REINVENTAR A ESQUERDA: COMBATER A CULTURA FASCISTA!!!







Bom dia a todos e todas, uma das vantagens de estar banido da vida pública, ou seja, de estar literalmente entre os iguais (tenho pouco contato físico com pessoas e minha vida se resume ao bairro onde moro, por razões políticas e médicas (sou estabilizado todos os dias com Duloxetina e durmo com Trazodona combinada com Valeriana composta, fora o Aprazolam para emergências e terapia toda semana) posso mirar o mundo a distância, exercendo o famoso ponto de vista arquimediano (olhar o mundo como se estivesse fora dele).

Muitos, como eu,tem razão por estarem tristes, afinal não temos ideia da extensão da noite de São Bartolomeu que se abateu sobre nós e contaremos nossas perdas em corpos e destruição de direitos.

Entretanto, como diz Cristiane Mare da Silva, citando a Monja Cohen, as desilusões nos aproximam da verdade. E o que quero evidenciar aqui, é que os "progressistas" estão provando do próprio veneno, pois, partilham com os bolsonaristas a mesma lógica de ação, os mesmos instrumentos de combate sem o apoio de Steve Bannon e da Cambridge Analytica.

Minha tragédia pessoal não foi produzida por nenhum ataque conservador, bem pelo contrário, foram as forças "progressistas" de Santa Catarina, manipulando política de identidades, que me transformaram em símbolo do mal absoluto, contra quem poderia se aplicar a justiça do inimigo e a quem todas as garantias republicanas (justo processo legal, presunção de inocência, direito ao contraditório, etc) estavam suspensas. Colocaram para mim o suicídio, esse meu companheiro, como única alternativa frente a dor, ao roubo de minha identidade como pessoa.

Para meu sofrimento, os mesmos que lamentaram a prisão de Lula e choraram a morte de Marielle Franco, colocaram em risco minha família (companheira, filhos, irmãos e sobrinhos), minhas alunas e partiram para a intimidação de qualquer pessoa que ousasse não fazer parte da narrativa, ou mesmo, formular perguntas incômodas. Foram assediadas, difamadas, até se deixar cooptar ou serem silenciadas. Afinal, no Games of Thonnes, o medo corta mais que as espadas!! Como diz uma aluna minha, "Profi cassaram minha carteirinha de feminista."

Meus/minhas algozes estão enredados em uma teia de mentiras tão grande, que não tem outra saída senão produzir mais e mais mentiras.Manipulam ideias sexistas e racistas para paradoxalmente bradar a favor do feminismo e o antirracismo. Historietas sem pé e nem cabeça que não pararam em pé diante do bom senso e isenção de profissionais do judiciário (policiais, promotores e juízes). A verdade, nesta história foi a primeira a ser assassinada.

E que diga Fabio Dias, coordenador de Promoção de Igualdade Racial de Florianópolis, que está experimentando a mesma máquina de assassinato de reputação movida pela malta identitária e os falsos profetas do antirracismo e feminismo.

O que quero chamar a atenção, é que no Brasil atual, esquerda e direita, com as exceções de praxe, partilham de uma cultura fascista, pacientemente construída ao longo das últimas duas décadas. Como disse Steve Bannon, primeiro se muda a cultura e depois mudamos a política.

Esta esquerda branca, de classe média e universitária, suas formas de mobilização, não são capazes de refletir sobre si mesmas, e se perguntar onde foi que erramos?

Com FHC comíamos mais iogurte e frango, com Lula e Dilma, carro, casa, linha branca, viagens, perfumes e objetos de luxo a prestação. Em um e outro, a cidadania foi reduzida em poder de consumo.

Diferente de outros países, Venezuela e Nicarágua, por exemplo, a ascensão do Partido dos Trabalhadores não significou uma intensificação da capacidade de mobilização da classe trabalhadora brasileira, bem pelo contrário, com exceção do MST e MTST, implicou numa política de desmobilização e cooptação de poodles, bichinhos de estimação representantes de setores populares que não ofereciam riscos a hegemonia do grupo no poder.

