Mundo Multipolar: Geopolítica e Estudos Estratégicos
Este é um espaço concebido para discutir e disseminar informações sobre a nova ordem internacional que está sendo forjada e que se caracteriza pela ruptura de 500 anos de colonialismo ocidental e emergência de novos atores no tabuleiro geopolítico.
sábado, 24 de maio de 2014
Nota da Comissão de Justiça e Paz da CNBB sobre Ação Penal 470
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 24, 2014 0 Comentários
Metade
dos beneficiados pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) é
negra. A informação foi divulgada pelo secretário da Educação Superior
do Ministério da Educação (MEC), Paulo Speller, em seminário que
comemorou os dez anos do programa, na Câmara dos Deputados. Desde que
foi criado, o ProUni formou 400 mil estudantes e ofertou, no total, 1,27
milhão de bolsas. Cerca de 635 mil foram destinadas a negros.
No
Brasil, juntos, pretos e pardos são 50,7% da população, segundo o censo
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, o
grupo é minoria no ensino superior. O Censo da Educação Superior de
2012 mostra que, dos 7 milhões de estudantes, 187 mil são pretos e 746
mil pardos, o que representa 13,3% do total. A maioria dos negros está
em instituições particulares, 608 mil, 62,2% dos que cursam ensino
superior.
Na
análise do professor de história e integrante da UNEafro Brasil,
Douglas Belchior, o dado é positivo e mostra uma ocupação cada vez maior
da juventude negra em cursos superiores. No entanto, ele ressalta que a
luta histórica do movimento negro é pela ocupação de vagas em
instituições públicas de ensino.
“A
reivindicação é por uma educação pública de qualidade para que um dia
esses programas compensatórios, como as cotas e o ProUni, possam deixar
de existir", diz, acrescentando que “ainda que tenham as cotas, elas são
metade do que reivindicamos historicamente, que é a ocupação das vagas
na proporção da presença de negros em cada estado”.
O
ProUni oferece bolsas de estudo integrais e parciais em instituições
particulares de ensino. As integrais são para estudantes com renda bruta
familiar, por pessoa, de até um salário mínimo e meio. As bolsas
parciais são para candidatos com renda bruta familiar igual ou inferior a
três salários mínimos por pessoa. O bolsista parcial pode usar o Fundo
de Financiamento Estudantil (Fies) para custear o restante da
mensalidade. Em 2014, foram ofertadas 191 mil bolsas, entre parciais e
integrais. Atualmente, participam do programa 1,2 mil instituições e, no
total, 500 mil bolsas estão ativas.
O
programa tem o objetivo de ampliar o acesso à formação superior. Até
2011, aproximadamente 18% dos jovens de 18 a 24 anos tinham acesso a
cursos de nível superior. Em 2012, o censo apontou que o número de
matrículas era superior a 7 milhões. As instituições privadas concentram
a maior parte desse total: 5,1 milhões. O Plano Nacional de Educação
(PNE), em tramitação no Congresso Nacional, estabelece que, em dez anos,
33% da população entre 18 e 24 anos deve ter acesso ao ensino superior.
Para
Paulo Speller, o programa está cumprindo o papel social. "A conclusão
que podemos tirar é que o ProUni é um programa efetivamente de inclusão
social. Tem sido aperfeiçoado, mas esses dados são em relação ao total.
Temos aqui uma plataforma que atesta o grande sucesso que tem sido esse
programa", diz o secretário. Ele explica que os bolsistas integrais
matriculados em cursos presenciais com, no mínimo, seis semestres e cuja
carga horária média é igual ou superior a 6h diárias podem receber
também uma bolsa permanência de R$ 400. Segundo Speller, 6,8 mil alunos
estão aptos a receber o benefício.
Fonte: EBC
Foto: Mônica Aguiar
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 24, 2014 0 Comentários
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Do Blog do Miro. China: A volta do império do meio
Técnicos do Banco Mundial anunciaram, em estudo divulgado na semana
passada, que a China acaba de ultrapassar os EUA em poder paritário de
compra, como a maior economia do mundo.
Os chineses costumam dizer que “não interessa a que velocidade você caminha, mas sim, para onde está andando”.
Para
o Brasil, quinto maior país e sétima economia do mundo, a inevitável
ascensão chinesa, agora voltada para ultrapassar os EUA em PIB nominal,
e, um dia, alcançá-lo em tecnologia, defesa, e, com menor desigualdade,
em renda, traz inúmeras lições.
A mais importante delas é até
onde se pode chegar com um projeto de país baseado no nacionalismo – e
não no proverbial entreguismo vigente em nosso país nos últimos 20 anos.
O
Estado chinês não financia capitais externos, a não ser que a eles se
associe majoritariamente. Ciente da importância de seu mercado interno -
convenientemente fechado por muitos anos - ele não empresta dinheiro
público para que marcas de automóveis estrangeiras se instalem no país.
No lugar disso, compra participação em suas matrizes. E faz isso em
todos os setores da atividade econômica.
Seu bem sucedido projeto
de desenvolvimento está baseado na presença – serena e incontestável -
do estado como proprietário de meios de produção e elemento indutor na
economia, em parceria com capitais locais e o capital estrangeiro, que
tem que se contentar com um papel secundário no processo, a não ser que
queira ficar de fora de um dos maiores mercados do mundo.
Os
chineses sabem que de nada adianta industrializar o país e modernizar a
economia, se os lucros voarem, todos os anos, para o exterior, como as
andorinhas. Afinal, países não são poderosos apenas pelo que produzem,
mas também pelo que consomem. Ao ultrapassar os Estados Unidos como o
maior mercado do mundo, embora ainda não seja o maior importador, a
China dá gigantesco passo rumo ao futuro.
Nos últimos quatro mil
anos, a maior parte do tempo, os chineses estiveram à frente da maior
economia. A diferença é que - fechados dentro de si mesmos - seus
dirigentes encaravam o resto do planeta como bárbaros e sem o
refinamento e a educação de sua cultura. Coo nações interessadas em
invadir e destruir seu império, como o “ocidente” fez tão logo pôde,
implacável e solerte, em defesa, entre outras causas edificantes, do
tráfico de drogas pela Coroa Britânica, que deu origem às Guerras do
Ópio.
A diferença entre o Império do Meio de antes e o Império do
Meio de hoje, é que a Revolução Maoísta abriu a porta para transformar
os camponeses em operários, e, até mesmo, em milionários e
empreendedores. Além de que o espaço natural para seus produtos e
negociantes, estava, antes, quase sempre, cercado pelas sinuosas curvas
da Grande Muralha, enquanto, agora, os limites da influência da Nova
China avançam para se transformar, cada vez mais, nos próprios limites
do mundo.
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 21, 2014 0 Comentários
Confrontada com imagens do passado, a oposição partidária e
midiática reclama de que a "estratégia do medo", que é de sua
exclusividade, estaria sendo usada em favor de Dilma. Seu medo maior, no
fundo, é que as pessoas já não mais acreditem em fantasmas.
Na terça-feira (13), foi ao ar a propaganda “Fantasmas do Passado”, do Partido dos Trabalhadores (PT), em inserções na tevê e no rádio.
A
peça expõe cenas em que pessoas são confrontadas com a imagem delas
próprias, no passado. Mais pobres, mais tristes, abandonadas à própria
"sorte".
O programa quer - e consegue - fazer com que as pessoas
tentem se lembrar de como era o Brasil antes dos governos de Lula e
Dilma. No mínimo, que elas se recordem de como elas mesmas estavam –
onde e em que situação.
Os candidatos da oposição acusaram o
golpe e imediatamente reclamaram de que PT usa uma "estratégia do medo" e
um "discurso do medo".
Ato contínuo, a velha mídia simplesmente
copiou e colou o discurso oposicionista. Transformou as aspas da
oposição em suas manchetes, literalmente. Estão em todos os jornalões:
"estratégia do medo" e "discurso do medo".
Questiona-se em que
medida o PT não estaria usando a mesma estratégia de FHC e Serra,
disparada contra Lula em 2002. Boa pergunta - boa, capciosa e omissa.
A
pergunta tem um pressuposto ardiloso, que é o de que a estratégia do
medo é um recurso que deve ser exclusivo de quem faz oposição ao atual
governo.
A pergunta omite 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012, quando a
oposição partidária e midiática usou a "estratégia do medo" em eleições
presidenciais, estaduais e municipais.
Em 2006, as campanhas
eleitoral e midiática instilavam o pavor a que dinheiro público fosse
gasto com pobres, de que o Bolsa Família criasse uma legião de
vagabundos e de que o País estivesse sendo transformado no pior dos
mundos. Continuamos às voltas com esse discurso em cada esquina.
Em
2010, o medo era do aborto, do casamento de homossexuais e de uma
candidata que tinha um passado de luta contra a ditadura. Esse mesmo
medo irá proporcionar pelo menos uma candidatura nas eleições deste ano,
a do PSC, mas promete estar na boca de muito mais gente.
Em
2014, a "estratégia do medo" é a de repetir - assim como se fez durante
todo o ano de 2013 - que a inflação está fora de controle; que o país
caminha para um apagão elétrico e de infraestrutura; que ninguém está
satisfeito com nada.
