Andrei Martyanov: 72 horinhas. É o que basta(ria). 27/11/2020, , Blog Si Vis Pacem, Para Vino
| sáb., 5 de dez. 18:01 (há 11 dias) | |||
O iminente (trocadilho e tudo) governo Biden, assim como alemães em geral, tem uma queda por nomear gente sem qualificação (que sejam mulheres é aqui secundário) para os cargos mais importantes do governo. Entra Michele Flournoy, nova Secretária de Defesa. Analisemos a biografia dessa mulher “notável”. Comecemos com “educação”:
Como qualquer um vê – Flournoy tem currículo educacional/profissional que garante formação e futuro a qualquer um que declare QI superior à temperatura ambiente, desde a base, no campo das chamadas Humanidades. A ‘base’ de Flournoy é literatura ou, falando claramente, tem formação no mais glorioso dos idiomas, quer dizer, em inglês. No caso dela, me escapa completamente o motivo pelo qual a Escola de Governo JFK de Harvard poderia tê-la capacitado para comandar o Departamento da Defesa dos EUA, porque estudar e pesquisar “governo” é realmente facílimo para qualquer um com dois neurônios na cabeça, especialmente se as coisas devam ser feitas como são feitas nos EUA. Claro: estudar Teoria das Operações ou princípios do design e integração de armas é dificílimo.
Design e integração de armas é dificílimo, porque até para se aproximar desses estudos é preciso ser realmente muito bom em matemática, física e outras ciências naturais já no meio do ginásio; depois, é submeter os próprios talentos a instituição educacional capaz de garantir treinamento nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática [ing. STEM áreas] para levar o aprendiz a algum robusto nível universitário; só então alguém pode começar a falar de “base”, em termos que façam sentido para entender de organização militar, qualquer organização e qualquer militar, mas especialmente organização e militar do nível dos militares norte-americanos.
Lembremos a lição do primeiro-ministro russo Mikhail Mishustin, certeiro.
Conheço muitos financistas e economistas maravilhosos que começaram a vida como engenheiros medíocres, mas não conheço nenhum engenheiro, nem que fosse bom, que antes tivesse sido financista ou economista de sucesso.
Vejam bem: Mishustin é formado pela afamada Universidade de Tecnologia de Moscou [ing. Moscow State Technological University (MSTU)], antes chamada Instituto de Máquinas e Instrumentos de Moscou [em russo, nos anos 1930s, STANKIN] e completou seus estudos de pós-graduação lá mesmo, com especialização em Engenharia de Sistemas. Quer dizer: o cara sabe do que está falando. E o que ele diz aplica-se perfeitamente a Flournoy cujas realizações, nos governos Clinton e Obama, quando neles andou envolvida, incluem:
1. Quando serviu sob comando do governo Clinton, como vice-secretária de Defesa assistente, Flournoy assistiu no serviço de esboçar a Revisão Quadrienal da Defesa de 1997, que pretendia que “determinadas forças dos EUA têm de ser capazes de sustentar e vencer dois grandes teatros de guerra ao mesmo tempo.” Claro. Sei. Mas guardem as caretas para vocês mesmos. Eu guardo;
2. Quando serviu sob comando do governo Obama, Flournoy concebeu a política de contrainsurgência do governo, no Afeganistão. Apoiou a ‘avançada’ de tropas no Afeganistão e ajudou a traçar a política do governo relativa à ‘avançada’. Em 2009, como Subsecretária da Defesa para Políticas, também apoiou uma ‘avançada’ civil dos EUA sobre o Afeganistão, combinando ajuda econômica ampliada com pelo menos mais 400 especialistas em contrainsurgência, e duplicando a presença militar dos EUA para 68 mil soldados, ao final do ano.
