LOLA: HOMENS PODEM (E DEVEM) SER FEMINISTAS
Do Blog Escreva Lola Escreva
No final de abril a jovem Jarid Arraes publicou um post muito completo e embasado na Fórum, analisando o papel dos homens no feminismo.
Ela entrevistou oito homens (alguns conhecidos
meus), que se dividem entre se declarar feministas ou pró-feminismo --
em linhas gerais, os pró-feminismo não se assumem feministas para não
ameaçar o protagonismo das mulheres.
Ontem saiu um artigo no New York Times, escrito por um homem, perguntando: "É possível ser um homem feminista?", com várias perspectivas, todas com um viés bem americano, como é de se esperar.
Minha posição sobre o assunto não mudou nesses 6,5 anos de blog: sim, homens podem ser feministas. Aliás, eu quero mais é que sejam. Eu quero que todo mundo se assuma feminista, ué. Eu não segrego, eu não excluo. Mesmo que minha definição de feminismo tenha se alterado um pouquinho -- antes eu achava que era só ser "a favor de direitos iguais", hoje eu acho que é uma luta contra todas as opressões, principalmente contra a opressão do machismo --, eu sempre achei que feminismo é pra todo mundo. Esse inclusive é o título de um belo livro da magnífica bell hooks.
Para
hooks, feminismo é um movimento para acabar com o sexismo, a exploração
sexista e a opressão. Desse jeito, ela nomeia o inimigo -- não é o
homem, é o machismo.
Ninguém deveria querer acabar com os homens. Mas todo mundo deveria
querer acabar com o machismo. E, para hooks, ser revolucionárix não é só
querer mais direitos dentro do sistema. É querer transformar o sistema.
Concordo 100% com ela.
Pra mim, o feminismo deve ser inclusivo. Não é pra um grupinho seleto que leu as "bíblias" do feminismo (livros sagrados que variam bastante, de acordo com cada corrente). Não é um clubinho fechado. Não é apenas pra quem milita. É pra todo mundo. E como esse "todo mundo" poderia querer excluir homens?
Mas, sem dúvida, muitos homens sentem-se excluídos do feminismo. Em abril do ano passado recebi email de um leitor, um sociólogo, casado, que fora com a esposa a um evento feminista, e viu-se rejeitado porque "o discurso é sempre voltado às mulheres". Pra piorar, na saída do evento, ele ouviu uma participante dizer pra outra que seria melhor se o encontro fosse "restrito ao público feminino". Essa foi a gota d'água pro sociólogo. Ele, que sempre se dissera feminista, iria "abdicar do rótulo". A partir de então, não mais lutaria contra a opressão de mulheres.
Na ocasião, eu respondi com um email dizendo que o feminismo é plural, que a opinião de uma pessoa não representava o movimento inteiro, que quem sabe no próximo evento haveria discussão envolvendo homens. Só que, na hora de editar o post, percebi que o moço estava transformando um movimento político num problema individual. Pareceu chantagem: vocês não me dão a devida atenção, então tô fora. O que de jeito nenhum deveria ser o comportamento de um homem, feminista ou não. Muito menos de um homem feminista. Então respondi novamente (tudo foi relatado neste post. Os comentários também são interessantes).
No começo do ano publiquei um guest post de uma moça que trabalha com programação e escreveu sobre o forte machismo na área de TI. Nos comentários apareceu um professor de TI indignado, dizendo que não era assim, que não havia machismo, e que ele sim podia falar porque trabalhava na área. Eu rebati que a autora do guest post também trabalhava na área, que aquela era a experiência dela, e que a dele não era mais importante.

Ontem saiu um artigo no New York Times, escrito por um homem, perguntando: "É possível ser um homem feminista?", com várias perspectivas, todas com um viés bem americano, como é de se esperar.
Minha posição sobre o assunto não mudou nesses 6,5 anos de blog: sim, homens podem ser feministas. Aliás, eu quero mais é que sejam. Eu quero que todo mundo se assuma feminista, ué. Eu não segrego, eu não excluo. Mesmo que minha definição de feminismo tenha se alterado um pouquinho -- antes eu achava que era só ser "a favor de direitos iguais", hoje eu acho que é uma luta contra todas as opressões, principalmente contra a opressão do machismo --, eu sempre achei que feminismo é pra todo mundo. Esse inclusive é o título de um belo livro da magnífica bell hooks.