De repente, a maioria da população virou "ninguém" e o país pode ser traduzido como "nada". Belo discurso.
Os
brasileiros foram meticulosamente convencidos a terem medo da Copa do
Mundo, de protestos, de greves. De quem, afinal, é a estratégia do medo?
A oposição sente calafrios não da peça publicitária, mas da ideia força que ela traz para o debate público.
O
programa veiculado coloca, nas mãos dos eleitores, uma pergunta simples
e direta, que até então não havia sido feita: de 2003 a 2014, sua vida
melhorou ou piorou? Aquilo que você conquistou, de mais importante, foi
conquistado antes ou depois de 2003?
A oposição, até mesmo
Eduardo Campos, vestiu a carapuça de ser o fantasma a que o programa se
refere - e treme por ter que carregar o apelido.
Seu medo maior é que as pessoas, no fundo, já não mais acreditem em fantasmas.
(Antônio Lassance/Carta Maior)
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 16, 2014 0 Comentários
terça-feira, 13 de maio de 2014
LulaO mundo se encontra no Brasil
Brasil
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
À medida que se aproxima a eleição
presidencial de outubro, os ataques à Copa tornam-se cada vez mais
sectários e irracionais. Críticas são parte da vida democrática, mas
determinados setores parecem desejar o fracasso
Quando era presidente da República, trabalhei intensamente para
que a Copa do Mundo de 2014 fosse realizada no Brasil. E não o fiz por
razões econômicas ou políticas, mas pelo que o futebol representa para
todos os povos e, particularmente, para o povo brasileiro. A nossa
população apoiou com entusiasmo a ideia, rejeitando o preconceito
elitista dos que dizem que um evento desse porte "é coisa de país rico",
e se esquecem de que o Uruguai, o Chile, o México, a Argentina, a
África do Sul e o próprio Brasil já o sediaram com sucesso.
O futebol é o único esporte realmente universal, praticado e amado em
todos os países, por pessoas das mais diferentes classes, etnias,
culturas e religiões.
E talvez nenhum outro país do mundo tenha a sua identidade tão ligada
ao futebol quanto o Brasil. Ele não foi apenas assimilado, mas, de
alguma forma, também transfigurado pela ginga e pela mistura de raças
brasileiras. Nos pés de descendentes de africanos ganhou um novo ritmo,
beleza e arte. Durante muitos anos, foi um dos poucos espaços, junto com
a música popular, em que os negros podiam mostrar o seu talento,
enfrentando com alegria libertária a discriminação racial. Não é por
outra razão que o futebol e a música são muitas vezes a primeira coisa
que um estrangeiro lembra quando se fala do Brasil.
Para nós, o futebol é mais do que um esporte, é uma paixão nacional,
que vai muito além dos clubes profissionais. Milhões de pessoas o
praticam, amadoristicamente, no seu dia a dia, nos quintais, nos
terrenos baldios, nas praias, nos parques, nas praças públicas, nas ruas
da periferia, nos pátios das escolas e das fábricas. Onde houver uma
área disponível, por menor que seja, ali se improvisa uma partida de
futebol. Se não tem bola de couro, joga-se com bola de plástico, de
borracha ou de pano. Em último caso, até com uma latinha vazia.
Em 1958, na Suécia, uma seleção espetacular encantou o planeta,
ganhando nosso primeiro título mundial. Eu tinha doze anos, e juntei um
grupo de amigos para ouvirmos a partida final num campinho de várzea com
um pequeno rádio de pilha. Nossa fantasia compensava com sobras a falta
de imagens, viajando na voz do locutor. Ela nos transportava como num
tapete mágico para dentro do Estádio Rasunda de Estocolmo. E ali não
éramos apenas espectadores, mas jogávamos... Eu sonhava em ser jogador
de futebol, não presidente do Brasil.
O grande escritor Nelson Rodrigues, nosso maior dramaturgos, disse
que com aquela vitória conquistada por gênios da bola como Pelé,
Garrincha e Didi o Brasil tinha superado o seu "complexo de vira-lata". E
que complexo seria esse? "É a inferioridade – dizia ele – em que o
brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do mundo". Atrevendo-se a
ser campeão, era como se o Brasil estivesse dizendo a si mesmo e aos
demais países: "Sim, nós podemos ser tão bons quanto qualquer um".
Naquela época, o Brasil estava começando a se industrializar, tinha
criado a sua própria empresa de petróleo e o seu banco de
desenvolvimento, as classes populares reivindicavam democraticamente
melhores condições de vida e maior participação nas decisões do país –
mas os setores privilegiados diziam que isso era um erro gravíssimo,
fruto de "politicagem" ou "esquerdismo", já que comprovadamente não
existia petróleo em nosso território e não tínhamos necessidade alguma
de inclusão social e muito menos de uma indústria nacional...
Alguns chegavam a afirmar que uma nação como a nossa, atrasada,
mestiça – de povo "ignorante e preguiçoso", segundo um estereótipo muito
difundido dentro e fora do país – devia conformar-se com o seu destino
subalterno, sem ficar alimentando sonhos irrealizáveis de progresso
econômico e justiça social.
Na verdade, não é fácil superar o "complexo de vira-lata". Fomos
colônia por mais de 320 anos, e a pior herança dessa condição é a
persistência da mentalidade colonizada de servidão voluntária...
Entre 1958 e 2010, ganhamos cinco campeonatos mundiais de futebol.
Somos até agora a nação com maior número de títulos conquistados. Mas o
melhor de tudo é que o saudável atrevimento do povo brasileiro não se
limitou ao âmbito esportivo.
O Brasil que o mundo vai conhecer a partir de 12 de junho é um país
muito diferente daquele que sediou a Copa de 1950, quando perdeu na
final para o Uruguai. Ainda tem problemas e desafios, alguns bastante
complexos, como qualquer outra nação, mas já não é mais o eterno "país
do futuro". O país de hoje é mais próspero e equitativo do que era há
seis décadas. Entre outras razões porque a nossa gente – principalmente a
que vive no "andar de baixo" da sociedade" – libertou-se dos
preconceitos elitistas e colonialistas e passou a acreditar em si mesma e
nas possibilidades do país. Descobriu que, além de vencer competições
mundiais de futebol, podia também vencer a fome, a pobreza, o atraso
produtivo e a desigualdade social. Que a mestiçagem, longe de ser um
obstáculo – pior: um estigma – é uma das maiores riquezas do nosso país.
É esse novo Brasil que vai sediar a Copa. Um país que já é a sétima
economia do planeta e que, em pouco mais de dez anos, tirou 36 milhões
de pessoas da miséria e levou 42 milhões para a classe média. É o país
com as taxas de desemprego mais baixas da sua história. Que, segundo a
OCDE, entre todos os países do mundo, foi um dos que mais aumentou nos
últimos anos o investimento em educação. Um país que se orgulha de todas
essas conquistas, mas não esconde os seus problemas, e se empenha em
resolvê-los.
Recentemente, a Copa do Mundo tornou-se objeto de feroz luta política
e eleitoral no Brasil. Á medida que se aproxima a eleição presidencial
de outubro, os ataques ao evento tornam-se cada vez mais sectários e
irracionais. As críticas, naturalmente, são parte da vida democrática.
Quando feitas com honestidade, ajudam a aperfeiçoar a preparação do país
para esse grande acontecimento esportivo. Mas determinados setores
parecem desejar o fracasso da Copa, como se disso dependessem as suas
chances eleitorais. E não hesitam em disseminar informações falsas que
às vezes são reproduzidas pela própria imprensa internacional sem o
cuidado de checar a sua veracidade. O país, no entanto, está preparado,
dentro e fora de campo, para realizar uma boa Copa do Mundo – e vai
fazê-lo.
A nossa seleção foi a única a participar de as 19 edições da Copa do
Mundo e sempre fomos muito bem recebidos nos outros países. Chegou a
hora de retribuir com hospitalidade e alegria tipicamente brasileiras. A
procura de bilhetes tem sido forte, com pedidos de mais de 200 países.
Esta é uma oportunidade extraordinária para milhares de visitantes
conhecerem mais profundamente o que o Brasil tem de melhor: o seu povo.
A importância da Copa do Mundo não é apenas econômica ou comercial.
Na verdade, o mundo vai se encontrar no Brasil a convite do futebol. Vai
demonstrar novamente que a ideia de uma comunidade internacional
pacifica e fraterna não é uma utopia.
(Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente do Brasil, que agora
trabalha em iniciativas globais com Instituto Lula e pode ser seguido em
facebook.com/lula).
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 13, 2014 0 Comentários
Ricaços do Brasil, uni-vos –
e de quebra atraiam os otários da classe “mérdia” para apoiar Aécio
Neves, o cambaleante presidenciável tucano. E isto que se conclui da
pesquisa realizada na semana passada pelo Valor – um consórcio midiático
das famiglias Marinho e Frias. Durante a entrega do prêmio “Executivo
de Valor”, o jornal ouviu 103 executivos das principais corporações
empresariais do país. A pesquisa confirmou que os patrões já escolheram o
seu candidato para as eleições de 2014. Aécio Neves teve 72 votos,
contra 17 de Eduardo Campos e apenas três de Dilma Rousseff. A adesão ao
tucano foi de 70%. “A presidente colhe os frutos do seu pouco diálogo
com a classe empresarial”, concluiu o jornal Valor.
