E´a parte que me cabe neste latifúndio: facada nas costaS é a paga do Partido dos Trabalhadores após 35 anos de militância.


Audiência do CNPIR com a Presidenta Dilma Rousseff.
Eu era um menino, um offceboy no Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), participante do Programa de Bem Estar do Menor (PROBEM) e estudante de ensino médio, quando minha professora de Matemática, sentou na mesa dos professores no Colégio Estadual Getúlio Vargas, no Saco dos Limões, Florianópolis,  para explicar para minha turma a importância da declaração de greve. Fui saber mais tarde que ela pertencia ao Partido dos Trabalhadores, presidido por um metalúrgico barbudo, conhecido como Lula. Meses antes, havia descoberto a Revolução Sandinista de 1979, e fui ao dicionário desvendar, afinal, que diabos era esse tal de socialismo. 

Em 1984, já estudante universitário fui apresentado e filiado ao PT, por minha saudosa amiga  Heliete Rouver, ambientalista na época em que o partido não tinha a mínima ideia do que era isso.
Macaé Evaristo, Secretaria da SECADI/MEC, prestigiando o VI SEREM

No mundo das correntes petistas, o trotiskismo parecia ganhar os jovens militantes anti-racistas. Primeiro a Liberdade e Luta, famosa Libelu, depois, depois de uma fantástica mobilização estudantil na Universidade Federal de Santa Catarina, a Em Tempo, que me levou ao Diretório Municipal do PT de Florianópolis, então presidido pelo Prof. Valmir Martins. Nesta época havia, assim como vários de meus colegas de geração, haviam conhecido o anarquismo, pelas mãos de um estudante de pós-graduação em mecânica, o célebre Junico, com ele José Paulo Teixeira, daí nosso envolvimento com as lutas dos mineiros e com o CEDOC .

Audiência da ABPN com o Secretário Nacif da SECADI/MEC.
De 1985 a 1988,  fundamos o Centro de Estudos de Cultura e Cidadania, CECCA, e o Núcleo de Estudos Negros, com os remanescentes do Grupo de União  e Consciência Negra de Santa Catarina, ano também da Defesa da Lei de Reserva da Informática, quando a IBM pretende realizar um acordo com o nosso conhecido Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC, de enfrentar o Governo Edson Andrino que com apoio do Movimento Ecológico Livre ( Se o mel e doce é algo que não posso afirmar , mas que parece doce, a parece) , pretendia implantar em Santo Antonio de Lisboa uma Usina de Compostagem de Lixo, enfrentar nosso adversário interno bem formadinho, o MEP, Movimento de Emancipação do Proletariado que participava da gestão Andrino na Prefeitura Municipal , e buscava monopolizar o dialogo entre a gestão e os movimentos populares.1985, também foi o ano da organização da Secretaria de Formação Política do PT, e nossos velhos sonhos de constitui-la como uma escola de organização política. Nesta época participávamos do Coletivo Socialistas Autônomos e Autogestionários, organizadores das famosas 13 Teses sobre a Autonomia, da Revista Desvios, coordenados por Eder Sader e Marilena Chauí.

Nestes anos, auge da indústria bélica brasileira (quando terceirizados pelos EUA, ajudamos a armar o Iraque contra o Irã), participamos dos esforço de luta contra o exterminismo, debatido na Europa por E.P. Thompson, Cornelius Castoriadis. !985, foi o ano que conhecemos Foucault e Roland Barthes, Marcuse e Deleuze, embarcamos no desconstrutivismo e na critica acida ao stalisnismo. 1985, foi o ano dos primeiros expurgos comandado por José Dirceu.

Na audiência do STF que aprovou a constitucionalidade das
cotas racias nas universidades . Na tribuna, o Dr Hédio Silva.
Em 1987, levamos uma baita surra em praça pública ao fechar a entrada do Banco do Brasil, em apoio a Greve Geral. Participamos com suporte finacnceiro dos meus amigos anarquista do Primeiro Encontro Nanaional de Negros e Negras do PT e com o apoio de Ivanir dos Santos, o Encontro de Negros da Região Sul-Sudeste. Naquele ano apresentei meu primeiro trabalho acadêmico no Simpósio Nacional de História, me envolvi com Encontro Nacional de Estudantes de História, e conheci meus amigos Marcelo Gentil, Lucinete Oliveira e revi Joelma Rodrigues. A Brasília de Sarney respirava a mobilização estudantil.

1988, ano das eleições municipais, apresentamos ao PT as classes populares, para desespero de alguns, a sede foi invadida por um bando de gente preta. As comunidades representadas por meu parente Carlos Cardoso, grande liderança que a violência urbana baniu do Morro da Caixa e o Movimento Negro, representado por Márcio de Souza.

