Quantum Bird. Irã vs EUA + Israel: Impasse estratégico? Comunidad Saker Latinoamérica, 24 de junho de 2025.

 

Irã vs EUA + Israel: Impasse estratégico?

Quantum Bird – 24 de junho de 2025

Apesar da névoa pesada de guerra ainda prevalente, incluindo a batalha ferrenha de narrativas e a proliferação de notícias falsas, deixando-se de lado detalhes táticos menores, última rodada de ataques e contra-ataques entre Irã, Israel e EUA pode ser resumida da seguinte forma:

1- Irã continuou lançando mísseis — alguns hipersônicos incluídos — e drones mirando a infraestrutura militar, industrial e energética de Israel. Os ataques iranianos foram organizados em ondas, provavelmente de modo a permitir que a configuração dos salvos — população de especies diferentes de vetores de ataque — fosse calculada de acordo com modelos autoadaptativos e probabilísticos usando os datasets adquiridos nas ondas anteriores. Isso permitiu uma eficiência de ataque que levou efetivamente ao colapso da defesa antiaérea de Israel e seus aliados.

2- Israel continuou sua tática de atingir o território iraniano com sabotagens, misseis e drones, lançados da fronteira e de dentro do próprio território iraniano, sem alcançar nenhum sucesso militar — ou político — estratégico. A estratégia israelense falhou em grande parte devido ao desmonte sucessivo da rede de colaboradores, traidores e infiltrados em território iraniano.

3- Após uma escalada de ameaças e ultimatos feitos pelas autoridades estadunidenses, os EUA transferiram uma força militar massiva naval e aérea para a região e atacaram com bombas “bunker-buster” – GBU-57 – e misseis de cruzeiro as instalações de enriquecimento e geração de energia nuclear iranianas em Fordow, Natanz e Isfahan. Os dois últimos alvos já haviam sido atingidos por ataques israelenses.

4- O Irã retaliou o ataque estadunidenses bombardeando as bases militares dos EUA no Qatar, Emirados Árabes e Iraque.

5- Cessar-fogo foi anunciado pelas autoridades estadunidenses.

Análise

Os pontos listados anteriormente estão conectados com uma miríade de fatos e nuances que indicam fortemente que o ataque dos EUA às instalações de processamento de combustível nuclear iranianas, e a retaliação sucessiva pelo Irã, foram atos amplamente coreografados. O objetivo seria abreviar a escalada de agressões, evitar a devastação completa de Israel, e, acima de tudo, evitar o engajamento dos EUA e Israel em uma longa guerra de atrito contra o Irã. Em todos os casos, a generalização do conflito na região era inevitável. Seja pelo uso de artefatos nucleares por Israel contra o Irã, ativando uma potencial resposta paquistanesa, ou pelo fechamento, do estreito de Hormuz, com consequências devastadoras para o mercado de energia global, em particular para o ocidente, visto as restrições em vigor contra a importação de energia da Rússia.

A despeito da retórica triunfalista estadunidense sobre a destruição do programa de processamento de combustível nuclear iraniano, a efetividade dos ataques contra as instalações iranianas permanece em dúvida. Trata-se de instalações altamente fortificadas, e instaladas profundamente no terreno, sob dezenas de camadas de rocha sólida e concreto. Note-se ainda que as autoridades iranianas continuam emitindo declarações ambíguas, investigando indefinidamente as consequências dos impactos. Como Amwaj reporta — traduziremos nas próximas horas — as autoridades iranianas foram avisadas com antecedência sobre os ataques e tiveram tempo para evacuar recursos valiosos dos sites, incluindo o seu estoque de urânio enriquecido acima de 50%.

Por outro lado, as bases estadunidenses atacadas pelo Irã foram totalmente evacuadas nos dias anteriores ao ataque. O Irã tinha outros alvos totalmente comissionados na região para atacar — base na Arabia Saudita, por exemplo — ou mesmo os recursos em Diego Garcia e inúmeras embarcações na região.

Tudo somado, este arranjo permitiu aos EUA declarar a destruição do programa de processamento de combustível nuclear iraniano, removendo o “casus belli” unilateral de Israel contra o Irã, e permitiu ao Irã conservar seus recursos de enriquecimento. Os EUA ganharam ao evitarem seu envolvimento em uma guerra de atrito na região que levaria provavelmente ao seu colapso financeiro no curto prazo. Todos os atores podem agora declarar vitória.

O Irã emergiu do conflito com uma estatura estratégica superior e o regime da República Islâmica saiu fortalecido — o país se uniu sob a autoridade do Aiatolá Khamenei e as redes de traidores e infiltrados foram expostas. Além disso, o Irã demonstrou a capacidade de impor uma guerra de atrito convencional que Israel e os EUA não podem suportar, e encurralou ambos contra o muro das armas nucleares, ou seja, sem controle de escalada. O mais importante é que a rescisão da adesão ao NPT e a revogação a fatwa que proíbe desenvolvimento de armas de destruição em massa — em outras palavras, bombas atômicas — permanecem como recursos estratégicos reservados. Ambos poderão ser mobilizados no futuro, se necessário, pois a República Islâmica conservou seus status como uma nação no limiar nuclear.

Em suma, a grande guerra foi adiada e o Irã venceu por uma larga margem a última batalha.

As relações do Irã com os estados do Golfo Pérsico permaneceram estáveis, mas as relações com os BRICS, principalmente, com a Rússia, serão seguramente alvo de escrutínio detalhado pelas autoridades iranianas. Examinaremos este tópico em um artigo separado.

Fonte original: https://sakerlatam.blog/ira-vs-eua-israel-impasse-estrategico/

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