Paulino Cardoso. Julius Malema e o genocídio branco na África do Sul. Blog Brasil 247, 27 de janeiro de 2025.

 



Recentemente, a comunidade internacional foi impactada por mais um espetáculo farsesco de Donald Trump, que ao receber Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, acusou o mandatário africano de ser conivente com um “genocídio branco” e de incentivar a expropriação de terras.

Agora, o mais interessante, foi que ele deu visibilidade a mais uma liderança africana, Julius Sello Malema, nascido em de março de 1981, é membro do parlamento e líder dos Combatentes da Liberdade Econômica,EFF em sua sigla em inglês, um partido político sul-africano, pan-africanista e seguidor das ideias de Steve Biko, líder do Movimento de Consciência Negra, assasinado sob tortura nos anos 1970, pelas forças de segurança do regime do apartheid. Por sinal, tal como Biko, eles também admiravam Winnie Madikizela-Mandela, ex-esposa de Nelson Mandela, outra liderança popular e radical naqueles anos de transição política.

Julius pertence a últimada fase daluta contra o apartheid, embora nascido em 1981, aos 09 anos já era filiado ao Congresso Nacional Africano, partido no qual foi direigente, como presidente da Juventude do ANC, em sua sigla em inglês, de 2008 a 2012. Expulso em 2013, no mesmo ano, fundou com outros companheiros e EFF.

Para progressistas brasileiros de origem marxista, o nome do partido pode parecer estranho, embora a agrupação considerada pela mídia corporativa internacional como de  extrema-esquerda, ele carregue os signos dos movimentos comunistas, o gestual, a boina e a cor vermelha em seus uniformes e manifestações.

Sem dúvida, a transição democrática realizada após o colapso da União Soviética e no auge do neoliberalismo, capitaneado por Bill Clinton, e seu imperialismo dos direitos humanos, sob coordenação de Nelson Mandela e Frederik de Klerk, foi realizado o sonho de “um homem, um voto” e revogada toda legislação do período dos governos de minoria branca.

Entretanto, a estrutura econômica permaneceu profundamente desigual. Até hoje, os brancos recebem salários três vezes maior que os negros, acesso a infraestrutura urbana e, ponto fundamental, 07% de brancos controla mais de 75% das terras agricultáveis. Infestada de ONGs financiadas por fundações internacionais, a resposta liberal, foi a adoção de políticas de ação afirmativa que contribuíram decisivamente para constituição de uma classe média negra, empoderada.

 Verdade seja dita, diferentes governos tentaram estimular a venda de terras por parte dos fazendeiros brancos, por meio de razoáveis indenizações. Mas, todos tiveram uma baixíssima adesão. Não por acaso, esta é a principal pauta das mobilizações ruidosas do EFF. Diante da pressão social, o governo de Cyril Ramaphosa aprovou em 2018, uma emenda constitucional que tornava possível a desapropriação de terras sem indenização. E, no ano passado, fez aprovar uma lei regulamentando aquele preceito constitucional.

É justamente esse ponto que Donald Trump, estimulado por Elon Musk, hoje estadunidense de origem sul africana, se apega. A reforma agrária contribuiria decisivamente para a superação de 500 anos de dominação ocidental na África do Sul, demanda cujos os Combatentes da Liberdade Econômica são um dos mais importantes porta-vozes. 

Para o ANC de Cyril Ramaphosa, participar dessas mobilizações é fundamental para reverter as quedas de popularidade do partido, que se refletem em perdas de intenção de votos desde a segunda década do século. E que tem favorecido os novos partidos críticos da da ordem como o umKhonto we Sweezy, nome do antigo braço armado do ANC, comandado pelo ex-presidente Jacob Zuma, e o EFF, de Julius Malema.

Voluntária ou involuntariamente, Donald Trump, não apenas contribuiu para dar visibilidade a luta pela terra na África do Sul, mas lançou internacionalmente mais uma jovem liderança africana que, juntamente com Ibrahim Traoré, de presidente de Burkina Faso, estão construindo uma alternativa pan-africana, radical e democrática no continente!!! 


Paulino Cardoso, doutor em História e analista geopolítico.


Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Julius_Malema

Publicado originalmente no Blog do Brasil 247
https://www.brasil247.com/blog/julius-malema-e-o-genocidio-branco-na-africa-do-sul

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