No ato do Movimento Negro e Quilombola, no Planalto em
defesa da emocracia.
Com a conclusão da graduação, para surpresa de muitos, fui aprovado para fazer mestrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pelos seus critérios meritocráticos, eu o estudante mais pobre daquele grupo, mesmo tendo bolsa de iniciação científica do CNPq,não recebi as bolsas de PICDT que o Departamento de História da UFSC,  tinha direito. 

Em São Paulo, com dinheiro para pagar a matrícula e primeira mensalidade, virei professor da rede estadual , no Jardim Imperador. Problemas, não, com experiência acumulada preparamos a escola para a grande greve de 1989, contra Orestes Quércia . E nos dedicamos de corpo e alma para eleger o sapo barbudo, nosso primeiro presidente.

Nunca esquecerei a euforia que tomou conta da militância quando percebemos que podíamos vencer aqueles eleições no segundo turno. Como era lindo ver os discursos de Luisa Erundina, então prefeita de São Paulo, quantas lutas para fazer que a gestão compreendesse  a importância da agenda negra, representada na Secretaria de Cultura, na época dirigida por Marilena Chauí, pela querida Sonia Leite.

Na PUC, organizamos o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAFRO) e promovemos a emergência de uma nova forma de fazer movimento negro, a partir da dissertação de Maria Ercilia do Nascimento - A estratégia da Denuncia, sobre o movimento dos anos 1970, realizamos o Seminário Superar a Denúncia o Desafio do Movimento, na qual participaram Hamilton Cardoso, Dulce Pereira, Lélia Gonzales, Julio Tavares e Octávio Ianni, entre outros.Ali seguimos a orientação do Amilcar Cabral, e transformamos a teoria em arma e a academia em campo de luta. Naquele ano, participamos do I Encontro de Pesquisadores Negros das Universidades Paulistas, organizado pelo Professor Henrique Cunha Jr. Com essa experiência formamos uma gigantesca geração de pós-graduandos responsáveis pela criação de grande parte dos núcleos de estudos afro-brasileiros do país.

Na Campanha do Vereador de Florianópolis, Lino Peres.
Somos nós, quase todos negros petistas e acadêmicos que a frente dos NEABS e grupos correlatos, em parceira com as organizações do movimento negro participamos da elaboração da quase totalidade de políticas públicas para população negra em nosso país e para desespero de algumas, passamos a disputar os representação internacional dos afrodescendentes brasilerios nas américas e no mundo. Criamos a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, os Congressos Brasileiros de Pesquisadores Negros e mais recentemente a Associação de Investigadores Afrolatinoamericanos e Caribenhos (AINALC). Em toda parte estimulamos a criação de editais como forma de financiamento público, edital UNIAFRO, no Ministério da Educação, Brasil Afro-Atitude no Ministério da Saúde, Linha 11 do PROEXT, financiado pela SEPPIR. Estivemos com Dilma Rousseff nos momentos difíceis, sempre dispostos, como negros e petistas, a aproximar o Governo Federal dos movimentos sociais e suas agendas.

Em Porto Alegre, na vigília do Julgamento pelo TRF 4.
Meus desencontros infelizmente foram terriveis com a esquerda branca universitária, corporativista, com pouca empatia por Santa Catarina e sua gente, uma classe média interessada a usar a universidade como instrumento de ascensão e desfrute de benesses, viagens internacionais, entre outros. Por isso tinha mais empatia por um Prata ou Cancellier dos que seus oponente, muito mais com Anselmo, Sebastião, Antonio Heronaldo e Tomasi do que os chamados de "esquerda" que não tem visão institucional e capacidade dialogar com as forças plurais , presentes em nosso Estado.

É dificil imaginar minha militância fora do campo petista e do sonho de construção socialista.
Entretanto, para minha consternação, no momento que sou acusados por delações sem provas, o Partido dos Trabalhadores, a quem dediquei a maior parte da minha vida,enquanto buscam um justo julgamento para  Lula, age de modo a  exigir minha condenação, sem  levar em consideração a presunção de inocência. Enredado numa política identitária de natureza fascista, surfando na onda do ódio e traindo nossas tradições democráticas e republicanas, são parceiros de meus algozes de interesses inconfessáveis, utilizando de meios sórdidos e sem nenhum direito ao contraditório para promover um linchamento moral e minha morte civil.

Hoje dou adeus ao PT, mas não aos meus sonhos de paz, justiça e igualdade!!!!

Seguimos adiante!!!

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