Cristiane Mare da Silva. Notas sobre cultura totalitária. 13.09.2020.

Espero não ser mal interpretada, mas hoje diante a escuridão em que vivemos, e ao vislumbrar tempos ainda mais difíceis, há dias que eu penso: prefiro lidar com os bolsominios, primitivos, grotescos, escandalosos, mas pelo menos com eles eu sei por onde ir, pois declaram o quê pensam sem tramelas na língua, não mentem, pelo contrário, utilizam se de um vocabulário profundamente adequado a suas ações identitárias, punitivistas, moralistas apoiados a ideia que representam o cidadão de bem. 
Logo, temos uma segunda parcela dessa sociedade brasileira, que a partir dos manuais de etiquetas sociais aprenderam que há coisas que não devem declarar no espaço público, pois não soa bem, são bonitos, se vestem bem, portadores quase sempre de uma cultura erudita, de modo geral silenciam, estão sempre em cima do muro, e afirmam que política é suja, portanto, não se metem com ela. Afirma que todos temos direitos iguais, dentro desse escopo universalista liberal, na prática são: moralistas, punitivistas, racistas e sectarios. 
Entretanto, temos ainda uma terceira parcela, essa se diz portadora dos valores e letramento capazes de proporcionar uma transição entre esses conflitos culturais ou projetos políticos, baseado em um certo humanismo, valores democráticos, constitucionais, direitos humanos de todas as vanguardas, porém apenas para os amigos. Pois se você for um inimigo, portanto se for racializado transforma se no outro absoluto, o quê vale então são as políticas da inimizade: linchamento, a prisão sem provas, o punitivismo, o poste, não há espaço para o diálogo e tampouco para a dúvida, profundamente enredados em valores moralistas bastião da cultura capitalista, não por acaso colonial, cristã e burguesa podem assim destruir o outro, sem serem questionados. Afinal, estão ungidos por valores que estão acima do bem e do mal..
Logo, como os demais grupos banalizam o mal e o praticam sem limites, em um e outro não há espaço para a política, apenas para certezas escravos de suas paixões. Então, eu adoraria poder afirmar que existe o bolsonarista e esse outro (sujeito ético, antirracista, denscontruido), mas infelizmente eu vejo como estamos todos enredados a esse Outro, presos as mesmas estruturas Psquícas e Sociais, o quê muda não é a prática, mas o vocabulário, um jogo semântico, que portanto altera a linguagem no campo simbólico, mas não na sua estrutura de pensamento, bases para uma transformação cultural e econômica. Tanto que se nos olharmos bem fundo no espelho, talvez nos asustariamos com aquilo que somos e não com nossas próprias projeções.
Palhoça, SC.

Comentários

Anônimo disse…
Bem dito, reflexão bastante contundente acerca dos dias de hoje, são escórias fingindo serem good Folks.
Maria Ermandina Cardoso disse…
Realmente estamos nesta situação do outro. Nossa caminhada continua na luta por igualdade com equidade, justiça. Continue escrevendo.