É uma baita injustiça dos ambiciosos e avarentos
ricaços. Não dá para dizer que os governos Lula e Dilma prejudicaram as
grandes empresas nos últimos 12 anos. Pelo contrário. Com o crescimento
da economia, apesar da crise do capitalismo mundial, os empresários
elevaram seus lucros e patrimônio. Os bancos nunca ganharam tanto
dinheiro na história do país. O número de bilionários brasileiros da
revista Forbes cresceu. O consumo de jatinhos e iates bate recorde. A
elite gasta fortunas nos passeios a Miami e a outros paraísos do
consumo. Mesmo assim, os ricaços querem mais, muito mais. Eles criticam
o “intervencionismo” da presidenta Dilma e exige total liberdade para o
“deus mercado”.
O tucano Aécio Neves é quem mais corresponde a
tais expectativas dos empresários. Ele já prometeu adotar “medidas
impopulares” para saciar o apetite dos ricaços. Apesar das juras de amor
eleitoreiras ao programa Bolsa Família e à política de valorização do
salário mínimo, o PSDB nunca negou que rejeita estas iniciativas
“populistas”. Armínio Fraga, herói dos rentistas contado para ser o
homem forte de um futuro governo tucano, já disse que o salário mínimo e
o emprego em alta prejudicam a economia, atrofiam os negócios
empresariais. Aécio Neves volta a endeusar FHC, rejeitado pelos três
últimos presidenciais do PSDB, e defende suas ideias de privatização e
de maior desregulamentação da economia.
O próprio jornal Valor,
em editorial publicado na quarta-feira (7), argumentou que “os
empresários têm agenda pragmática para o governo”. Eles têm como
prioridades “aumentar a competitividade do país, o que passa por ampliar
a produtividade”. Eles criticam o aumento do salário acima da inflação e
defendem as reformas trabalhista – que retire direitos históricos dos
trabalhadores – e tributária – que reduza impostos das elites. Eles
também pregam ajustes na política monetária, fiscal e cambial, todas
visando ampliar os lucros dos ricaços. E ainda falam em educação de
qualidade e outras baboseiras, para tornar o discurso patronal um pouco
mais palatável. Isto explica os 70% de preferência por Aécio Neves!
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 12, 2014 0 Comentários
Impossível não refletir sobre as falhas e insuficiências da nossa
democracia quando um aprendiz de ditador de republiqueta travestido de
presidente de suprema corte usa e abusa do cargo que ocupa para
perseguir os que ele encara como adversários políticos e ideológicos.
Diante da perplexidade do mundo jurídico, e de
segmentos cada vez maiores da sociedade, Joaquim Barbosa segue cometendo
seguidas atrocidades jurídicas, explorando as brechas legais do sistema
para exercer um poder imperial à frente do Judiciário brasileiro.
Só uma ampla reforma do Judiciário seria capaz de abrir a caixa preta
desse poder e criar mecanismos através dos quais a sociedade possa
cobrar transparência e celeridade a um poder impermeável a um mínimo de
controle por parte da população. Isso certamente reduziria a margem,
para aventuras antidemocráticas como a protagonizada por Barbosa.
Judiciário tem de fazer justiça. E justiça lenta não é justiça. Justiça
cara não é justiça. Justiça politizada não é justiça. Justiça como
instrumento de ódio e de vingança não é justiça.
No Brasil, uma vez aprovado em concurso público, para o qual pôde se
preparar por ter frequentado os bons colégios da classe média, o juiz se
sente uma espécie de semideus. O mesmo vale para o procurador do
Ministério Público.
Desprezando o pilar fundamental da democracia, que é o princípio da
soberania popular, agem como intocáveis e acabam, com honrosas exceções,
prestando um serviço jurisdicional voltado apenas para as elites do
país. Isso tem que acabar, sob pena da nossa democracia capengar para
todo o sempre como uma obra inacabada e disforme.
Intelectuais do campos da esquerda e boa parte da militância do PT têm
defendido que, caso seja reeleita, a presidenta Dilma deve dedicar seu
segundo mandato às grandes reformas que interessam ao povo brasileiro,
mas que se encontram travadas pelo bloco conservador do Congresso
Nacional e têm o debate interditado pelo monopólio da meia dúzia de
famílias milionárias que controlam a mídia.
Pois, então, que fique claro : sem a mãe de todas as reformas, a reforma
política, as outras continuarão esbarrando numa correlação de forças
institucional desfavorável às forças progressistas.
Ou alguém imagina que o Congresso Nacional, tanto com a atual
composição como a que erigir das urnas em outubro, seja capaz de votar
um novo marco regulatório para a radiodifusão brasileira ? Ou a reforma
do Judiciário ? Ou a aceleração da reforma agrária, contrariando o lobby
do agronegócio ? Ou os 10% do PIB para a educação ? Ou os 10% do
orçamento da União para a saúde ?
A hora é de conferir prioridade absoluta ao movimento pela reforma
política, com constituinte exclusiva, tocado por centrais sindicais,
movimentos sociais e entidades da sociedade. Foi muito bem-vinda a fala
da presidenta Dilma, na noite do dia 30 de abril, na qual ela retomou a
questão da urgência da reforma política. Também merece ser saudado o
avanço desse debate no último encontro nacional do PT.
Um antigo cartola do Fluminense, Francisco Horta, costumava dizer antes
dos grandes jogos que ao seu time só restava "vencer ou vencer". Se bem
que contra o meu Botafogo muitas vezes essa conclamação não funcionava.
Mas, na encruzilhada que o Brasil hoje se encontra, é reforma política
ou reforma política.
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 11, 2014 0 Comentários
Não sei se tenho
alguma coisa pra contribuir sobre o terrível linchamento de Fabiane
Maria de Jesus. Mas isso mexeu comigo. Mexeu com muita gente.
No sábado, dia 3 de
maio, Fabiane, que vivia no bairro Morrinhos, em Guarujá, litoral de
SP, estava voltando de bicicleta da igreja, quando foi cercada por uma
multidão e barbaramente atacada. Pelo jeito, o pessoal que não estava
batendo estava filmando a cena, pois há (ou havia) vários vídeos desse
linchamento (porque hoje não basta cometer a violência, é preciso também
filmá-la e publicá-la nas redes sociais).
Quando
a polícia chegou, pensou que Fabiane estava morta. Ela foi levada ao
hospital, ficou dois dias em coma, e morreu ontem. Era dona de casa,
casada com um porteiro, tinha duas filhas.
Foi uma das vítimas
da barbárie. No Guarujá, havia boatos que uma mulher estaria
sequestrando crianças para rituais de magia negra. Ou seja, uma bruxa
estava à solta.
Na sexta, dia 2, uma montagem com um retrato falado da "vagabunda" foi publicada na página do Facebook Guarujá Alerta. Não
se sabe quem fez a montagem, mas o retrato falado é de 2012, e a foto
da mulher de cabelo loiro é de uma usuária qualquer no FB, como bem explicado aqui.
Também não se sabe exatamente a responsabilidade da página Guarujá Alerta.
Por mais que tenha permitido que um dos seus seguidores postasse a
montagem, a página vinha dizendo que, apesar dos insistentes rumores,
não havia qualquer registro na polícia de uma sequestradora de crianças
na região. A princípio,
quando a tragédia eclodiu, o administrador da página (ou os
administradores, não dá pra saber, porque são anônimos) veio com
bravatas, alegando perseguição política. Depois, baixou o tom, e agora
insiste que não falará nada para não prejudicar as investigações.
Ao ler sobre esse linchamento, muitas memórias me vieram à mente. Lembrei de uma das cenas mais chocantes que vi na TV, em toda minha vida: um capítulo da novela Sinal de Alerta,
do grande Dias Gomes. Era uma novela das dez da noite, e eu só tinha
onze anos. Se não me engano, o primeiro capítulo já mostrava uma cena de
linchamento. Eu nunca tinha visto aquilo. Nem sabia que isso existia.
Isso de pessoas fora de si espancarem uma pessoa até a morte, com as
próprias mãos. Aquilo foi marcante pra mim. Talvez tenha sido meu
primeiro momento de "pare o mundo que eu quero descer".
Morei quinze anos
em Joinville, a dois quarteirões de um posto da polícia, que não fazia
nada. Não ajudava a diminuir a criminalidade na vizinhança, não apartava
brigas de vizinhos, sequer evitava que o bosque ao lado do posto fosse
desmatado. E todo mundo sabia que ter ou não ter o posto policial ali
dava na mesma.
Porém, teve um dia
em que fui levar meu cachorrinho pra passear, e percebi que vários
moradores estavam apontando pro posto policial e comentando. Parece que
os policiais haviam capturado um bandido e ele estava dentro do posto,
"recebendo um trato", de acordo com meus vizinhos. Eles falavam com
grande admiração da polícia torturar um suspeito. Era exatamente isso
que eles queriam da PM.
A maior parte dos
meus vizinhos em Joinville era espectadora assídua de noticiários
policiais. Não só os de rede nacional, mas os locais, que devem ser mais
sangrentos e justiceiros ainda. Os crimes que viam noticiados pautavam
suas conversas. Ouso dizer que uma das grandes frustrações desses meus
vizinhos era não ter a chance de fazer "justiça" com as próprias mãos.