Era um governo para nós mas não conosco!!! Não por acaso, aqueles que nos matamos para explicar a necessidade do recorte racial na formulação da política pública, são os mesmos que cobram o voto dos negros e pobres no candidato do PT (Oh, inconscientes, ingratos!!!)!!

Construí minha educação política sob a batuta da Dona Dulce Rita Cardoso, minha mãe que nos contava histórias sobre os tempos da escravidão e da luta pela manutenção das terras quando chegaram os imigrantes europeus no sul de Santa Catarina. Com ela aprendi, o valor do trabalho duro, a importância da educação e a entrega a vida solidária.

Mas foi na Teologia da Libertação, presentes na Comunidade do Morro da Caixa, sobre liderança de Carlos Cardoso e Vilson Groh, no Grupo de União e Consciência Negra e na Pastoral de Juventude, que aprendi o velho e bom ver-julgar-agir, ou seja, desenvolvi a capacidade de articular a teoria e pratica política adensada numa fé inquebrantável na capacidade dos pobres de Cristo de emancipar a si mesmos e neste processo tornar melhor a vida de todo mundo. Viva o eterno Vico.

Eu acreditei e participei intensamente da transformação de demandas populares em política públicas, por meio da criação da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e do Consórcio Nacional de Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, nós tornamos os pesquisadores universitários em um player político invejável, na parceira com as organizações nacionais do movimento negro e planejávamos uma atuação no hemisfério ocidental, Sul Global e no Mundo.

Entretanto, minha desilusão, principalmente com o Governo Dilma, me levou repensar meus projetos e me levaram a mover-me em direção aos miseráveis.

Quando a Prof.a Geysa Abreu (intimidação funciona, né FAED/UDESC?), chegou em minha sala pedindo apoio para uma ideia maluca, levar o vestibular da UDESC para o sistema carcerário de Santa Catarina, eu vi na proposta uma oportunidade maravilhosa, e rapidamente transformamos no de extensão Novos Horizontes, uma experiência fantástica baseada na mobilização de professores, alunos, apenados, diretores, juizes, promotores,em torno de um sonho: viver!!

Quando a tormenta se abateu sobre minha vida, estávamos dialogando com Cristiane Mare da Silva, que liderava o Grupo de Estudos Sobre Feminismo Negro do NEAB/UDESC e o grupo Pretas em Desterro, para aceitar o desafio colocado pela Gerência de Educação do DIAPE/SJC, de tornar concreto o acordo de cooperação entre o Governo de SC e o Ministério da Justiça, de atendimento as mães apenadas a serem beneficiadas com progressão de pena para cuidar de filhos pequenos ou com deficiência.

Em minha opinião, todo o obstáculo trás dentro de si uma oportunidade. A vitória da ultradireita nas eleições de outubro, nos permitirá reelaborar nossa prática, nossos modos de atuação e mobilização.
Só um choque de realidade poderá furar a bolha da realidade alternativa em que vivem os brasileiros mobilizados por B17. A política contemporânea não se fará com política identitária, manifestações de rua e práticas pseudo libertárias.

Temos que voltar a ocupar um lugar na vida das pessoas, ensinando e aprendendo pelo exemplo em experiências comunitárias e isonômicas (colocando-se numa condição de não mando, sendo capaz, de modo sempre respeitoso, de vestir as sandálias do outro, como dizia Nelson Mandela, mesmo os inimigos mais mortais devem se respeitar), afinal, como diria Paulo Freire, cito de memória, pessoas ensinam pessoas, pessoas aprendem com pessoas. Ou melhor, diria Antonieta Antonacci e Yara Aun Khoury, inspiradas em E.P. Thompson,lá nos finais dos anos 1980, pensar e agir são dimensões de uma mesma prática.

Que a derrota nestas eleições nos ensinem a todos e todas a enfrentar o fascismo que há em nós, nossos sexismos, nosso racismo e outros ismos, só assim reinventaremos a esquerda e ligaremos ao sonho da emancipação da humanidade!!!

Comentários