Pra mim, o feminismo deve ser inclusivo. Não é pra um grupinho seleto que leu as "bíblias" do feminismo (livros sagrados que variam bastante, de acordo com cada corrente). Não é um clubinho fechado. Não é apenas pra quem milita. É pra todo mundo. E como esse "todo mundo" poderia querer excluir homens?
Mas, sem dúvida, muitos homens sentem-se excluídos do feminismo. Em abril do ano passado recebi email de um leitor, um sociólogo, casado, que fora com a esposa a um evento feminista, e viu-se rejeitado porque "o discurso é sempre voltado às mulheres". Pra piorar, na saída do evento, ele ouviu uma participante dizer pra outra que seria melhor se o encontro fosse "restrito ao público feminino". Essa foi a gota d'água pro sociólogo. Ele, que sempre se dissera feminista, iria "abdicar do rótulo". A partir de então, não mais lutaria contra a opressão de mulheres.
Na ocasião, eu respondi com um email dizendo que o feminismo é plural, que a opinião de uma pessoa não representava o movimento inteiro, que quem sabe no próximo evento haveria discussão envolvendo homens. Só que, na hora de editar o post, percebi que o moço estava transformando um movimento político num problema individual. Pareceu chantagem: vocês não me dão a devida atenção, então tô fora. O que de jeito nenhum deveria ser o comportamento de um homem, feminista ou não. Muito menos de um homem feminista. Então respondi novamente (tudo foi relatado neste post. Os comentários também são interessantes).
No começo do ano publiquei um guest post de uma moça que trabalha com programação e escreveu sobre o forte machismo na área de TI. Nos comentários apareceu um professor de TI indignado, dizendo que não era assim, que não havia machismo, e que ele sim podia falar porque trabalhava na área. Eu rebati que a autora do guest post também trabalhava na área, que aquela era a experiência dela, e que a dele não era mais importante.
Ele me enviou um
email mais revoltado ainda relatando que já tinha ido a uma palestra
minha com a namorada: "Os olhos dela brilhavam ao falar de você e dos
seus pensamentos. Ela citou o quanto você é ofendida e ameaçada. Mas
depois que li no seu blog a minha resposta, você perdeu todos os seus
pontos positivos. Nunca vi tamanho desrespeito, preconceito e ofensa a
mim. Uma pessoa totalmente honesta e correta!"
Levei um mês pra parar de revirar os olhos. Daí respondi: "Vc
escreveu um comentário negando que a experiência de uma leitora seja
legítima e verdadeira. Não sei se vc sabe, mas esse é o comportamento
padrão de trolls machistas. Não estou dizendo que vc é um troll
machista, estou dizendo que vc agiu como um. Entenda: não é sobre você.
Vc parece centrado demais na validação da sua pessoa, da sua
experiência. Vc insiste que a sua experiência é a única que deve ser
ouvida. Se vc age dessa forma -- deslegitimando experiências alheias, se
revoltando com uma resposta -- mesmo depois de ter algum contato com o
feminismo, bom, tudo o que posso dizer é que vc precisa de muito mais
contato com o feminismo, porque vc parece não ter aprendido muita coisa.
Espero que sua namorada possa ajudá-lo".
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Camiseta unissex |
Meu terceiro e
último caso de frustração com homens feministas: já troquei mensagens
com um feminista que me disse, na cara dura, que ele era feminista para
seduzir mais mulheres, porque, afinal, tudo que os homens fazem é pra
conseguir sexo. Como o cara em questão sempre evita confronto e mantém
um ar blasé de "tudo que eu falo é irônico pra provocar", pode ser que
ele estivesse apenas brincando. Mas foi meio chocante.
Tem o outro lado também (sempre tem). Eu posso citar uma dúzia de exemplos de homens que se assumem feministas e não decepcionam. O melhor blog de feminismo acadêmico que acompanho é escrito por três homens feministas. Mas observo de longe casos de homens que vem com toda boa vontade se unir ao feminismo e são recebidos com pedradas.