Eles tinham muitos planos do que gostariam de fazer.
Foi lá em Joinville
também que uma vizinha mais distante, meio desconhecida, uma vez pediu
emprestada minha linda gata preta, Blanche. Ela precisava da Blanche só
um pouco, só pra tirar um tiquinho de sangue pra fazer algum tipo de
feitiço. Eu não me lembro o que respondi. Creio que fiquei paralisada,
sem reação, estupefata demais com o medievalismo alheio.
Além desses
pensamentos atravessados, ao ler sobre o assassinato de Fabiane também
pensei que eu vivo dizendo como nós feministas precisamos tomar cuidado
com o punitivismo excessivo, de como feministas têm de estar ao lado dos direitos humanos, sempre.
Às vezes, nos casos mais famosos e escabrosos de estupro ou
feminicídio, aparecem feministas defendendo pena de morte, tortura, até
castração, ou simplesmente um desejo de fazer justiça com as próprias mãos, de condenar sem provas, sem julgamento.
Eu me horrorizo com
essas palavras, e penso: se houvesse um estuprador próximo, elas
participariam de seu linchamento? Não estou falando de legítima defesa,
nem de manifestações, nem de escrachos públicos. Estou falando desse
sentimento justiceiro, tão perigoso, tão bárbaro.
Mas não posso negar
que a primeira pessoa que me veio à mente ao ler sobre Fabiane foi uma
mulher que não tem nada a ver com feminismo: Rachel Sheherazade, âncora
do SBT. No início de fevereiro, ao comentar o caso de um adolescente
(negro, óbvio; a maior parte dos linchados é negra) que foi preso a um
poste no Rio por justiceiros, Rachel disse:
"É, o marginalzinho
amarrado ao poste era tão inocente que, em vez de prestar queixa contra
os seus agressores, ele preferiu fugir, antes que ele mesmo acabasse
preso. É que a ficha do sujeito está mais suja do que pau de galinheiro.
No país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada cem mil
habitantes, que arquiva mais de 80% de inquéritos de homicídio e sofre
de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível.
"O Estado é omisso,
a polícia, desmoralizada, a justiça é falha, quê que resta ao cidadão
de bem , que ainda por cima, foi desarmado? Se defender, é claro! O
contra-ataque aos bandidos é o que eu chamo de legítima defesa coletiva
de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite. E,
aos defensores dos direitos humanos, que se apiedaram do marginalzinho
preso ao poste, eu lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil, adote um
bandido".
Rachel (e todo o
senso comum; meus vizinhos em Joinville, tenho certeza, e, sei lá, 70%
da internet?) defendeu a barbárie. Mais tarde, diante da polêmica, ela afirmou ter dito que a ação dos "vingadores" (não justiceiros, eles mesmos com extensa ficha criminal)
era "compreensível", não "aceitável". Mas acho que seu comentário por
inteiro não deixa qualquer margem de dúvida sobre sua opinião, que é,
infelizmente, a da maioria: que só existe uma coisa pior que bandido --
que são os defensores de direitos humanos. Afinal, direitos humanos para
humanos direitos, né?
A multidão que
linchou Fabiane era composta por "cidadãos de bem", por "humanos
direitos"? Provavelmente sim, seja lá o que quer dizer "cidadão de bem",
um termo moralista pra chuchu. Então por que estamos horrorizadxs
agora? Por que Rachel não aparece para dizer que a atitude dos
linchadores de Fabiane foi "compreensível"? Por que ninguém vem
defendê-los? Ah, porque Fabiane era inocente! Porque ela não era uma
bruxa. Tá, e se fosse? Isso tornaria a atitude dos linchadores mais
aceitável, opa, compreensível?
Em fevereiro, pouco depois da polêmica de Rachel, a Folha de SP entrevistou
um sociólogo, que disse: "A sociedade civil está ficando
progressivamente descontrolada". Não é que o número de linchamentos
estourou, mas houve, segundo ele, uma "ligeira intensificação de
ocorrências". Se antes havia em média quatro linchamentos por semana no
Brasil, agora há cerca de um por dia. E pra maior parte há vídeos,
fotos, defensores desses "cidadãos de bem".
Em meados de abril,
houve um caso inusitado em Brasília. Um ladrão passou num ponto de
ônibus e roubou vários pertences das pessoas que estavam ali. Pouco
adiante, foi rendido pelo segurança de um supermercado, e as pessoas em
volta correram para linchar o assaltante.
Uma das pessoas que
tinham sido roubadas no ponto de ônibus, uma jovem chamada Jhamille que
estava indo para uma entrevista de emprego, também correu pra lá. Mas
não pra linchar o sujeito, e sim para protegê-lo. Ela não permitiu que o homem, já nocauteado no chão e ferido, continuasse a ser agredido.
Além
do mais, ela foi a única das pessoas assaltadas por aquele ladrão que
foi à delegacia prestar queixa contra ele. "Fiz o meu dever de cidadã ao
protegê-lo e denunciá-lo".
Jhamille é um
exemplo. Mas, por causa de seu gesto, ela recebeu inúmeras ameaças e
xingamentos, de gente que acha "compreensível" fazer justiça com as
próprias mãos.
Se tivessem havido mais Jhamilles e menos Rachéis no linchamento de sábado, talvez Fabiane estivesse viva.
Quando se examina o cenário político
nacional, o observador se depara com um quadro de imensa complexidade.
Primeiro, ele deseja saber que tipo de democracia se encontra presente
em nosso País.
Ai, o observador sente dificuldade
inicial. Como enumerar os elementos que compõe uma verdadeira
democracia? Constata que há liberdade de pensamento.
É um dado positivo. Todos têm opinião
própria sobre os mais diversos acontecimentos. Não há qualquer obstáculo
ao livre pensar. É conquista que, em toda a parte, custou uma
enormidade de vidas.
Surge, após esta constatação, uma nova
indagação. Apresentam-se confiáveis as informações recebidas pela
cidadania? Aqui as amostras recolhidas levam a um registro.
As informações são geradas por
centrais únicas de notícias. Basta ver as manchetes dos jornais
impressos: são iguais, apesar de originárias de redações diversas.
Claro que a cidadania, neste caso,
recebe uma versão uniforme dos fatos políticos e sociais. Isto não
permite que se instale, no interior das consciências, a boa dialética.
Só esta conduz às sínteses
individuais. Ou seja, a de cada cidadão. A uniformidade de pensamento é
maléfica em todas as atividades humanas, particularmente na política.
A política exige pluralidade de visões
do mundo. Nela nada pode se apresentar linear. Só as ditaduras contam
com o pensamento único. Fora dele geram-se as perseguições e as
conseqüentes prisões.
A essência da democracia é a
liberdade. A liberdade deve produzir pensamentos díspares. Jamais a
unicidade e a ortodoxia. Já se passaram os tempos dos dogmas.
Esta uma deficiência de nossa
democracia. A ausência de pluralidade informativa. Tudo é igual. O
pensamento único elaborado por publicitários deforma a verdade.
No passado, os teólogos impunham uma
só verdade. Hoje, são eles, os publicitários, que desejam conduzir a
vontade coletiva. Procuram alterar valores e costumes.
Às vezes agem de maneira positiva. Em
política, porém, o agir é sempre negativo. Porque distorcem a verdadeira
identidade dos candidatos. Transformam fantoches em lideres.
Criam falsas figurações da realidade
social. A partir do pressuposto de que agir, politicamente, é gerar
esperanças, produzem configurações inalcançáveis.
Os partidos políticos, por sua vez,
dentro dos costumes da democracia pátria, mostram-se incapazes de gerar
corpos de doutrina de acordo com as diversas visões da sociedade.
Todos se mostram iguais no agir e no
elaborar propostas. Os programas partidários gratuitos – no rádio e na
televisão – são pobres de conteúdo. Sempre as mesmas falas em
personagens diferentes.
Não se busca mais, na democracia
nativa, a obtenção de novos traços doutrinários e a geração de novas
idéias. Esquerda, direita e centro não diferem em nada. Um só objetivo: a
conquista de cargos eletivos.
Há crises no setor de abastecimento
das grandes cidades, especialmente São Paulo. Nenhuma análise
convincente é concretizada por parte dos veículos de comunicação ou
pelos partidos políticos.
Existe um silêncio imposto sobre a
calamidade que se anuncia: a falta de água. Os antecedentes que geraram o
atual estado de coisas não são examinados.
Certamente, em algum momento, houve
desídia. Quem a praticou? Na democracia brasileira, conduzida por
centros de inteligência altamente remunerados, as crises anunciadas não
têm autores.
É matéria abstrata. Não se insere no espaço política. Coloca-se no campo da metafísica.
Claudia Lembo é ex-Governador do Estado de São Paulo.
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 06, 2014 0 Comentários
domingo, 4 de maio de 2014
Apresentação da candidatura da Prof.a Nilma Gomes para a recondução no Conselho Nacional da Educação - CNE-MEC.
Redenção, 03 de maio de 2014.
Prezados colegas da ABPN, CONNEABs, Fóruns e entidades do Movimento Negro
Conforme
informado a todos(as), em junho deste ano completarei quatro anos de
mandato no CNE, com direito a uma recondução. Agradeço a todos e a
todas pelo apoio ao trabalho que tenho desenvolvido no Conselho durante
este mandato.