Como qualquer um vê, a lista de ‘realizações’ de Flournoy () incluiu itens realmente fascinantes, que Arkady Averchenko há muito tempo descreveu em sua obra imortal “O especialista em temas militares”. Em todos os meus livros elaborei, em profundidade, o tema da “qualidade” ou, melhor dito, “da falta de (boa) qualidade”, das “elites” norte-americanas, que são horrorosamente mal educadas e subqualificadas para governar o país. Quem os conhece sabe quantos exemplos ofereço – são muitos, muitíssimos. Flournoy enquadra-se realmente à perfeição no modelo da muito ampla e abrangente incompetência militar dos EUA. E o mais recente estratagema de Flournoy é... um espanto!
A próxima chefe do Pentágono pode cimentar a já dura linha de defesa contra a China, com a sugestão de que as forças norte-americanas afirmem a própria força de contenção, com capacidade para “afundar todos” os navios chineses “dentro de 72 horas” no Mar do Sul da China.
Permitam-me ser muito claro, antes de comentar essa absoluta estupidez, que só serve, mesmo, como “Prova A” em tribunal que julgue a arrogância humana e a ausência de qualquer cultura ou estudo.
A Marinha dos EUA é muito melhor que a Marinha do Exército de Libertação Popular [ing. People's Liberation Army Navy (PLAN)]. Mesmo considerando que a Marinha dos EUA está hoje em péssima forma. Mas é melhor, não só porque a Marinha dos EUA tem submarinos que podem fazer os submarinos chineses parecer calhambeques obsoletos, nem porque a Marinha dos EUA tem maior número de porta-aviões. Nada disso.
Na Primeira Cadeia de Ilhas até essa vantagem praticamente desaparece rapidamente, porque a Marinha dos EUA simplesmente não tem sistema viável de armas adequadas para suplantar a moderna Defesa Aérea com que a China conta, e que vai de “versões” chinesas de S-300s a S-400 fabricados na Rússia. Não.
A vantagem da Marinha dos EUA está na sua história operacional e, por enquanto (estimo que ainda por uns 10, 15 anos), no nível muito alto de profissionalismo do corpo de oficiais e no ainda muito impressionante esprit de corps que se ergue sobre os pilares de uma magnífica história no Teatro do Pacífico, na 2ª Guerra Mundial.
A China simplesmente nada tem que se compare a isso e, em oceano aberto, além das linhas marítimas de comunicação [ing. sea lines of communication (SLOCs)] que já tem no Oceano Índico, a Marinha dos EUA abriria mais uma para a Marinha da China, especialmente se instalar dois ou três CBGs (Centres for Blue Governance[1]) no caso de, Deus nos livre!, a merda atingir o ventilador em quantidades bíblicas.
Mas e o Mar do Sul da China? Será que Flournoy deu-se ao menos o trabalho de examinar o mapa? Será que tem alguma ideia de como se distribuem forças navais, como interagem com forças heterogêneas como Força Aérea, forças de Defesa Aérea, como se definem e decidem-se os alvos, o quanto é preciso saber sobre... tanta coisa... Mas... esperem aí! Até os ‘mestres’ de Flournoy sabem, quero dizer... compreendem pelo menos um pouco dessa questão “secundária” com o Mar do Sul da China, porque a Ilha de Hainan tem localização tão estratégica no Mar do Sul da China, que:
Sim, entendo, ninguém ensina essas coisas em programas de Literatura nas universidades ou na Escola de Governo JFK, ok, mas, se ensinassem, já teriam providenciado e oferecido revisão séria das capacidades militares da China nessa precisa área, e de como o sistema da China supera tudo que os EUA tenham em seu arsenal para atacar ativos navais da China naquela área. Flournoy, obviamente, não compreende o conceito de “tiro(s) de ‘Alto!’” [orig. a salvo(s)] e a alocação de forças para o(s) disparar.
Obviamente, ela não compreende que os critérios de efetividade (quase sempre P(s) [probabilidade de sucesso] aplicada a P(K) [probabilidades de atingir e matar alvos]) não sejam calculados como se calculam as forças necessárias. Tenho certeza de que Flournoy lê livros ‘de guerra’ ao mesmo tempo em que redige sua tese de Literatura – sabem como é... livros tipo O Senhor dos Anéis –, mas essa senhora, evidentemente, sabe tanto de guerra moderna, quanto eu, de coreografia chinesa.
