Democracia e a realidade, por Cláudio Lembo
ter, 06/05/2014 - 07:25
Sugerido por Assis Ribeiro
Do Terra Magazine
Cláudio Lembo
Quando se examina o cenário político
nacional, o observador se depara com um quadro de imensa complexidade.
Primeiro, ele deseja saber que tipo de democracia se encontra presente
em nosso País.
Ai, o observador sente dificuldade
inicial. Como enumerar os elementos que compõe uma verdadeira
democracia? Constata que há liberdade de pensamento.
É um dado positivo. Todos têm opinião
própria sobre os mais diversos acontecimentos. Não há qualquer obstáculo
ao livre pensar. É conquista que, em toda a parte, custou uma
enormidade de vidas.
Surge, após esta constatação, uma nova
indagação. Apresentam-se confiáveis as informações recebidas pela
cidadania? Aqui as amostras recolhidas levam a um registro.
As informações são geradas por
centrais únicas de notícias. Basta ver as manchetes dos jornais
impressos: são iguais, apesar de originárias de redações diversas.
Claro que a cidadania, neste caso,
recebe uma versão uniforme dos fatos políticos e sociais. Isto não
permite que se instale, no interior das consciências, a boa dialética.
Só esta conduz às sínteses
individuais. Ou seja, a de cada cidadão. A uniformidade de pensamento é
maléfica em todas as atividades humanas, particularmente na política.
A política exige pluralidade de visões
do mundo. Nela nada pode se apresentar linear. Só as ditaduras contam
com o pensamento único. Fora dele geram-se as perseguições e as
conseqüentes prisões.
A essência da democracia é a
liberdade. A liberdade deve produzir pensamentos díspares. Jamais a
unicidade e a ortodoxia. Já se passaram os tempos dos dogmas.
Esta uma deficiência de nossa
democracia. A ausência de pluralidade informativa. Tudo é igual. O
pensamento único elaborado por publicitários deforma a verdade.
No passado, os teólogos impunham uma
só verdade. Hoje, são eles, os publicitários, que desejam conduzir a
vontade coletiva. Procuram alterar valores e costumes.
Às vezes agem de maneira positiva. Em
política, porém, o agir é sempre negativo. Porque distorcem a verdadeira
identidade dos candidatos. Transformam fantoches em lideres.
Criam falsas figurações da realidade
social. A partir do pressuposto de que agir, politicamente, é gerar
esperanças, produzem configurações inalcançáveis.
Os partidos políticos, por sua vez,
dentro dos costumes da democracia pátria, mostram-se incapazes de gerar
corpos de doutrina de acordo com as diversas visões da sociedade.
Todos se mostram iguais no agir e no
elaborar propostas. Os programas partidários gratuitos – no rádio e na
televisão – são pobres de conteúdo. Sempre as mesmas falas em
personagens diferentes.
Não se busca mais, na democracia
nativa, a obtenção de novos traços doutrinários e a geração de novas
idéias. Esquerda, direita e centro não diferem em nada. Um só objetivo: a
conquista de cargos eletivos.
Há crises no setor de abastecimento
das grandes cidades, especialmente São Paulo. Nenhuma análise
convincente é concretizada por parte dos veículos de comunicação ou
pelos partidos políticos.
Existe um silêncio imposto sobre a
calamidade que se anuncia: a falta de água. Os antecedentes que geraram o
atual estado de coisas não são examinados.
Certamente, em algum momento, houve
desídia. Quem a praticou? Na democracia brasileira, conduzida por
centros de inteligência altamente remunerados, as crises anunciadas não
têm autores.
É matéria abstrata. Não se insere no espaço política. Coloca-se no campo da metafísica.
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