Informei
também que no mês de abril sairia a portaria ministerial sobre a
consulta às organizações, o que também já comuniquei à diretoria da ABPN
e ao CONNEABs.
Recebi
várias manifestações de colegas, apoiando a minha recondução. Agradeço a
tod@s. Muitos solicitaram que eu apresente o meu posicionamento quanto à
recondução, portanto, esse é o motivo da presente correspondência. Não é
de praxe candidatos ao CNE se apresentarem. Geralmente, as indicações
são enviadas pelas entidades ao Ministro da Educação e a decisão é dele e
da Presidenta. Mas, atendendo a pedidos, decidi me expressar com
intuito de apresentar algumas das minhas ações e construir um diálogo de
paz, pois não gostaria que minha postura de espera e cautela diante da
decisão superior fosse entendida como omissão.
Informo que estou disposta a dar continuidade ao mandato no CNE, a
fim de concluir algumas ações em curso, dentre elas, as diretrizes
operacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e Ensino de
História e Cultura Africana e Afro-brasileira, fruto das orientações do
parecer CNE/CEB 06/2011 (que ficou conhecido como o do Monteiro Lobato),
da qual sou relatora, contando com a consultoria da Profa
Petronilha B.G. Silva. Em parceria com SECADI, CADARA, Palmares, Fóruns
de Conselhos Estaduais de Educação, estamos realizando consultas e
pretendemos apresentar resultados positivos.
No
CNE, várias foram as minhas ações nestes quatro anos, entre as quais
podemos citar a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Escolar Quilombola, que têm dado resultados e força política às
lutas quilombolas por Educação. Além disso, junto com a minha colega
conselheira Rita Potyguara, trabalhamos arduamente no Parecer e na
Resolução para Estudantes em situação de Itinerância, nas Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena e acabamos de
aprovar as Diretrizes Curriculares para a Formação de Professores
Indígenas. Realizamos seminários sobre Educação e Relações
Étnico-raciais no CNE, audiências quilombolas em três regiões do país,
discussões com a CADARA e Fóruns da Diversidade Étnico-Racial, junto ao
MEC/SEB/SECADI/SESU. Também realizamos várias ações para a inserção da
questão étnico-racial no conjunto das políticas educacionais, no projeto
do novo PNE, no aperfeiçoamento dos dados a serem coletados pelo INEP
para avaliação das IFES. Está em curso, inclusive, o acordo de
cooperação MEC/IPEA/CNE para analisarmos dados sobre a implementação da
alteração da LDB pela Lei 10.639/03.
Foram
muitos outros trabalhos realizados envolvendo não só a temática
étnico-racial, mas a educação nacional como um todo, pois este é o papel
de um conselheiro do CNE, ou seja, focar na sua representação, mas
também emitir parecer sobre os demais temas da educação nacional.
Apresentarei em relatório detalhado das minhas ações a ser distribuído
para os Fóruns e entidades do movimento e negro no mês de julho, bem como no VIII Copene, em Belém do Pará.
Há
ainda muitos trabalhos que eu gostaria de desenvolver e que são caros
para todos nós ligados à diversidade de gênero, campo, bulllying nas
escolas, religiosidade e educação, formação de professores,
internacionalização com países de africanos de língua portuguesa,
articulação do CNE com Conselhos Estaduais de Educação, Conselhos
Municipais de Educação, Fóruns de Diversidade Étnico-Racial e entidades
do Movimento Negro e Universidades. Trata-se de um trabalho interno e
externo – de grande complexidade política -construído sempre em conjunto e com alianças e nunca isolado.
Além
disso, estando na gestão de uma universidade da integração
internacional da lusofonia afro-brasileira, muito contribuiria continuar
no CNE e poder participar nesse momento da pauta nacional.
Como
sabem, o CNE possui duas câmaras (básica e superior) e 24 conselheiros.
Há muito o Movimento Negro pleiteia ter também um representante na
Câmara Superior, o que é legítimo. Ter mais representantes só
fortalecerá a nossa presença e nossas pautas de reivindicações.
Colegas,
seja qual for a decisão do Ministro da Educação, saibam que podem
continuar contando com o meu trabalho e dedicação à luta antirracista e
por uma educação democrática que reconheça e respeite a diversidade, um
dos pontos centrais da minha ação política e profissional como
educadora.
Um abraço,
Nilma Lino Gomes
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 04, 2014 0 Comentários
Recentemente a imprensa noticiou a respeito da diligência da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias ao presídio da Papuda,
destacando, de forma equivocada, que a diligência tentava garantir
melhores condições ao ex-ministro José Dirceu, ou que foram encontradas
ali regalias em seu tratamento ou suas instalações.
Inúmeras notícias dão a entender que houve uma grande divergência de
opiniões, em especial entre a minha avaliação e a da minha colega, Mara
Gabrilli, uma grande parceira de lutas que vão muito além da questão
partidária. Temos, em comum, a luta pela inclusão como um norte em
nossos trabalhos. Apenas discordamos pontualmente, o que é natural.
Todos visitamos, juntos, as instalações, e pudemos, ao mesmo tempo,
avaliar as condições.
Fui ali a convite da própria Comissão, para averiguar se o
ex-ministro José Dirceu gozava mesmo de regalias em relação aos demais
presos da unidade denunciadas pela imprensa – denúncias que serviram de
motivo para o STF lhe negar o direito de trabalhar fora da prisão – e
inspecionar as condições gerais da unidade prisional, com ênfase na
situação dos presos paraplégicos e gays e transexuais. Para cumprir esse
objetivo, nós fizemos uma oitiva demorada o com o diretor da unidade
(CIR), com gestores e agentes penitenciários e com o coordenador geral
do sistema carcerário do DF, e, finalmente, uma visita às celas da
unidade, entre elas a de Dirceu.
Houve, entre os parlamentares, divergências em relação às condições
percebidas ali. Enquanto alguns apontaram que a cela tinha um tamanho
maior que a dos demais presos, a situação de insalubridade das
instalações é a mesma para todos eles. Nenhum dos deputados, porém, foi
até ali com o objetivo de medir colchões ou testar as instalações. O
objetivo, sim, foi o de verificar – e denunciar – as condições gerais
daquele presídio. Conhecer, por exemplo, a realidade de presos
cadeirantes, soropositivos, LGBTs, entre outros, para que a
possibilidade de um cumprimento digno da pena esteja disponível a
absolutamente todos, o que é uma responsabilidade e dever do Estado. Faço, abaixo, um relatório do que vi e ouvi ali. Não
é o relatório oficial desta diligência, mas é uma forma de esclarecer o
que foi por mim percebido naquela visita. Outros deputados também
fizeram suas considerações a respeito, assim como o faço agora.
Segundo os gestores da unidade prisional, é parte da política
carcerária manter uma separação dos apenados cujos crimes tenham
repercutido muito nos meios de comunicação – despertado paixões – dos
demais encarcerados, assim como é parte da mesma política separar os
criminosos sexuais e os policiais criminosos dos outros detentos. O
objetivo é proteger a vida do apenado – já que ele está sob a tutela do
Estado – e ao mesmo tempo a própria massa carcerária (esta de motins e
rebeliões). É parte da política carcerária também criar um regime
diferenciado de visitas para esse tipo de apenado no intuito de evitar
que seus parentes sejam tomados como reféns para negociação em
rebeliões.
Sendo assim, o isolamento de Dirceu da massa carcerária e o regime
diferenciado de visitas não são regalias, como noticiado na imprensa,
mas uma política carcerária já posta em prática muito antes de seu
ingresso na unidade. Ele não tem mais visitas que os demais presos,
apenas as recebe em dia e hora diferentes por uma questão de segurança.
É também parte da política carcerária permitir a visita de advogados a
seus clientes na hora e no dia que eles, os advogados, solicitarem. Se
Dirceu recebe mais visitas de advogados que os demais presos não é
porque isso seja uma “regalia”, mas tão somente porque a maior parte da
massa carcerária – em sua quase totalidade pobre, jovem e negra – é
privada do acesso à Justiça e não conta com advogados. A culpa não é de
Dirceu, mas de um sistema excludente e injusto que priva contingentes de
direitos, com o aval de boa parte da sociedade que advoga que, “bandido
bom é bandido morto”.
Sendo assim, não se pode dizer que a visita dos advogados de Dirceu
seja uma regalia, quanto menos a feijoada que José Dirceu comeu em um
sábado. Segundo a administração do presídio, o funcionamento, dentro da
unidade, de uma cantina com alimentos, cigarros e material de higiene é
também parte da política carcerária; esses alimentos podem ser comprados
com o dinheiro que os familiares são autorizados a deixar a cada visita
(R$ 125 reais). Aquilo, então, não era uma “regalia”, mas tão somente
fruto dessa política.
Todos os presos recebem café com leite no café da amanhã. Já frutas –
exceto as cítricas e com cascas -, só as recebem os presos com dietas
recomendadas pelos médicos e profissionais de saúde que os atendem, como
é o caso de Dirceu.
