratar-se de uma montagem. Ele mandou pro Gentili, e pro inútil mascote de TV Roger, um tuíte com a imagem original (eu que apaguei o rosto da menina, claro):

Gentili e Roger tuitaram a minha imagem como se fosse verdadeira. Quando vi isso, ontem, perguntei pro pessoal que me segue no Twitter se isso vale processo, e muita gente respondeu que sim. Então, vamos lá. Quero tentar processar, só preciso de advogadx.

Porque é impunidade demais, sabe? É muita terra de ninguém. Um breve histórico do Gentili, bem resumido mesmo.
Em 2009 Gentili comparou jogadores brasileiros de futebol a King Kong. Houve várias reclamações, e ele se justificou desta forma: "Peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só porque sou branco que eu escravizei um negro". Ele não compreendia por que "posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco". 
Cinco anos depois, ele ainda não havia entendido que existe algo chamado contexto histórico. Na mesma semana em que seu ídolo Olavo de Carvalho se autodenominou a pessoa mais perseguida da história do Brasil, Gentili disse que sua equipe o chamava de palmito, e como aquilo sim era racista. 
Em outubro de 2012 Thiago Ribeiro, um jovem redator negro, fez um vídeo em que juntou vários momentos racistas de Gentili. O humorista respondeu com este tuíte:

Na época, Gentili tinha metade dos seguidores que tem hoje no Twitter. Muitos desses quatro milhões foram xingar Thiago, que fez denúncia ao Ministério Público de SP e à Polícia Federal. Também fez BO na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. 
Sabe como esse caso acabou? Em abril do ano passado, a 10a Vara Criminal da Justiça de SP concluiu que Gentili não ofendeu Thiago porque não houve "propósito e intenção de ofender a vítima". Para o juiz, foi só uma piada. Porém, mesmo absolvendo Gentili, o juiz ressalvou: "Quando direcionada a uma pessoa específica, [a piada] faz nascer um conflito entre a liberdade de expressão e a proteção dos direitos de personalidade". Portanto, segundo o juiz, Thiago poderia pedir indenização a Gentili por danos morais em uma vara cível. Pelo que sei, Thiago está fazendo isso.

E Gentili, este defensor incansável da liberdade de expressão, conseguiu tirar o vídeo de Thiago do ar, por meio da cláusula de uso de imagem. 
Quer dizer: oferecer bananas a um negro, chamando-o de macaco, ok. Denunciar racismo, não pode. Que bom que depois veio o episódio do "Somos Todos Macacos", em que pessoas brancas que nunca foram chamadas de macaco na vida vestiram camisetas, acabando assim com o racismo no Brasil... talvez para sempre
Em outubro de 2013, quando ainda estava na Band com o "Agora é Tarde", Gentili dedicou um minuto e meio na TV para insultar Michele Maximino, que seria uma mulher comum, casada, mãe de dois filhos, moradora de uma cidadezinha em Pernambuco, se não fosse um detalhe: ela era a maior doadora de leite materno do país. 
Durante meses, desde que a caçula era bebê, Michele esterilizava os potes, fazia a coleta do leite (após amamentar sua filha), e, junto com o marido, dirigia 80 km para levar os potes até uma maternidade em Caruaru, onde sua doação diária era responsável por 90% do banco de leite do hospital. Esse leite ia principalmente para os bebês prematuros na UTI.
Porém, como tudo é material de piada, e dane-se se isso afeta a vida de alguém que só faz o bem, Gentili, em seu programa, mostrou fotos de Michele (sem autorização, obviamente), comparou o leite dela ao esperma de um ator pornô, falou de suas "tetas", e disse que agora ela estava vendendo "Leite da Moça", enquanto seu assistente de palco, Marcelo Mansfield, associava a doação de leite à "espanhola".  
Numa cidade com menos de 25 mil habitantes, a reação foi imediata: Michele passou a ser chamada por muitos de "vaca do Gentili". Processou o humorista/apresentador por danos morais. Uma liminar determinou que o vídeo contra Michele fosse retirado da net. Em janeiro de 2014, o Tribunal de Justiça de Pernambuco negou recurso de Gentili. "Não é possível que sob o manto da proteção à liberdade de expressão e de imprensa se admita qualquer violação à dignidade da pessoa humana", assinou o relator. Em março, ela formalizou acusação contra as "piadas". 
Por mais que Michele tenha tido muito apoio, os fãs de Gentili a acusaram (como fizeram com Thiago, como fazem comigo e com qualquer pessoa que ouse criticar o ídolo) de querer chamar a atenção e ganhar popularidade por meio de uma pessoa famosa. 
O processo ainda está correndo -- Gentili e Marcelo Mansfield têm tanta certeza da impunidade que dispensaram uma tentativa de acordo em dezembro último --, mas 2014 foi um ano de mudanças. Michele saiu de Quipapá e foi viver em Recife, por ter virado "motivo de chacota" na cidadezinha, ainda que seja a recordista em doação de leite materno no mundo. Gentili saiu da Band e foi pro SBT. Dizem que seu salário saltou de 70 mil para 700 mil por mês. Quem atrapalhou a vida de quem? Quem foi punido?
Ano passado, Gentili referiu-se a Nayara Justino, Globeleza 2014, como "Zé Pequeno". O bacana é que ela retrucou:
 