Num post de
um mês atrás na sua página no FB, Cynthia Semíramis, uma feminista que
conheço desde que comecei o blog, e que, apesar de várias discordâncias,
sempre teve a maturidade de não "romper relações", relatou uma situação
bizarra. Um rapaz tirou uma foto apoiando a Marcha das Vadias de BH. Em
represália, ganhou uma montagem com a frase "Vou tirar delas a única
coisa que elas ainda têm: o protagonismo em seus movimentos".
Cynthia
pergunta, com razão, como uma foto de um apoiador pode tirar o
protagonismo de um movimento. Sendo que o rapaz nunca se disse
protagonista de nada. Sinceramente: isso é necessário? Por que tratar
com agressão gratuita um aliado?
Tem o outro lado também (sempre tem). Eu posso citar uma dúzia de exemplos de homens que se assumem feministas e não decepcionam. O melhor blog de feminismo acadêmico que acompanho é escrito por três homens feministas. Mas observo de longe casos de homens que vem com toda boa vontade se unir ao feminismo e são recebidos com pedradas.
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Campanha da página do FB Homens contra o Machismo (sem relação com a Marcha das Vadias) |

Faz pouco tempo
brincávamos de "adoro homem feminista", "homem feminista é sexy", e
agora estamos pejorativamente chamando homens feministas de
"feministos". O que mudou, de lá pra cá? (Minha hipótese é que correntes
minoritárias do feminismo, que antes só existiam no Orkut, muitas vezes
em comunidades fechadas, tornaram-se mais vocais com o Facebook.) Claro
que existe um amplo debate acadêmico sobre homens no feminismo, mas não
é isso que vemos na internet. Infelizmente, o que vemos aqui é
feminista achar que contribui pra discussão escrevendo "iuzomismo" e
"male tears".
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Homens contra o Machismo |
Em toda palestra que eu vou tem homem. E em todas eles parecem ouvir atentamente, ávidos para aprender. Em muitas eles perguntam o que eu acho dos homens no feminismo. Minha resposta é sempre a mesma: eu acho ótimo. Vengan! Só não creio que homens devem ser protagonistas, assim como héteros não devem ser líderes de movimentos LGBT, e brancos não devem liderar movimentos negros (bom, no movimento negro do PSDB, cujo slogan é "a luta não é do negro, é nossa", a liderança de um dos núcleos é de uma branca loira).
Depois das palestras, muitos homens vem me abraçar e tirar foto comigo. Sinto um carinho genuíno vindo deles. Sei que há um monte de homens que querem a minha caveira. São homens preconceituosos, de direita, atrasados no tempo. Não dou a mínima pro que eles pensam de mim ou do feminismo. Mas a grande maioria dos homens com quem tenho contato de verdade (meu marido, meus amigos, meus alunos, o pessoal que vem as minhas palestras) luta pelos mesmos ideais que eu. Nunca na minha vida cogitei não gostar dos homens.


Pra mim, me dizer
feminista me basta. Não preciso, nem quero, me enquadrar em nenhuma
corrente feminista específica. Tenho discordâncias e concordâncias com
todas as correntes que conheço, e até dentro de correntes específicas há
bastante pluralidade. Pros homens (quase todos de direita) que odeiam o
feminismo e não sabem nada sobre ele, eu sou a mais misândrica e
radical das feministas, quase empatando com a segunda feminista que eles
conhecem, Valerie Solanas.
Já muitas feministas radicais se indignam comigo, me consideram mole demais (e um post falando que eu quero homens no feminismo certamente não as fará gostar mais de mim).
Mas quer saber? Não
estou aqui pra agradar machista ou misógino, nem pra agradar feminista
segregacionista, nem pra agradar homem que se diz feminista desde que
ele seja protagonista do movimento. Agora, pra todos os outros, pelo
menos no que me diz respeito, só posso dizer: seja bem-vindo. Sinta-se
acolhidx.
Já muitas feministas radicais se indignam comigo, me consideram mole demais (e um post falando que eu quero homens no feminismo certamente não as fará gostar mais de mim).
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Eles também podem. Todxs podemos, juntxs |
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