Os gestores negaram peremptoriamente que Dirceu tenha feito uso de
celular. Sindicância realizada sob fiscalização do Ministério Público
mostrou que a denúncia não procede. Os gestores, entretanto, admitem
que, apesar da rigorosa fiscalização, celulares já foram apreendidos em
celas de outros presos e que os aparelhos entram na unidade prisional
“intocados” nas vaginas e ânus de familiares em dias de visita (segundo
os gestores, o scanner de corpo é eficiente mas não infalível, dado os
tamanhos e as levezas dos novos aparelhos celulares).
Na visita à cela de Dirceu, constamos que a mesma era uma antiga
cantina que foi adaptada como cela para receber os réus do mensalão.
Neste espaço em que cabem oito pessoas, foram colocadas 11. Dirceu
encontrava-se sozinho porque os demais trabalham durante o dia, já que
estão em regime semi-aberto. A cela continha infiltração e estava limpa.
Havia uma tevê pequena. Nenhum dos diligentes testou o chuveiro da
cela, portanto não há como saber se havia, ali, água quente ou não.
Neste ponto, faço uma observação: apesar de todos termos visitados,
juntos, as instalações, a entrada da minha colega, Mara Gabrilli, foi
impossível, já que sua cadeira não passava pela porta, o que é algo
realmente questionável em uma instalação que também precisa atender
cadeirantes (Mas essa posição não impedia Mara de observar a Cela nem de
conversar com Dirceu). Mais abaixo, falo das péssimas situações destes
cadeirantes presenciadas por nós.
Visitamos também outras celas em que haviam mais aparelhos e conforto
(tevê, microondas, sanduicheira e fogão) que a de José Dirceu. De
acordo com os gestores, nem todas as celas dispõem desses bens porque 1)
a maioria dos presos é pobre e seus familiares idem, o que lhes impede
de comprar esses bens; 2) a direção da unidade não pode liberar a
presença desses bens nas celas em que haja presos que possam causar dano
a um colega ou à estrutura da prisão (como botar fogo em colchão ou
queimar a mão de um colega na sanduicheira, por exemplo).
Vistamos, ainda, celas em que há mais presos que a capacidade máxima e
constatamos que presos em cadeiras de rodas nem sempre são contemplados
por uma política diferenciada que leve em conta sua vulnerabilidade e
especificidades (banho de sol em horários diferentes e separação da
massa carcerária para que sua cadeira de rodas não seja tomada para ser
transformada em arma). Na mesma cela em que havia dois cadeirantes –
acompanhados de um preso cuidador, o que é bom e recomendado – havia
também dois com doenças infecto-contagiosas que não foram especificadas.
Um dos cadeirantes é um jovem rapaz mineiro, atingido por um tiro que
o deixou paraplégico durante um assalto. Mesmo não tendo cometido crime
contra a vida, está preso nestas condições degradantes – o que está
muito distante de um cumprimento digno de uma pena e é uma situação que,
em geral, não recebe atenção por parte de nenhum veículo de imprensa.
Constatamos ainda o total despreparo dos gestores e agentes
carcerários para lidar com as vulnerabilidades e especificidades do
contingente de gays e transexuais presos, situação que pode ser mudada
com o apoio dos deputados da Frente LGBT.
Em resumo, constatamos que a unidade, em que pese ser uma das
melhores do país no quesito respeito aos direitos humanos da população
carcerária, ainda tem muito que avançar. A maior parte da massa
carcerária está privada de condições dignas para cumprir a pena devido a
um processo de exclusão e violação de direitos que antecede o ingresso
na prisão.
De forma pessoal, constatei que o senhor José Dirceu não goza de
qualquer das “regalias” apontadas pela imprensa e que serviram de
justificativa para o STF lhe negar o direito a um trabalho fora. O que
espero é que seja feita a justiça de forma honesta e consciente, e que
esta independa das condições do apenado. E, acima de tudo, nós, os
deputados comprometidos com o respeito aos direitos humanos, cobramos
que as cadeias ofereçam um espaço digno para que os presos possam ser
reinseridos à sociedade, ao contrário do senso comum de que as cadeias
devam ser apenas um depósito de seres que um dia foram humanos.
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 03, 2014 0 Comentários
Ana Maria Gonçalves: Carta Aberta ao Ziraldo
Carta Aberta sugerida pelo João Elias de 2011, mas muito importante para reflexão sobre o racismo no Brasil e como intelectuais brancos contribuem para reproduzir a desigualdade. No caso de Ziraldo, este monstro racista e invejoso, foi um daqueles brancos "progressistas" que destruiriam a carreira de Wilson Simonal!!!! Boa leitura
Caro Ziraldo,
Olho a triste figura de Monteiro Lobato abraçado a uma mulata, estampada nas camisetas do bloco carnavalesco carioca "Que merda é essa?"
e vejo que foi obra sua. Fiquei curiosa para saber se você conhece a
opinião de Lobato sobre os mestiços brasileiros e, de verdade, queria
que não. Eu te respeitava, Ziraldo. Esperava que fosse o seu senso de
humor falando mais alto do que a ignorância dos fatos, e por breves
momentos até me senti vingada. Vingada contra o racismo do eugenista Monteiro Lobato que, em carta ao amigo Godofredo Rangel, desabafou: "(...)Dizem
que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e
dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num
desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que
volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas
as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da
África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se
do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o,
dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui
para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um
desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes
um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi?” “Desastre
na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto
dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou
aqui, na sua inconsciente vingança!..." (em "A barca de Gleyre". São
Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).
Ironia das ironias, Ziraldo, o nome do livro de onde foi tirado o trecho
acima é inspirado em um quadro do pintor suíço Charles Gleyre
(1808-1874), Ilusões Perdidas. Porque foi isso que aconteceu. Porque
lendo uma matéria sobre o bloco e a sua participação, você assim o endossa :
"Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando com
uma mulata. Ele tem um conto sobre uma neguinha que é uma maravilha.
Racismo tem ódio. Racismo sem ódio não é racismo. A ideia é acabar com
essa brincadeira de achar que a gente é racista". A gente quem,
Ziraldo? Para quem você se (auto) justifica? Quem te disse que racismo
sem ódio, mesmo aquele com o "humor negro" de unir uma mulata a quem
grande ódio teve por ela e pelo que ela representava, não é racismo?
Monteiro Lobato, sempre que se referiu a negros e mulatos, foi com ódio,
com desprezo, com a certeza absoluta da própria superioridade, fazendo
uso do dom que lhe foi dado e pelo qual é admirado e defendido até hoje.
Em uma das cartas que iam e vinham na barca de Gleyre (nem todas estão
publicadas no livro, pois a seleção foi feita por Lobato, que as
censurou, claro) com seu amigo Godofredo Rangel, Lobato confessou que
sabia que a escrita "é um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, 'work' muito mais eficientemente".
Lobato estava certo. Certíssimo. Até hoje, muitos dos que o leram não
vêem nada de errado em seu processo de chamar negro de burro aqui, de
fedorento ali, de macaco acolá, de urubu mais além. Porque os processos
indiretos, ou seja, sem ódio, fazendo-se passar por gente boa e amiga
das crianças e do Brasil, "work" muito bem. Lobato ficou frustradíssimo
quando seu "processo" sem ódio, só na inteligência, não funcionou com os
norte-americanos, quando ele tentou em vão encontrar editora que
publicasse o que considerava ser sua obra prima em favor da eugenia e da
eliminação, via esterilização, de todos os negros. Ele falava do livro "O presidente negro ou O choque das raças"
que, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, país daquele
povo que odeia negros, como você diz, Ziraldo, foi publicado no Brasil.
Primeiro em capítulos no jornal carioca A Manhã, do qual Lobato era
colaborador, e logo em seguida em edição da Editora Companhia Nacional,
pertencente a Lobato. Tal livro foi dedicado secretamente ao amigo e médico eugenista Renato Kehl, em meio à vasta e duradoura correspondência trocada pelos dois:
“Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu
Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no
frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. (...) Precisamos
lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade precisa de uma coisa só:
póda. É como a vinha".
Impossibilitado de colher os frutos dessa poda nos EUA, Lobato desabafou com Godofredo Rangel:
"Meu romance não encontra editor. [...]. Acham-no ofensivo à dignidade
americana, visto admitir que depois de tantos séculos de progresso moral
possa este povo, coletivamente, cometer a sangue frio o belo crime que
sugeri. Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles
linchavam os negros." Tempos depois, voltou a se animar: "Um
escândalo literário equivale no mínimo a 2.000.000 dólares para o autor
(...) Esse ovo de escândalo foi recusado por cinco editores
conservadores e amigos de obras bem comportadas, mas acaba de encher de
entusiasmo um editor judeu que quer que eu o refaça e ponha mais matéria
de exasperação. Penso como ele e estou com idéias de enxertar um
capítulo no qual conte a guerra donde resultou a conquista pelos Estados
Unidos do México e toda essa infecção spanish da América Central. O meu
judeu acha que com isso até uma proibição policial obteremos - o que
vale um milhão de dólares. Um livro proibido aqui sai na Inglaterra e
entra boothegued como o whisky e outras implicâncias dos puritanos".