Mas note quem são os alvos do comediante.
Quanto a mim, não é a primeira vez que Gentili me ataca. Ele tem uma certa obsessão por mim, estranha porque ele é rico e famoso. 
Faz tempo, antes mesmo do ótimo documentário Riso dos OutrosGentili me xingou em página do Olavão. Entre vários insultos, ele disse que eu o criticava desde a época em que eu escrevia na Veja. Ahn... Até hoje algum mascu ignorante (pleonasmo) vem falar que trabalhei na Veja.
Em outubro de 2013, quando os "libertários" (reaças que não gostam de serem chamados de reaças) vieram em massa me atacar, Gentili escreveu isto sobre mim, instigando os reacinhas a "mostrar a insatisfação de vcs [...] pq ela vai e forma opinião pra quem lê o blog dela":
Depois, ele defendeu "envergonhar os acusadores", com o desejo de "calar a boca dessa desonesta e mau-carater" (eu!):

Em novembro de 2013 ele me chamou de "gorda nojenta" e me comparou ao Pinguim do Batman. Sei lá, sou professora universitária. Já saí da quarta série faz umas décadas.
O que Gentili e outros fazem não é humor, é stand-up bullying. Ele era um bully na escola, cresceu, e agora ganha uma fortuna para atazanar seus desafetos. E para ordenar que seus milhões de fãs façam o mesmo.

Só que não tem nada a ver com humor. Gentili é amigo e se comunica com vários dos rapazes que têm páginas no Facebook com o único objetivo de expor e humilhar feministas. São aquelas páginas que escolhem alvos e passam a persegui-los. Foram criadas pra isso. Não é piada. São páginas feitas pra stalkear e caluniar ativistas. Fazem isso sistematicamente, mas qualquer coisinha, qualquer denúncia, os valentões apelam pro velho "Foi só uma piada".
Gentili é adepto dos clichês "Todo humor tem um alvo" (por coincidência, quase todos os seus alvos são minorias e grupos historicamente oprimidos), e "O humor é transgressor por natureza". Aí fica a pergunta: o que o humor de Gentili tem de transgressor? Chamar feminista de mocreia mal-amada, chamar negro de macaco, chamar mulher que doa leite de vaca, transgride o quê, exatamente? 

Queria mostrar como foi o meu dia, ontem, pelo menos algumas partes que eu lembro, na internet. À tarde, dois perfis recém-criados no Twitter apareceram pra dizer que, enquanto eu estiver por aqui, minha vida será um inferno.

Mais tarde, por não sei que cargas d'água, surgiram vários reaças (os que não estão bloqueados no Twitter) me ligando ao BBB. Como se eu quisesse participar de um programa medíocre como o BBB!

À noite, uma jornalista da Folha me ligou para uma longa entrevista por telefone sobre as últimas ameaças recebidas. Foi mais de uma hora de entrevista. Bem bacana. Passei para ela outros nomes de ativistas ameaçadas.
Aí volto ao Twitter e vejo a "piadinha" do Gentili. E as opiniões dos seus seguidores.

Mais à noite, no chan dos mascus sanctos, mais ameaças... 

Eles tinham dado uma diminuída após o BO, até deletaram uma thread cheia de planos mirabolantes para acabar comigo (Cebolinha feelings), mas todas as táticas de "destruir reputações" continuam, só que com novos alvos. Agora eles estão muito felizes com a companhia do Gentili. Um reconhecimento de um deles ao mestre (Psy é o criminoso misógino Marcelo Valle Mello):

O que une um cara rico e famoso como Gentili a uns completos fracassados como os mascus é a ideologia. Todos são de direita, todos odeiam o "politicamente correto".
Odeiam o governo que, pra eles, é uma ditadura feminazi-gayzista, e eles, os homens brancos e héteros, são os perseguidos, as verdadeiras vítimas da nova ordem mundial. São misóginos, racistas, homofóbicos, gordofóbicos, transfóbicos, um combo inteiro de preconceitos. Odeiam todos os ativistas, todos que tentam mudar o mundo, em especial as feministas. É aí que eu entro.

Hoje houve o assustador e lamentável massacre em Paris, em que terroristas islâmicos invadiram a redação de um semanário satírico, o Charlie Hebdo, mataram doze pessoas e feriram outras dez. Um horror sem qualquer justificativa. 
Gentili está usando o caso como um atentado à liberdade de expressão e do humor, ignorando que o jornal era de esquerda, e que quem vive sendo ameaçado na internet não é ele, mas feministas como eu. Não é ele que não tem voz. Pelo contrário: ele tem um programa na TV e amplo espaço numa mídia que só reaças consideram "esquerdista". 
São eles que nos atacam, não o oposto. E acho que temos que reagir. Se continuarmos fingindo que não é conosco, um dia eles conseguem o que sempre quiseram: nos calar de vez. 

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