quinta-feira, 18 de novembro de 2010

 

Palpite Infeliz - Por Cristiane Mare da Silva

Quem é você que não sabe o que diz, meu Deus do céu que palpite infeliz.
Noel Rosa

Foi um sábado desses de inspirar sorrisos, que eu e meu marido resolvemos conhecer o bar Noel Rosa, nome que dispensa apresentações e traz em si um reduto de belas memórias, mas a vida é cheia de poréns e em sua própria trama de contradições . Em nossa companhia alguns amigos de Salvador, São Paulo e Chile, acredito que o leitor quiças o conheça, esse barzinho com jeito simpático e com a foto do amistoso e digno Noel ali na travessa Ratycliff, no centro de Florianópolis, provavelmente alguns já tenham dado uma passadinha e quantos outros adentraram.
Festivamente após várias tentativas de encontrar um garçom pedimos feijoada , cerveja e dois sucos. Depois de muito riso e brincadeira e passado já meia hora abordamos o garçom, ele aturdido gritou-nos só mais um pouquinho. O pouquinho passou e nada e o nada todos sabem enche papel, contudo não enche barriga. Fomos pedir pela estimada e como resposta já devem imaginar já estão servindo, gerúndio enganoso e tardio.
Nesse meio tempo lembrei- me que o meu suco e de minha anfitriã chilena não havia chego a mesa, com fome, sede e cansaço pela espera, pois naquela altura nem mesmo o samba dava jeito, fui dar pelo meu suco .
Ao conversar com um sujeito atrás do balcão, Tristeza a minha, a comanda nunca existira, até aqui ainda que desgastante se pode reduzir os danos sabadão, quem sabe uma feijoada e samba, risos, porém cobrei pelo suco, pela dita feijoada e pelo meu direito de consumidora de um bom atendimento e de alguma agilidade nos pedidos, como cliente e pelo vínculo estabelecido entre ambos cliente e o comerciante, pagaria pelo trabalho fornecido estabelecendo assim o que chamamos na biologia de mútua relação, compraria o suco, o almoço e inclusive o direito de escutar a música, já que nada vem de graça nem o pão nem a cachaça.
Este como insultado, irado, como se só agora naquele fervilhar de negros e negras dançando, houvesse deparado com a minha vil presença, disparou com um olhar digno de um algoz
Vamos na tranquilidade, afinal você não paga as minhas contas !! E por último despejou o que eu ganho com você ?
O mesmo, meus caros, para o meu desespero e surpresa, era o sujeitinho dono do bar intitulado Noel Rosa.
Muitas leituras são possíveis desse infeliz palpite, curto e denso diálogo. Confesso que o meu desejo fora de jogar lhe o suco na cara, responder lhe de maneira grosseira e á altura de tal insulto, mas a civilidade e os visitantes que nos acompanhavam me impediram de tal atitude.
O que fica no peito é uma dor profunda e angustiante dessas tantas que eu e meus pares uma vez e outra passamos em nosso cotidiano. As conjeturas ou possibilidades são várias e me pergunto se fosse eu outro, talvez fosse outro também o desfecho desse relato, entretanto sou uma mulher dentro de uma sociedade que ainda comporta características do machismo e se não bastasse negra, e como diz a indiana Gayatri Spivak “e pode o subalterno falar?”
Assim embora professora, letrada, pertencente a classe média e com tantos outros salvos condutos cobrados pela sociedade e com a ilusão que o conhecimento me forjará como indivíduo, ratifiquei a validade de um provérbio judeu: Se você esquecer que é um judeu os outros o lembrarão quem você é.
E Noel Rosa se envergonharia de ver seu nome exposto, enxovalhado e representado por tal sujeito e de repente leitores e amantes do samba, não apenas em mim recaía o meu pensamento, a mágoa que levava no peito que me questionava e igualmente me estraçalhava e mesclava todos esses sentimentos era pensar naqueles negros e negras em sua grande maioria e em como e por quê nos acostumamos a receber tão pouco !! Como aceitamos que nos tratem de maneira tão subalterna e indigna como se o mínimo fosse visto como o suficiente aos olhos alheios, pois perplexo não é que nos tratem mal, que nos insultem, que lhe batam no rosto. O mal é aceitarmos calados, com normalidade esses maus tratos independente que ocorra consigo ou com o vizinho ao lado.
Na semana da consciência negra passado apenas uma semana do triste acontecimento estarão lá novamente samba , negros e outros bons sujeitos e o dono da casa grande que ganha, enriquece as nossas custas, lhe insulta e por fim lhe pergunta O QUE EU GANHO COM VOCÊ? Tenho convicção que não deveríamos encher o bolso de quem não nos quer bem e como diria Milan Kundera: O peso, a necessidade e o valor são três relações íntimas e profundas e volto a reinterar.
Quem é você que não sabe o que diz meu Deus do céu que palpite infeliz.
Florianópolis 17 de novembro de 2010
Cristiane Mare da Silva

Comentários:
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