Lobato percebeu, Ziraldo, que talvez devesse apenas exasperar-se mais,
ser mais claro em suas ideias, explicar melhor seu ódio e seu racismo,
não importando a quem atingiria e nem por quanto tempo perduraria, e nem
o quão fundo se instalaria na sociedade brasileira. Importava o
dinheiro, não a exasperação dos ofendidos. 2.000.000 de dólares, ele
pensava, por um ovo de escândalo. Como também foi por dinheiro que o Jeca Tatu, reabilitado, estampou as propagandas do Biotônico Fontoura.
Você sabe que isso dá dinheiro, Ziraldo, mesmo que o investimento tenha sido a longo prazo, como ironiza Ivan Lessa: "Ziraldo,
o guerrilheiro do traço, está de parabéns. Finalmente o governo
brasileiro tomou vergonha na cara e acabou de pagar o que devia pelo
passe de Jeremias, o Bom, imortal personagem criado por aquele que
também é conhecido como “o Lamarca do nanquim”. Depois do imenso sucesso
do calunguinha nas páginas de diversas publicações, assim como também
na venda de diversos produtos farmacêuticos, principalmente doenças da
tireóide, nos idos de 70, Ziraldo, cognominado ainda nos meios
esclarecidos como “o subversivo da caneta Pilot”, houve por bem (como
Brutus, Ziraldo é um homem de bem; são todos uns homens de bem – e de
bens também) vender a imagem de Jeremias para a loteca, ou seja, para a
Caixa Econômica Federal (federal como em República Federativa do Brasil)
durante o governo Médici ou Geisel (os déspotas esclarecidos em muito
se assemelham, sendo por isso mesmo intercambiáveis)".
No tempo em que linchavam negros, disse Lobato, como se o linchamento
ainda não fosse desse nosso tempo. Lincham-se negros nas ruas, nas
portas dos shoppings e bancos, nas escolas de todos os níveis de ensino,
inclusive o superior. O que é até irônico, porque Lobato nunca poderia
imaginar que chegariam lá. Lincham-se negros, sem violência física, é
claro, sem ódio, nos livros, nos artigos de jornais e revistas, nos
cartoons e nas redes sociais, há muitos e muitos carnavais. Racismo não
nasce do ódio ou amor, Ziraldo, sendo talvez a causa e não a
consequência da presença daquele ou da ausência desse. Racismo nasce da
relação de poder. De poder ter influência ou gerência sobre as vidas de
quem é considerado inferior. "Em que estado voltaremos, Rangel," se pergunta Lobato, ao se lembrar do quadro para justificar a escolha do nome do livro de cartas trocadas, "desta
nossa aventura de arte pelos mares da vida em fora? Como o velho de
Gleyre? Cansados, rotos? As ilusões daquele homem eram as velas da barca
– e não ficou nenhuma. Nossos dois barquinhos estão hoje cheios de
velas novas e arrogantes, atadas ao mastro da nossa petulância. São as
nossas ilusões". Ah, Ziraldo, quanta ilusão (ou seria petulância?
arrogância; talvez? sensação de poder?) achar que impor à mulata a
presença de Lobato nessa festa tipicamente negra, vá acabar com a
polêmica e todos poderemos soltar as ancas e cada um que sambe como sabe
e pode. Sem censura. Ou com censura, como querem os quemerdenses. Mesmo
que nesse do Caçadas de Pedrinho a palavra censura não
corresponda à verdade, servindo como mero pretexto para manifestação de
discordância política, sem se importar com a carnavalização de um tema
tão dolorido e tão caro a milhares de brasileiros. E o que torna tudo
ainda mais apelativo é que o bloco aponta censura onde não existe e se
submete, calado, ao pedido da prefeitura para que não use o próprio nome
no desfile. Não foi assim? Você não teve que escrever "M*" porque a palavra "merda" foi censurada? Como é que se explica isso, Ziraldo? Mente-se e cala-se quando convém? Coerência é uma questão de caráter.
O
que o MEC solicita não é censura. É respeito aos Direitos Humanos. Ao
direito de uma criança negra em uma sala de aula do ensino básico e
público, não se ver representada (sim, porque os processos indiretos,
como Lobato nos ensinou, "work" muito mais eficientemente) em
personagens chamados de macacos, fedidos, burros, feios e outras
indiretas mais. Você conhece os direitos humanos, inclusive foi o
artista escolhido para ilustrar a Cartilha de Direitos Humanos
encomendada pela Presidência da República, pelas secretarias Especial
de Direitos Humanos e de Promoção dos Direitos Humanos, pela ONU, a
UNESCO, pelo MEC e por vários outros órgãos. Muitos dos quais você agora
desrespeita ao querer, com a sua ilustração, acabar de vez com a
polêmica causada por gente que estudou e trabalhou com seriedade as
questões de educação e desigualdade racial no Brasil. A adoção do Caçadas de Pedrinho
vai contra a lei de Igualdade Racial e o Estatuto da Criança e do
Adolescente, que você conhece e ilustrou tão bem. Na página 25 da sua
Cartilha de Direitos Humanos, está escrito: "O único jeito de uma
sociedade melhorar é caprichar nas suas crianças. Por isso, crianças e
adolescentes têm prioridade em tudo que a sociedade faz para garantir os
direitos humanos. Devem ser colocados a salvo de tudo que é violência e
abuso. É como se os direitos humanos formassem um ninho para as
crianças crescerem." Está lá, Ziraldo, leia de novo: "crianças e
adolescentes têm prioridade". Em tudo. Principalmente em situações nas
quais são desrespeitadas, como na leitura de um livro com passagens
racistas, escrito por um escritor racista com finalidades racistas. Mas
você não vê racismo e chama de patrulhamento do politicamente correto e
censura. Você está pensando nas crianças, Ziraldo? Ou com medo de que,
se a moda pega, a "censura" chegue ao seu direito de continuar brincando
com o assunto? "Acho injusto fazer isso com uma figura da grandeza de
Lobato", você disse em uma reportagem. E com as crianças, o público-alvo
que você divide com Lobato, você acha justo? Sim, vocês dividem o mesmo
público e, inclusive, alguns personagens, como uma boneca e pano e o
Saci, da sua Turma do Pererê. Medo de censura, Ziraldo, talvez aos
deslizes, chamemos assim, que podem ser cometidos apenas porque se
acostuma a eles, a ponto de pensar que não são, de novo chamemos assim,
deslizes.
A gente se acostuma, Ziraldo. Como o seu menino marrom se acostumou com as sandálias de dedo:
"O menino marrom estava tão acostumado com aquelas sandálias que era
capaz de jogar futebol com elas, apostar corridas, saltar obstáculos sem
que as sandálias desgrudassem de seus pés. Vai ver, elas já faziam
parte dele" (ZIRALDO, 1986,p. 06, em O Menino Marrom). O menino
marrom, embora seja a figura simpática e esperta e bonita que você
descreve, estava acostumado e fadado a ser pé-de-chinelo, em comparação
ao seu amigo menino cor-de-rosa, porque "(...) um já está quase
formado e o outro não estuda mais (...). Um já conseguiu um emprego, o
outro foi despedido do quinto que conseguiu. Um passa seus dias lendo
(...), um não lê coisa alguma, deixa tudo pra depois (...). Um pode ser
diplomata ou chofer de caminhão. O outro vai ser poeta ou viver na
contramão (...). Um adora um som moderno e o outro – Como é que pode? –
se amarra é num pagode. (...) Um é um cara ótimo e o outro, sem qualquer
duvida, é um sujeito muito bom. Um já não é mais rosado e o outro está
mais marrom" (ZIRALDO, 1986, p.31). O menino marrom, ao crescer, talvez virasse marginal, fado de muito negro, como você nos mostra aqui: "(...)
o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: por que você vem todo o dia
ver a velhinha atravessar a rua? E o menino marrom respondeu: Eu quero
ver ela ser atropelada" (ZIRALDO, 1986, p.24), porque a própria
professora tinha ensinado para ele a diferença e a (não) mistura das
cores. Então ele pensou que "Ficar sozinho, às vezes, é bom: você
começa a refletir, a pensar muito e consegue descobrir coisas lindas.
Nessa de saber de cor e de luz (...) o menino marrom começou a entender
porque é que o branco dava uma idéia de paz, de pureza e de alegria. E
porque razão o preto simbolizava a angústia, a solidão, a tristeza. Ele
pensava: o preto é a escuridão, o olho fechado; você não vê nada. O
branco é o olho aberto, é a luz!" (ZIRALDO, 1986, p.29), e que
deveria se conformar com isso e não se revoltar, não ter ódio nenhum ao
ser ensinado que, daquela beleza, pureza e alegria que havia na cor
branca, ele não tinha nada. O seu texto nos ensina que é assim, sem
ódio, que se doma e se educa para que cada um saiba o seu lugar, com
docilidade e resignação: "Meu querido amigo: Eu andava muito triste
ultimamente, pois estava sentindo muito sua falta. Agora estou mais
contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é,
apenas, a ausência do branco" (ZIRALDO, 1986, p.30).
Olha que interessante, Ziraldo: nós que sabemos do racismo confesso
de Lobato e conseguimos vê-lo em sua obra, somos acusados por você de
"macaquear" (olha o termo aí) os Estados Unidos, vendo racismo em tudo.