Flournoy deve realmente examinar o mapa, como espécie de ‘aquecimento’. E, servindo-se de um compasso, tentar traçar circunferências que demarquem os diferentes alcances dos mísseis chineses (e de fabricação russa) e da aviação de combate das Forças Aéreas do Exército chinês que possam ser levadas para o palco no Mar do Sul da China, no caso de os EUA decidirem cometer suicídio, “afundando em 72 horas” todos os ativos da Marinha chinesa que haja por ali.
Boa sorte nesse ‘planejamento’, especialmente porque que a Força Aérea Chinesa (PLAAF) mantém ali parte de sua bastante impressionante aviação de combate – algo que a aviação dos porta-aviões há eras já não tem tido de enfrentar. De fato, algo que já não enfrenta desde a Guerra do Vietnã. Aqui se deve acrescentar que os russos garantem aos chineses informação situacional em tempo real e... vocês podem começar a imaginar. Se algum dia os novos 3M54 russos aparecerem por lá, a taxa de sobrevivência de ativos de superfície da Marinha dos EUA cairá vertiginosamente, mas, seja como for, sabe-se lá o que a Rússia já partilhou com os chineses.
O que sei é que basta deslocar SU-35s e SU-30s chineses para esse teatro, e praticamente se acaba o problema dos CBGs (ing. Centers os Blue Governance) dos EUA (o que não significa que deixem de ser gordos e prestigiosos alvos) na área.
E eu poderia continuar indefinidamente nessa questão, mas... O que aí se vê é a (muito provável) nova Secretária de Defesa dos EUA – formada em Artes e em como “comandar” os EUA – os quais, para começar, já são incomandáveis, por definição, hoje. Assustador, hein?!
Ora! Bem-vindos ao novíssimo mundo, no qual o gênero, ou a cor da pele, são critérios definitivos para encontrar emprego. Não falo aqui de alguma ‘feminização’ de governos ocidentais. Falo de mulheres sem qualificação ou, no máximo, com qualificações muito questionáveis, serem nomeadas para posições importantes exclusivamente por serem mulheres, não por serem competentes. Claro que há muitas mulheres competentes por aí, profissionais de primeira linha, que não são nomeadas para posições políticas. Jamais, aliás, aparecerão na lista de nomeações.
Aliás... E você que achava ruim o pessoal da “segurança” nacional de Trump! Rapaaaz! Ok. Então, segure essa: leia a biografia da iminente Diretora da Inteligência Nacional, Avril Haines. Não sei como os/as profissionais russos/as conseguirão comunicar-se com ela... – talvez pedindo licença para deixar a sala de reuniões, ir até o corredor e rir às gargalhadas, antes de voltar à mesa de negociações.
Já não é mais possível ocultar a farsa da governança norte-americana. O que hoje transpira só tem um nome: plena desintegração das instituições de poder. E essa desintegração já está tendo ramificações gravíssimas. Problema extra: impossível explicar ao iminente novo governo o que se passa – não sabem sequer o mínimo necessário para ‘desconfiar’ do que ‘talvez’ esteja acontecendo. A falta de qualificação profissional é absoluta e afeta a lista toda, de cabo a rabo.
Tenho certeza de que muito trabalharão no planejamento da derrota russa e para entrarem no Kremlin em cinco dias depois do início da guerra. Ei! Por que não? Tenho certeza de que Michele Flournoy consegue até escrever um livro sobre o tema... Afinal, para que serviria seu diploma em Literatura. Tenho certeza que pode escrever um livro inteiro em 72 horas, 12 parsecs, o que inventar...*******
Car@s internacionalistas: caso queira nos indicar um ou uma companheira para integrar esta lista de artigos internacionais traduzidos pelo coletivo de tradutores Vila Vudu pode me mandar um e-mail pessoal no endereço: lejeunemgxc@uol.com.br Muito Obrigado... Prof. Lejeune
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