"Macaqueando" um pouco mais, será que eu poderia também acusá-lo de
estar "macaqueando" Lobato, em trechos como os citados acima? Sem saber,
é claro, mas como fruto da introjeção de um "processo" que ele provou
que "work" com grande eficiência e ao qual podemos estar todos sujeitos,
depois de sermos submetidos a ele na infância e crescermos em uma
sociedade na qual não é combatido. Afinal, há quem diga que não somos
racistas. Que quem vê o racismo, na maioria os negros, que o sofrem,
estão apenas "macaqueando". Deveriam ficar calados e deixar dessa
bobagem. Deveriam se inspirar no menino marrom e se resignarem. Como não
fazem muitos meninos e meninas pretos e marrons, aqueles que são a
ausência do branco, que se chateiam, que se ofendem, que sofrem
preconceito nas ruas e nas escolas e ficam doídos, pensando nisso o
tempo inteiro, pensando tanto nisso que perdem a vontade de ir à escola,
começam a tirar notas baixas
porque ficam matutando, ressentindo, a atenção guardadinha lá debaixo
da dor. E como chegam à conclusão de que aquilo não vai mudar, que não
vão dar em nada mesmo, que serão sempre pés-de-chinelo, saem por aí
especializando-se na arte de esperar pelo atropelamento de velhinhas.
Racismo é um dos principais fatores responsáveis pela limitada
participação do negro no sistema escolar, Ziraldo, porque desvia o foco,
porque baixa a auto-estima, porque desvia o foco das atividades, porque
a criança fica o tempo todo tendo que pensar em como não sofrer mais
humilhações, e o material didático, em muitos casos, não facilita nada a vida delas.
E quando alguma dessas crianças encontra um jeito de fugir a esse
destino, mesmo que não tenha sido através da educação, fica insuportável
e merece o linchamento público e exemplar, como o sofrido por Wilson
Simonal. Como exemplo, temos a sua opinião sobre ele: "Era tolo, se achava o rei da cocada preta, coitado. E era mesmo. Era metido, insuportável".
Sabe, Ziraldo, é por causa da perpetuação de estereótipos como esses
que às vezes a gente nem percebe que eles estão ali, reproduzidos a
partir de preconceitos adquiridos na infância, que a SEPPIR pediu que o MEC reavaliasse a adoção de Caçadas de Pedrinho.
Não a censura, mas a reavaliação. Uma nota, talvez, para ser colocada
junto com as outras notas que já estão lá para proteger os direitos das
onças de não serem caçadas e o da ortografia, de evoluir. Já estão lá no
livro essas duas notas e a SEPPIR pede mais uma apenas, para que as
crianças e os adolescentes sejam "colocados a salvo de tudo que é
violência e abuso", como está na cartilha que você ilustrou. Isso é um
direito delas, como seres humanos. É por isso que tem gente lutando,
como você também já lutou por direitos humanos e por reparação. É isso
que a SEPPIR pede: reparação pelos danos causados pela escravidão e pelo
racismo.
Assim você se defendeu de quem o atacou na época em que conseguiu fazer valer os seus direitos: "(…)
Espero apenas que os leitores (que o criticam) não tenham sua casa
invadida e, diante de seus filhos, sejam seqüestrados por componentes do
exército brasileiro pelo fato de exercerem o direito de emitir sua
corajosa opinião a meu respeito, eu, uma figura tão poderosa”. Ziraldo, você tem noção do que aconteceu com os, citando Lobato, "negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão",
e do que acontece todos os dias com seus descendentes em um país que
naturalizou e, paradoxalmente, nega o seu racismo? De quantos já
morreram e ainda morrem todos os dias porque tem gente que não os leva a
sério? Por causa do racismo é bem difícil que essa gente fadada a ser
pé-de-chinelo a vida inteira, essas pessoas dos subúrbios, que perpassam
todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas,
menos a normal, - porque nelas está a ausência do branco, esse povo
todo representado pela mulata dócil que você faz sorrir nos braços de um
dos escritores mais racistas e perversos e interesseiros que o Brasil
já teve, aquele que soube como ninguém que um país (racista) também de
faz de homens e livros (racistas), por causa disso tudo, Ziraldo, é que
eu ia dizendo ser quase impossível para essa gente marrom, herdeira
dessa gente de cor que simboliza a angústia, a solidão, a tristeza,
gerar pessoas tão importantes quanto você, dignas da reparação (que nem é
financeira, no caso) que o Brasil também lhes deve: respeito. Respeito
que precisou ser ancorado em lei para que tivesse validade, e cuja
aplicação você chama de censura.
Junto com outros grandes nomes da literatura infantil brasileira, como Ana Maria Machado e Ruth Rocha, você assinou uma carta que, em defesa de Lobato e contra a censura inventada pela imprensa, diz: "Suas
criações têm formado, ao longo dos anos, gerações e gerações dos
melhores escritores deste país que, a partir da leitura de suas obras,
viram despertar sua vocação e sentiram-se destinados, cada um a seu
modo, a repetir seu destino. (...) A maravilhosa obra de Monteiro Lobato
faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos,
alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças. Nenhum de
nós, nem os mais vividos, têm conhecimento de que os livros de Lobato
nos tenham tornado pessoas desagregadas, intolerantes ou racistas. Pelo
contrário: com ele aprendemos a amar imensamente este país e a alimentar
esperança em seu futuro. Ela inaugura, nos albores do século passado,
nossa confiança nos destinos do Brasil e é um dos pilares das nossas
melhores conquistas culturais e sociais." É isso. Nos livros de
Lobato está o racismo do racista, que ninguém vê, que vocês acham que
não é problema, que é alicerce, que é necessário à formação das nossas
futuras gerações, do nosso futuro. E é exatamente isso. Alicerce de uma
sociedade que traz o racismo tão arraigado em sua formação que não
consegue manter a necessária distância do foco, a necessário distância
para enxergá-lo. Perpetuar isso parece ser patriótico, esse racismo que
"faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos,
alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças." Sabe
o que Lobato disse em carta ao seu amigo Poti, nos albores do século
passado, em 1905? Ele chamava de patriota o brasileiro que se casasse
com uma italiana ou alemã, para apurar esse povo, para acabar com essa
raça degenerada que você, em sua ilustração, lhe entrega de braços
abertos e sorridente. Perpetuar isso parece alimentar posições de
pessoas que, mesmo não sendo ou mesmo não se achando racistas, não se
percebem cometendo a atitude racista que você ilustrou tão bem: entregar
essas crianças negras nos braços de quem nem queria que elas nascessem.
Cada um a seu modo, a repetir seu destino. Quem é poderoso, que cobre, muito bem cobrado, seus direitos; quem não é, que sorria, entre na roda e aprenda a sambar.
Peguei-o para bode expiatório, Ziraldo? Sim, sempre tem que ter
algum. E, sem ódio, espero que você não queira que eu morra por te
criticar. Como faziam os racistas nos tempos em quem ainda linchavam
negros. Esses abusados que não mais se calam e apelam para a lei ao
serem chamados de "macaco", "carvão", "fedorento", "ladrão",
"vagabundo", "coisa", "burro", e que agora querem ser tratados como
gente, no concerto dos povos. Esses que, ao denunciarem e quererem se
livrar do que lhes dói, tantos problemas criam aqui, nesse país do
futuro. Em uma matéria do Correio Braziliense você disse que
"Os americanos odeiam os negros, mas aqui nunca houve uma organização
como a Ku Klux Klan. No Brasil, onde branco rico entra, preto rico
também entra. Pelé nunca foi alvo de uma manifestação de ódio racial. O
racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos”. Se
dependesse de Monteiro Lobato, o Brasil teria tido sua Ku-Klux-Klan,
Ziraldo. Leia só o que ele disse em carta ao amigo Arthur Neiva, enviada
de Nova Iorque em 1928, querendo macaquear os brancos norte-americanos:
"Diversos amigos me dizem: Por que não escreve suas impressões? E
eu respondo: Porque é inútil e seria cair no ridículo. Escrever é
aparecer no tablado de um circo muito mambembe, chamado imprensa, e
exibir-se diante de uma assistência de moleques feeble-minded e despidos
da menos noção de seriedade. Mulatada, em suma. País de mestiços onde o
branco não tem força para organizar uma Kux-Klan é país perdido para
altos destinos. André Siegfred resume numa frase as duas atitudes. "Nós
defendemos o front da raça branca - diz o sul - e é graças a nós que os
Estados Unidos não se tornaram um segundo Brasil". Um dia se fará
justiça ao Kux-Klan; tivéssemos aí uma defesa dessa ordem, que mantém o
negro no seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa
carioca - mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a
mestiçagem do negro destroem (sic) a capacidade construtiva." Fosse
feita a vontade de Lobato, Ziraldo, talvez não tivéssemos a imprensa
carioca, talvez não tivéssemos você. Mas temos, porque, como você também
diz, "o racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos."
Como, para acabar com a polêmica, você nos ilustra com o desenho para o
bloco quemerdense. Olho para o rosto sorridente da mulata nos braços de
Monteiro Lobato e quase posso ouvi-la dizer: "Só dói quando eu rio".
Com pesar, e em retribuição ao seu afeto,
Ana Maria Gonçalves
Negra, escritora, autora de Um defeito de cor.
# postado por Instituto Mundo Multipolar @ maio 03, 2014 0 Comentários